Editorial 30 de janeiro,
A Presidente do STF, Ministra Carmen Lúcia, homologou hoje as 77 delações da Odebrecht. Isso significa que os mais de 800 depoimentos dos executivos e ex-executivos da empreiteira estão válidos juridicamente, podem ser usados como prova.
A Procuradoria Geral da República vai fundamentar com este material o pedido de novas denúncias contra políticos e partidos, mas por enquanto a ministra manteve o conteúdo em sigilo. Foi uma decisão política, não técnica. Por muito menos, e através de grampos, o mesmo Poder Judiciário decidiu divulgar quando lhe era conveniente politicamente.
É evidente que tudo deveria ser publicado na web, com acesso livre. Divulgação ampla e irrestrita. Mas, a decisão, por ora, é manter o impasse. O quanto o governo golpista será atingido pelas revelações da Odebrecht é realmente uma incógnita.
Os interesses estratégicos da classe dominante estão, no entanto, protegidos. O duro ajuste fiscal está sendo aplicado, a Constituição de 88 foi dilacerada, as reformas Previdenciária e Trabalhista estão em andamento.
A Lava Jato não quer prejudicar os negócios. O próprio Procurador Geral da República Rodrigo Janot afirmou, para uma plateia de empresários no Fórum de Davos, que a Lava Jato é “pró mercado”, “não é um ataque ao capitalismo”. Assim, sustenta-se a ideia de que o capital é honesto. O problema são os políticos. O ‘mercado’ é bom, funciona com regras justas. O problema são os políticos e a política que interferem e corrompem tudo o que tocam.
Assim, a empreiteira Odebrecht, que nos dez anos transcorridos entre 2004 e 2014 movimentou R$ 35 bilhões em contratos diretos e parcerias com a Petrobras, que gerenciou negócios em mais de 70 países e pagou cerca de R$ 1 bilhão em propinas, causando um prejuízo de R$ 7 bilhões aos cofres públicos, estuda os passos para reconstruir sua imagem e seguir os negócios. Pediram perdão ao Brasil. Nos acordos de leniência, como o próprio nome sugere, obtiveram vantagens em troca de informações.
Culpados? São as pessoas, não o sistema. Uma vez afastados os ladrões, a Odebrecht volta à cena. Uma vez mudado o governo, os problemas estão resolvidos. Tem alguma coisa muito errada em tudo isso.
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