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EDITORIAL

Trump volta à carga contra os imigrantes

Por Gleice Barros do ABC, SP

 

Ao começo de seu mandato, Trump anunciou um decreto para impedir a entrada de imigrantes de sete países árabes aos Estados Unidos, mas foi parcialmente derrotado pela ampla mobilização popular e pela decisão judicial que anulou a medida.

Nesta terça-feira, 21, voltou à carga por intermédio do Departamento de Segurança Doméstica e anunciou ações para aumentar as restrições e facilitar a deportação de imigrantes ilegais do país.

As deportações que antes poderiam acontecer para imigrantes ilegais com até duas semanas de permanência sem explicação e, principalmente para aqueles que tivessem cometidos crimes graves, como homicídios, estupros e fraudes, agora deverão ser realizadas para aqueles que não comprovem permanência constante no país nos últimos dois anos e que tenham sido acusados (não condenados) de ter cometido qualquer tipo de crime como, por exemplo, uma infração de trânsito.

Isso na prática aumenta exponencialmente o número de imigrantes que correm o risco de serem deportados sumariamente sem processo legal do país pela chamada remoção expressa.

A ideia é enviar todos os imigrantes para a fronteira com o México, onde aguardariam o andamento de seus processos. Este procedimento também é diferente do que vinha sendo adotado até aqui. Durante governo Obama, os imigrantes que faziam travessias ilegais eram acolhidos e aguardavam o processo dentro dos EUA.

A ideia do governo Trump é aumentar o investimento para contratação de milhares de agentes de imigração e fiscalização de fronteiras, além de avançar no projeto de construção do muro na fronteira com o México em três estados (Califórnia, Arizona e Texas).

 

Os imigrantes nos EUA

 

Números de 2015 apontam a existência de 42,1 milhões de imigrantes nos EUA, sendo a maioria de origem mexicana e latino-americana, desses 11 milhões estariam sem documentação. Donald Trump já expressou desejo de deportar entre 2 e 3 milhões, que seriam aqueles que teriam cometido algum tipo de crime. Porém este número somaria também imigrantes com documentação em dia.

Somente em 2016, 58% dos pouco mais de 240 mil deportados tinham cometido algum tipo de crime. Apoiadores de Trump e sua política dizem que a medida impede que os imigrantes continuem a ocupar vagas de trabalho que são de americanos, drenem os recursos públicos, além de impedir que burlem as etapas para emissão de vistos.

 

O que pensam os imigrantes?

 

Os reflexos dessa nova política federal já são sentidos nas comunidades hispânicas por todo o país. De acordo com matéria publicada no The New York Times já existe uma movimentação dos hispânicos para se esconderem, tirarem os filhos das escolas – em algumas áreas da Califórnia, 75% dos filhos de imigrantes foram retirados das escolas –  e evitarem sair às ruas para buscar assistência médica ou comprar alimentos.

A primeira reação de muitos imigrantes ilegais ou não foi a de se esconder dentro de suas casas, com muito receio de que os agentes de imigração cheguem a suas portas para expulsá-los do país.

A maior preocupação é com os filhos trazidos ao país ainda muito pequenos. Muitos pais têm procurado assistência jurídica para saber o que vai acontecer aos filhos e quais medidas adotar para impedir que sejam mandados para orfanatos e assistência social, caso os pais sejam deportados.

Existem também os chamados dreamers, os imigrantes trazidos ao país ainda muito jovens que hoje são adultos. Para todos estes jovens e dreamers, Trump afirma que ainda vai pensar o que fazer exatamente com eles e que vai cuidar “muito, muito bem” deles. Mas pelas repercussões do tema e pelas reações desde a eleição de Trump é muito possível que haja um outro momento de resistência organizada contra os ataques.

 

Reação mexicana

 

Nesta quarta-feira (22), o ministro de relações exteriores mexicano, Luis Videragay, afirmou, horas antes de receber o secretário de Segurança Doméstica Americana, que o México não aceitará “decisões impostas de forma unilateral por um governo a outro”. Uma clara referência ao anúncio realizado sobre o tema da imigração. Aparentemente a preocupação mexicana é sobre o que irá ocorrer caso haja deportação de não mexicanos para o país.

Em resposta, o próprio secretário americano, John Kelly, afirmou nesta quinta (23) que não haverá deportação em massa e que as forças armadas americanas não participarão das deportações. Por fim, completou que todo o procedimento era realizado de maneira “legal com respeito aos direitos humanos”.

Ainda na quarta-feira (22), a Anistia Internacional divulgou relatório em que afirma que vários líderes são considerados perigosos para os direitos humanos, dentre eles, o presidente Donald Trump. Segundo relatório, “a retórica de campanha venenosa de Donald Trump exemplifica uma tendência global em direção a uma política mais sectária e raivosa”.

 

O ataque frontal de Trump aos imigrantes poderá gerar uma reação muito grande, pois atinge milhões de pessoas. E as mobilizações desde a eleição de Trump mostraram que há um grande apelo pelo tema. Em particular na Califórnia que possui um grande percentual de imigrantes latinos. E no México as repercussões serão muito amplas também, ainda mais que o país já vive uma grande crise econômica e política.