Por: Diogo Xavier, de Recife, PE
O Paulista ganhou do Batatais por 5×1, na semifinal da Copa São Paulo de Futebol Junior, e dentro de campo estava classificado para a final do maior torneio de categorias de base do Brasil, até que uma investigação revelou que o zagueiro Brendon (vamos tratar por este nome, embora as investigações não sejam conclusivas sobre seu nome de batismo) era um “gato” (Gíria usada no futebol para jogadores que falsificam a sua idade para poder participar de competições onde já extrapolaram a idade). Esse jogador utilizou o documento de um jovem que, segundo as investigações, está preso.
A notícia permeou as manchetes do país como se fosse algo totalmente novo, mas na verdade é algo mais do que comum esse tipo de falsificação. O caso de Emerson Sheik é talvez o mais conhecido no Brasil. O “azar” de Brendon foi justamente o seu sucesso, tendo em vista que se o Paulista não tivesse chegado tão longe, dificilmente o registro do jogador seria investigado.
No meio de toda essa turbulência à punição ao jogador, o escracho público foi rápido e contundente, no entanto, poucos foram os canais que procuraram entender o caso mais a fundo. Em primeiro lugar, é preciso falar da ineficiência da CBF, Federação Paulista de Futebol e do Paulista. Todas as instituições permitiram que o jogador se inscrevesse e utilizasse documentos falsos sem verificar nada e agiram como se não tivessem responsabilidade em saber a origem dos jogadores que disputam os campeonatos. Além do mais, o atleta jogou a mesma competição no ano passado, ou seja, foi recorrente e ninguém estava sabendo. É esse descaso que permite, dentre outras coisas, a péssima condição de trabalho e abuso de adolescentes nas categorias de base Brasil afora.
A condição do jogador que tenta a vida no futebol também é necessário ser analisada, pois longe dos holofotes onde estão a minoria dos atletas, existe uma multidão de adolescentes e jovens correndo atrás de um sonho. Por conta desse sonho, muitos passam fome, moram longe de casa, vivem em condições precárias, sofrem abusos e perdem uma parte essencial da vida, que é a passagem para a vida adulta. A maioria dos que passam por essas dificuldades são jovens oriundos de famílias pobres, que não têm muitas condições financeiras e nem conhecimento da área para evitar passar por isso. Acaba que os jovens negros e de periferia são os mais violentados para poderem se tornar jogadores de futebol.
Nesse caso que Brendon se encontra, não cabe aqui fazer uma defesa da sua atitude, mas entender o que leva tantos jovens a correr o risco de serem presos pela oportunidade de ser profissional do futebol. Um jovem pobre e negro que tentava a sorte de fazer uma boa competição e ser contratado por alguma equipe. Esta é mais uma das facetas da violência urbana que quase invariavelmente escolhe as mesmas vítimas.
Obs.: Até o fechamento do texto, o jogador se encontrava desaparecido.
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