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CULTURA

Pré-estreia do curta “Nós, Carolinas”: um filme sobre as mulheres da periferia, sem estereótipos, para assistir no dia 8 de março

Leandro Olimpio, de Santos.

Mais de trinta anos atrás, os documentários brasileiros que buscavam retratar as desigualdade sociais do país e as mazelas do povo pobre receberam uma dura crítica de Jean-Claude Bernardet – um dos principais estudiosos do cinema nacional. Para ele, a maioria das produções realizadas até o início da década de 1980 poderia ser classificadas como de modelo sociológico”.

Por muitos anos, sobretudo nas décadas de 1960 e 1970, prevaleceu entre os documentaristas brasileiros a utilização de personagens das periferias como uma amostragem daquilo que o cineasta acredita ser justo ideologicamente. Isso também se estendeu aos trabalhadores do campo, aos nordestinos e à classe trabalhadora industrial. E por melhor que fosse a intenção do diretor, por mais à esquerda que fosse sua ideologia, ainda assim era autoritária e unilateral. Talvez venha daí a repulsa de Eduardo Coutinho, maior cineasta brasileiro do real, por filmes ideológicos.

Na Galeria Olido, que fica na capital paulista, acontecerá no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher – a pré-estreia de um documentário que simboliza o esforço uma nova geração de cineastas de superar essa característica dos primeiros documentários nacionais.

Consciente ou não desta definição de Bernardet, preocupado ou não com este debate, o filme Nós, Carolinas– realizado pelo coletivo Nós, mulheres da periferia – tem como proposta subverter este tipo de cinema. Um cinema que, nas palavras do crítico, usa os entrevistados para chancelar a autenticidade de sua visão de mundo. Nesses filmes, o que dizem os entrevistados terá que se encaixar no universo delimitado pelo cineasta. O que não se encaixa é descartado, as contradições são anuladas.

O filme nasceu de um projeto que combate justamente essa abordagem. As mulheres escolhidas como personagens fizeram parte do projeto Desconstruindo Estereótipos, realizado pelo coletivo em 2015, durante oficinas sobre a representação das mulheres moradoras das periferias na grande mídia. No final do mesmo ano, o coletivo lançou no Centro Cultural da Juventude (CCJ) a exposição multimídia Quem Somos [Por Nós], que incluiu uma série de entrevistas, a partir das quais, como uma segunda etapa deste projeto, foi criado o documentário.

Este é o primeiro documentário realizado pelo grupo e apresenta vivências de mulheres moradoras de quatro regiões diferentes da capital paulista. Ao assistir o filme, o público irá transitar entre bairros e experiências de vidas relatadas em primeira pessoa. Racismo, solidão, maternidade e a busca da autoestima são alguns dos temas levantados sobre as condições de ser mulher, negra e periférica. As entrevistadas, que têm entre 18 e 93 anos, embora possuam trajetórias diferentes, estão conectadas por elementos cotidianos, como os impactos do machismo e desigualdades raciais e sociais ainda presentes no Brasil.  

A nossa proposta foi de ouvir e partilhar histórias pessoais que são ignoradas ou desvalorizadas. Para nós, o processo de empoderamento passa necessariamente pela ocupação do lugar de fala. E a nossa busca é não nos acomodar em rótulos, estereótipos, reconhecendo  a diversidade do universo feminino nas periferias, explica Bianca Pedrina, jornalista e cofundadora do Coletivo Nós, mulheres da periferia.

Ou seja, não se trata, portanto, de adotar uma postura aparentemente imparcial diante dos relatos, um simples registro do verbo. Pelo contrário, absorver as contradições que colocam abaixo qualquer tipo de enquadramento ideológico é uma escolha política.

O nome Nós, Carolinashomenageia Dona Carolina, uma das entrevistadas e personagem do documentário, e faz menção honrosa à escritora Carolina Maria de Jesus, autora do célebre livro Quarto de Despejo o Diário de uma Favelada.

Após a pré-estreia, o coletivo realizará um circuito de exibição do documentário em diferentes regiões da cidade, incluindo Cidade Tiradentes e Guaianases, na zona leste, Parque Santo Antônio, na zona Sul; Jova Rural, zona norte e Perus, região noroeste, os bairros das protagonistas Carolina Augusta, Joana Ferreira, Renata Ellen Soares e Tarcila Pinheiro.

Serviço:

Pré-estreia do documentário Nós, Carolinas

Data: 8/3, às 19h.

Local: Galeria Olido –  Av. São João, 473 Centro, São Paulo

Circuito

11/3 Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes Cidade Tiradentes

16/3 CIEJA Campo Limpo Parque Santo Antônio.

18/3 –  Biblioteca Cora Coralina Guaianases

24/3 Biblioteca Padre José de Anchieta Perus