Por Eliana Lacerda, presidente da FNTIG, Belo Horizonte, MG*
A origem desse dia é muito singela, mas de um poder simbólico impressionante: é uma homenagem à mais longa greve da categoria, realizada no ano de 1923, em São Paulo – primeiro centro industrial a se desenvolver no Brasil à custa de muita exploração à jovem classe trabalhadora urbana. Vindos de uma cultura camponesa, expulsos de suas terras pelos latifundiários ou movidos pelo sonho de vida melhor, esses trabalhadores enfrentaram muitas dificuldades, mas fizeram jus aos desafios da cidade e deixaram um legado de dedicação, superação e coragem a todos os brasileiros e brasileiras.
Além das conquistas, a greve que durou 42 dias, sedimentou os dirigentes gráficos como líderes do movimento político e sindical que surgia com muita força. Dentre os ganhos maiores citamos: 1) O reconhecimento da União dos Trabalhadores Gráficos – UTG, como representante legítima da categoria. Conquista que refletiu em todo o país, estimulando a criação de várias associações de trabalhadores, que iniciaram sua luta pelo reconhecimento de seus sindicatos; 2) O estabelecimento do 7 de fevereiro como Dia Nacional do Trabalhador Gráfico. A importância de termos um dia da nossa categoria é simbólica e também prática: simbólica no resgate da tradição de luta dos gráficos que se eterniza no trabalho de todos os sindicatos de gráficos do Brasil, ao trazerem para a memória dos gráficos atuais a força da nossa história.
É muito lindo verificar que, mesmo sem uma UNIÃO ideal para lutas cotidianas, no 7 de fevereiro assistimos uma movimentação nacional, onde cada sindicato se esforça para manter viva nossa história; é prática porque uma parcela grande dos sindicatos conseguem ir além de simples comemorações, avançando para o contexto político e sindical, que nos desafia todos os dias. Prova maior de resistência são os sindicatos que não cedem à pressão patronal, que sistematicamente quer tirar o caráter político desse dia e, é claro, querem acabar com as cláusulas das convenções que garantem o dia como repouso remunerado.
Uma longa história que desaguou na greve de 1923
A greve de 1923 talvez não ocorreria, não fossem os lutadores que se dedicaram a organizar coletivamente a categoria. Os primeiros tipógrafos trabalharam sob ordens do rei de Portugal, após cair a proibição de se imprimir no Brasil. Em 1853 eles criaram a Imperial Associação Tipográfica Fluminense, cujo objetivo era a ajuda mútua. No entanto, ela ultrapassou a formalidade e comandou em 1858 a primeira greve dos tipógrafos por aumento salarial. Além de histórica, ela foi vitoriosa e abriu o caminho para ampliar a organização no país. Foi assim que surgiu em 1896 a Sociedade Tipográfica Rio-Grandense e em 1904, na cidade de São Paulo, a União dos Trabalhadores Gráficos. Nos anos seguintes, mediante o incentivo dos gráficos do Rio de Janeiro e São Paulo, surgiram muitas outras associações de gráficos, denominadas União dos Trabalhadores do Livro e do Jornal (UTLJ), embrião dos futuros sindicatos de gráficos e de jornalistas. Todo esse histórico é para reafirmar a ideia de que PRESENTE e FUTURO não se fazem sem PASSADO. É no passado que identificamos tudo de bom e de ruim que fizemos, individual ou coletivamente.
Portanto, nosso PASSADO serve para fortalecer velhas e novas bandeiras de lutas, estimular as lutas do presente, mas também, para identificar erros cometidos e tentar corrigi-los, por meio de uma análise séria e profunda, que mude rotas e busque UNIR os gráficos do Brasil a outras categorias, na certeza de que ninguém conseguirá sozinho consolidar as pequenas vitórias que conseguimos sobre o Capital explorador.
Vamos erguer as bandeiras de luta do passado e do presente
Alguém já perguntou porque nunca conseguimos avançar a patamares mais altos de conquistas? Por que é que, mesmo quando conquistamos aumento considerável de salário ou melhores condições de trabalho ou outros benefícios, a gente sempre tem que começar tudo de novo no ano seguinte? Exatamente por isso. A validade anual das convenções coletivas, bem como toda a lógica da organização sindical e capitalista é pensada por governo e patrões para corroer o poder de compra dos salários e deixar todos os trabalhadores sempre inseguros quanto às conquistas anteriores.
Assim, se não conseguimos convencer trabalhadores a participar das assembleias, crescer a organização com o famoso ‘boca a boca’ ou ‘Radio Peão’ e a participarem de forma positiva nas ações que precedem a greve, a tendência é fecharmos uma convenção ruim. Isso, porque todas as conquistas sindicais são coletivas e proporcionais ao tamanho e qualidade das lutas que conseguimos fazer coletivamente. Por isso dirigentes e trabalhadores devem estar em sintonia. Não adianta o trabalhador transferir aos dirigentes sindicais a tarefa que tem de ser feita coletivamente.
Nesse 7 de fevereiro de 2017, temos de resgatar o valor da UNIÃO dos gráficos
Todas as conquistas que iniciamos em 1923 estão ameaçadas. O governo Temer está junto com os patrões e ambos já estabeleceram acordos com o poder judiciário e o legislativo. Temer, senadores, deputados, patrões, empreiteiros, TODOS estão unidos para a grande façanha de tirar os direitos de quem mais precisa deles. A classe que padece com a carestia (comida, aluguel, transporte, impostos altíssimos), com a violência crescente nos meios urbanos, com os péssimos exemplos praticados pelos dirigentes do país e exibidos como demonstração de poder pela mídia, com velhas e novas formas de preconceitos e discriminação, é a mesma que tem a responsabilidade de reverter tudo isso. Nenhuma outra classe fará o que nos cabe fazer.
Aos dirigentes sindicais cabe mais uma vez a tarefa de buscar aliados, refletirem sobre os exemplos do passado e atuar para UNIR DE VERDADE os trabalhadores e trabalhadoras desse país.
Os dirigentes da FNTIG, acreditam que somente unidos poderemos construir um futuro melhor para nossa categoria e para toda a classe trabalhadora. Por isso estamos redefinindo nossa rota política e sindical, juntamente com os sindicatos filiados e outros que se disponham a trabalhar juntos. É hora de muita humildade, coragem e disposição para o diálogo, além da necessária vontade de lutar e vencer as adversidades. JUNTOS SOMOS MAIS!
Desejamos que todos os sindicatos possam, junto com a base, comemorar o 7 de fevereiro como parte de um projeto maior, que passe pela resistência contra a retirada de direitos e avance para um futuro de conquistas e organização política. Da mesma forma, desejamos que os trabalhadores se conscientizem da necessidade de lutar de forma organizada, junto com os sindicatos, pois são eles que defendem os interesses da categoria.
Parabéns aos profissionais que participam do processo de produção e difusão de todos os materiais impressos no brasil, inclusive informação, publicidade, mídia alternativa e demais nichos de atuação dos gráficos!
VIVA AS TRABALHADORAS E TRABALHADORES GRÁFICOS DO BRASIL!
* originalmente publicado no boletim “O Gráfico” – Informativo da Federação Nacional dos Trabalhadores Gráficos (FNTIG).
Foto: commons.wikimedia.org
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