Por: Eliana Penha, de São Paulo, SP
As mulheres por séculos vivem uma situação de opressão, em casa, pelos familiares, pai, tios, irmãos, avô e até mesmo pelas mulheres da família que reproduzem o machismo. Fora de casa a situação continua, na escola, professores, assim como os demais funcionários, agem com machismo e as professoras e demais funcionárias acompanham, reproduzindo-o. No trabalho, os chefes se utilizam da sua posição para oprimir as mulheres e, assim, mantê-las no seu devido lugar. Quando a chefe é mulher, na maioria das vezes, ela reproduz o machismo.
É importante, no entanto, explicar que as mulheres, mesmo as de uma posição social supostamente acima, não são machistas, mas reproduzem o machismo. Isso porque não são homens, portanto não podem ser machistas diretamente.
E as mulheres, como se sentem? Quanto o machismo é prejudicial na autoconfiança das mulheres? Quanto o machismo inibe a formação de lideranças no movimento organizado de trabalhadores/as? Quanto o machismo mina a participação ativa das mulheres em sindicatos e partidos políticos?
Bem, somente as mulheres podem responder a estas e outras tantas perguntas. O fato é que quando uma mulher nasce, principalmente se for da classe trabalhadora, ela já carrega um fardo que herda de sua mãe, avó, bisavó, entre outros. Na infância, enquanto os meninos ganham bolas e bicicletas, a maioria das meninas ganha bonecas, panelinhas e utensílios domésticos de brinquedo. Aos meninos, bem cedo, é apresentada a rua, as brincadeiras esportivas. Às meninas, o brincar de casinha, de maquiar a si mesmas e as bonecas. Os meninos podem andar sem camisa, sentam-se da forma que acham mais confortável. As meninas andam sempre vestidas e alguém sempre as lembra de sentarem-se com as pernas fechadas.
Quando vão à escola, as roupas usadas por meninos não sofrem críticas, enquanto as meninas são recriminadas se estão de mini-saia, calças justas, blusas curtas, ou transparentes. A alegação para tal discriminação é sempre a mesma: com esta roupa os meninos vão mexer com vocês, como se a roupa desse um passaporte livre ao corpo das meninas.
Chegando à adolescência, meninos podem sair, namorar, passar a noite fora, transar, enfim, fazer tudo o que gostam e continuarão a ser tratados da mesma forma, ao passo que as meninas, se tiverem o mesmo comportamento, são apontadas como merecedoras de serem estupradas porque não se deram ao respeito.
Quando começam a trabalhar fora de casa, as mulheres, que já foram oprimidas pela família, escola, igreja, passam a ser oprimidas também pelo patrão, além de serem exploradas. Daí para se rebelarem e lutarem por seus direitos é muito mais difícil do que para os homens. As mulheres não têm confiança no sindicato que é dirigido por homens e quase nunca apresentam pautas feministas, pior que isto, não se sentem confortáveis em mudar sua situação através da luta, porque foram ensinadas desde cedo que a luta fora de casa não é o seu ambiente, foram ensinadas a obedecer, a deixar pra lá, a dar graças a Deus de ainda terem um emprego.
Mas, às vezes, esta lógica é a duríssimas penas, quebrada. A mulher se organiza, vai para o sindicato, partidos políticos e, mais uma vez, apesar do imenso esforço e coragem, se cala quando sente que não é ouvida, que sua opinião raramente é aceita, que seu medo de falar em público não é considerado, que seus companheiros não consideram toda a bagagem negativa de sofrer machismo uma vida inteira, que nada disso é levado em conta. E mais uma vez a mulher recolhe-se à sua existência e deixa de falar no assunto para não ser apontada como a vitimista, a fraca, a que quer chamar atenção, a que se utiliza do feminismo para prejudicar os companheiros, a que não se esforçou e por isso não conseguiu cumprir uma determinada tarefa e uma longa lista de exemplos.
Isto tudo é extremamente prejudicial à classe trabalhadora como um todo. Trotski, Lênin e Marx já diziam que não existirá revolução socialista sem as mulheres, que são metade do gênero humano. Por isso, não podemos esperar que o combate efetivo contra o machismo se dê somente após a revolução socialista, é preciso travarmos uma batalha sem trégua contra este câncer que divide nossa classe e só favorece a burguesia, que se aproveita dele para nos explorar cada vez mais.
Este combate se dá nas menores atitudes, como ouvir com atenção as companheiras, entender a carga de machismo que já sofreram por uma vida inteira, compreender que a dupla jornada é um fato real, que é muito difícil que as mulheres rompam a situação de machismo que vivem em suas relações familiares, enfim, compreender que, às vezes, até mesmo por uma questão física, como é a tensão pré-menstrual, as mulheres ficam mais sensíveis e não desempenham atividades que para os homens são muito tranqüilas, de maneira satisfatória.
É preciso que os companheiros reflitam sobre o tema e compreendam que o que as mulheres querem é tê-los como companheiros, lutar ombro a ombro com eles, para somente assim construirmos um mundo socialista, no qual sejamos de fato iguais, sem deixar nossas especificidades de lado.
Por: Marcelo Camargo/Arquivo/Agência Brasil
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