Por Jorge Badaui, do Rio de Janeiro, RJ
Uma primeira análise de como votaram os deputados na Alerj em relação à venda da CEDAE pode ajudar a compreender como a manobra de Jorge Picciani, presidente da casa, conseguiu formar uma maioria – que até então não era garantida – pela autorização da venda da empresa.
O governo alcançou 41 votos a favor da privatização, superando os 36 necessários para passar a proposta. Sete dos 23 partidos representados na Casa votaram com suas bancadas divididas: DEM, PDT, PR, PRB, PT, PTN e SD. A maior bancada da Alerj é do PMDB, partido do governo, com 14 deputados. Até semana passada, não havia segurança de que a bancada do PMDB também não se dividiria. Na votação, no entanto, foram 14 votos a favor da venda. Ganha o prêmio quem adivinhar como tal operação foi feita pelo governo.
A semana que antecedeu a votação foi marcada por uma intensa distribuição de cargos da Administração Estadual em favor, sobretudo, de deputados, aliados locais, parentes e assessores do PMDB. A fartura da oferta foi tamanha que, na ânsia por garantir a todo custo a votação, foram nomeados até cargos em pastas que haviam sido extintas. Um frenesi de toma lá, dá cá. Nada de novo no front.
Mas o que chamou atenção mesmo foi o voto de um deputado petista em favor da privatização da CEDAE. Enquanto militantes daquele partido se somavam às manifestações contrárias ao pacote do governo, o senhor André Ceciliano não tremeu a mão e mostrou, mais que seu voto, um alinhamento total com a receita de Pezão para a crise do Rio. Em entrevista ao portal G1, declarou sem meias palavras: “votei consciente e votaria de novo”.
Natural de Nilópolis, André Ceciliano foi, por dois mandatos, prefeito do município de Paracambi, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Elegeu-se pela primeira vez deputado estadual pelo PT, em 1998. Após retornar, em 2005, à prefeitura de Paracambi, devido à cassação por compra de votos do prefeito eleito, candidata-se novamente, em 2010, a Alerj, tornando-se 1o suplente de deputado estadual. Retorna ao cargo por efeito da nomeação do então deputado Carlos Minc (PT) para a secretaria de Meio Ambiente do Estado. É reeleito em 2014 e, no fatídico 20 de fevereiro último, colabora com Pezão e Picciani votando pela venda da CEDAE.
Frente a reação indignada de militantes petistas com sua conduta parlamentar, não demonstra remorso: “A questão é prática: a situação financeira do estado do Rio é desesperadora e temos que tomar medidas rápidas para resolvê-la o quanto antes. A alienação das ações da Cedae é o que temos mais à mão”. Tal e qual o discurso do PMDB, Temer, Pezão e Picciani, para Ceciliano medidas como o cancelamento das isenções e cobrança da dívida ativa das empresas com o Estado não estão “à mão”. É que a mão desses senhores só é capaz de golpear servidores e o povo trabalhador, jamais os intocáveis interesses de grandes empresas e corporações.
O presidente do PT-RJ, Washington Quaquá, já tratou de lançar panos quentes à situação. Segundo ele, Ceciliano cometeu um “erro político”, mas – o que fazer? – “foi leal ao PT nos momentos mais difíceis”. Impressiona que o dirigente não pense que a lealdade com a luta dos cedaianos e servidores, que passam por um momento dificílimo, seja critério de conduta para um parlamentar de seu partido.
O voto de André Ceciliano reafirma a necessidade de unificar todas as forças da classe trabalhadora para derrotar o ajuste fiscal e os governos que o aplicam, sem que isso signifique adiar a tarefa de forjar uma nova alternativa política para os trabalhadores. Convém lembrar que, se é verdade que os outros 3 deputados petistas votaram contra a venda da CEDAE, por outro lado, há algumas semanas, ajudaram a reeleger Jorge Picciani à presidência da Alerj – precisamente quem executou a manobra que resultou na votação a toque de caixa da privatização da empresa. Portanto, de conjunto, a bancada do PT tem sua responsabilidade na aprovação das medidas do pacote de Pezão, na medida em que emprestou legitimidade ao homem que, dentro da Alerj, está encarregado do serviço sujo.
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