Editorial 3 de fevereiro,
Passado o furor dos acontecimentos relativos ao impeachment de Dilma, o governo Temer e seus aliados buscam acomodar, embora não sem crises, um novo equilíbrio político-institucional no Brasil. A agenda reacionária do ajuste fiscal, verdadeira razão de ser do atual governo, é o centro de convergência das frações mais poderosas da classe dominante, que ora sustentam a coalização em exercício no Palácio do Planalto.
No âmbito parlamentar, tal bloco social é expresso em uma larga maioria de deputados e senadores que, ao menos no que toca a aprovação das reformas exigidas pelo mercado, tem sido eficaz em aprovar as mais duras medidas em tramitação – inclusivamente as que demandam maioria qualificada para se efetivarem em emendas constitucionais, a exemplo da PEC 55. O controle inapelável do Congresso Nacional é, portanto, um dos pilares mais importantes de sustentação do próprio governo.
Assim como o STF confere verniz constitucional ao mandato ilegítimo encabeçado pelo PMDB, o legislativo lhe assegura a capacidade de operar, sem maiores dificuldades, seu programa de reformas reacionárias do Estado e de encolhimento da rede de proteção social, em benefício de banqueiros e grandes capitalistas.
É nesse cenário que chama atenção a conduta errática – para dizer o mínimo – de PT e PCdoB no interior do parlamento e fora dele. Em seus discursos, tais partidos denunciam, é verdade, o golpe parlamentar e se opõem ao ajuste fiscal em curso. Ocorre que palavras não derrotam golpes e tampouco ataques a direitos antes consolidados. A burguesia já declarou sua guerra social à classe trabalhadora brasileira e já torpedeou parte das conquistas das três últimas décadas; PT e PCdoB permanecem, por sua vez, em lamentável atitude diplomática diante dos golpistas.
Enquanto, no movimento de massas, CUT, CTB e UNE não rompem a paralisia e seguem obstaculizando uma resposta à altura nas ruas e locais de trabalho, é nos parlamentos que se pode observar de forma ainda mais aparente uma conduta política vergonhosa da parte das direções de PT e PCdoB.
Na última semana, quando a Câmara dos Deputados e o Senado elegiam os presidentes das respectivas casas, PT e PCdoB ofereciam gestos inaceitáveis de conciliação com os golpistas. O flerte com Rodrigo Maia, homem de confiança de Temer e implicado nas delações da Lava Jato, gerou reação indignada das bases daqueles partidos. O giro para o também questionável apoio à André Figueiredo (PDT) minimizou mas não contornou o desgaste.
No Senado, o PT liberou o voto de sua bancada, o que não significou mais que um apoio envergonhado à eleição de Eunício de Oliveira (PMDB) em troca do posto da 1a Secretaria da Mesa Diretora, a ser ocupado por José Pimentel (PT).
No Rio de Janeiro, por sua vez, onde transcorre talvez o mais agudo conflito social do país, esses partidos estão posicionados de forma ainda mais desastrosa. Enquanto a parcela mais combativa da militância de PT e PCdoB enfrentava de bandeiras em punho a brutal repressão do governo Pezão em mais uma batalha campal na rua Primeiro de Março, seus parlamentares votavam pela reeleição do sinistro Jorge Picciani (PMDB) à presidência da Alerj.
Dessa maneira, chegamos a uma situação em que golpistas e golpeados colaboram na normalização institucional das casas legislativas, em cuja pauta estão alguns dos mais duros ataques à classe trabalhadora: não há dialética que comporte tamanha contradição. Não há “tática” ou “contradição” da luta política que justifique que PT e PCdoB não se coloquem sequer na condição de uma oposição parlamentar ao bloco golpista. É compreensível e desoladora a frustração de milhares de militantes do outrora “campo democrático-popular” que querem lutar e assistem a tamanha traição de seus dirigentes e parlamentares.
O que a classe trabalhadora precisa com urgência é de uma verdadeira frente única, da unidade total de suas forças contra a coalizão de Temer e suas refrações em âmbito estadual. Um verdadeiro bloco contra a austeridade que responda sem tréguas à reforma da Previdência e o conjunto das medidas anti-povo dos golpistas. É evidente que tal combate só pode se dar nas ruas, nas ações de massas, nas greves e lutas estudantis. Mas a atitude parlamentar de conciliação de PT e PCdoB só desmoraliza e atrasa essa grandiosa tarefa.
Foto: EBC
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