Editorial 27 de janeiro,
O pedido de prisão de Eike Batista joga luz nas relações promíscuas entre governantes e o poder econômico. O manancial de propinas que fluía do bolso do empresário para as contas secretas de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, é uma pequena amostra do funcionamento corriqueiro do Estado brasileiro.
Eike, agora despido da áurea de empreendedor bem sucedido, mostra a face nua e crua de uma burguesia corrupta e parasitária. Isto é, a classe dominante que faz fortuna saqueando os cofres públicos em sofisticados esquemas ilícitos, mas também em operações legais de financiamento estatal a juros baixos, fartas isenções fiscais, privatizações baratas e generosas parcerias público-privadas.
Cortejado por políticos influentes, celebridades midiáticas e estrelas do mundo empresarial, o bilionário desfrutou das benesses do poder público por muitos anos, e contou, para tanto, com a ajuda das mais variadas colorações partidárias.
Em contrapartida, Eike era generoso com seus padrinhos políticos. Em 2006, fez doações de R$ 1 milhão para Lula e Geraldo Alckmin. Em 2010, patrocinou com igual valor Dilma Rousseff e José Serra. E Marina Silva não ficou de fora, recebeu o agrado de R$ 500 mil. As contribuições eleitorais do empresário, entre 2006 e 2012, somam R$ 12,6 milhões, distribuídos entre treze diferentes partidos.
Com trânsito fácil no ninho tucano, amigo íntimo de Aécio Neves, Eike foi chamado de “orgulho do Brasil” pela então presidente Dilma, em 2012. Já o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), não deixou por menos: naquele mesmo ano, declarou que o bilionário era “filho adotivo” do Rio.
Mas seu prestígio ia além do mundo político. Entre elogios do apresentador Luciano Huck e afagos da grande mídia, o empresário era tido pela “alta sociedade” como modelo a ser seguido. A ambição ia longe. O jornalista da Folha de S. Paulo, Sérgio Malbergier, chegou a lançar em janeiro de 2012 uma coluna no jornal intitulada “Eike para presidente”. Era o auge da carreira do “empreendedor”, e provavelmente também de seus negócios sujos.
Eike Batista está foragido da justiça. Seus amigos famosos encolhem os ombros e fingem nada saber. A mídia que o endeusava agora o escracha como mafioso. A classe dominante e as instituições do Estado descartam um burguês fracassado e o condenam ante a opinião pública. É preciso salvar as aparências para que o sistema continue funcionando a serviço dos ricos e poderosos. Querem esconder o principal: eles são todos Eikes.
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