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O significado da candidatura de Erundina à presidência da Câmara

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Por: Silvia Ferraro, colunista do Esquerda Online

Com Rodrigo Maia liberado judicialmente para disputar a presidência da Câmara dos Deputados, sua eleição é quase certa. Maia é o candidato preferencial de Temer e a figura que já vem fazendo o papel de garantir que os projetos que retiram direitos e verbas sociais sejam aprovados.

Será o próximo presidente que irá conduzir a votação da Reforma da Previdência, e outros tantos projetos que estão na fila com a intenção de flexibilizar direitos trabalhistas. Uma das Câmaras mais conservadoras desde a Ditadura Militar, foi palco de várias decisões contrárias aos interesses populares e o espaço da articulação do golpe parlamentar.

O reacionarismo da casa tem expressão também na candidatura de Jair Bolsonaro (PSC), que defende a volta da Ditadura Militar e outros tantos projetos de ataques aos direitos de mulheres, negros, negras e LGBTs. Bolsonaro, durante a aprovação do impeachment de Dilma, reivindicou o torturador Carlos Alberto Ustra. Este episódio foi julgado pelo Conselho de ética da casa, e provando mais uma vez o caráter conservador deste parlamento, o processo foi arquivado por 11 votos a 1. Esse é o mesmo Conselho de ética que quer suspender o mandato de Jean Willis, do PSOL, por ter se enfrentado com Bolsonaro depois de ter sido agredido por ele no mesmo dia da votação do impeachment.

Num jogo de cartas marcadas, num ambiente que conspira contra os interesses dos trabalhadores e de todos os oprimidos, depois que este mesmo espaço articulou um golpe jurídico-parlamentar, a candidatura de Luiza Erundina (PSOL) é um símbolo da resistência contra os retrocessos que estão sendo implementados.

O PT e o PCdoB estão tendo uma postura vergonhosa neste processo. Primeiro, o diretório do PT decidiu liberar a bancada para votar em Rodrigo Maia, um dos articuladores do golpe. Depois da revolta da própria base petista, o PT declinou de apoiar Maia na Câmara para não comprar o desgaste, mas manteve o apoio a Eunício Oliveira no Senado. Eunício Oliveira, da turma do Renan Calheiros, ganhou com os votos do PT e do PCdoB. Somente três senadores do PT não seguiram a decisão.

Neste cenário, a decisão do PSOL em lançar a candidatura de Luiza Erundina se contrapõe frontalmente a estas manobras que o PT e o PCdoB estão fazendo. Lutar contra o golpe tem que ser na prática e não somente no discurso vazio. A saída que o PT achou pra apaziguar sua base foi apoiar a candidatura de André Figueiredo (PDT-CE) na eleição da Câmara hoje. Seria um erro se o PSOL tivesse se somado a esta alternativa, como chegaram a defender alguns de seus militantes. A aliança com o PDT é a sinalização do que o PT quer fazer para a frente ampla nas eleições de 2018, para além de ser uma manobra para não comprar o desgaste com sua própria base.

Neste sentido, a candidatura de Erundina tem um valor simbólico muito importante. Primeiro, porque sinaliza a total independência diante das manobras do PT e do PCdoB e também porque simboliza o confronto direto com o conservadorismo, com o golpismo e com todos os projetos reacionários de retirada de direitos que ainda estão por passar no Congresso. Para que a esquerda socialista se afirme como uma verdadeira alternativa é necessário coragem para se desfazer do velho e isso passa por afirmar um projeto de independência de classe e não de pragmatismo político.

Foto: EBC