Pular para o conteúdo
CULTURA

Os quarenta anos de Animals do Pink Floyd e sua crítica à sociedade

Por: Fabrício Braga, de Ananindeua, PA

CULTURA | Nesses últimos anos, os álbuns clássicos dos anos 70 estão completando 40 anos. No dia 23 de janeiro, Animals, do Pink Floyd, foi mais um a completar quatro décadas. Em 1977, o álbum foi lançado em meio ao início do Punk, e num Reino Unido dominado pela indústria, violência racial, alta inflação e pelo alto desemprego. O empréstimo tomado pelo FMI colocava em conflito progressistas e conservadores no cenário político inglês. Nesse quadro, o Partido Trabalhista inglês demonstrava evidente desgaste frente à opinião pública.

Rogers Walters, principal letrista e compositor do Pink Floyd na época, se baseou no livro de George Orwell, Revolução dos Bichos, para realizar o álbum. O livro de Orwell, um ataque frontal ao estalinismo, sua burocracia e expurgos. Fica claro com alusões do personagens com as figuras históricas da revolução. Major, o porco, propaga uma revolta para que todos os animais trabalhadores possam ter uma vida melhor. Major lembra Karl Marx e o socialismo científico e também lembra Lênin, o idealista do início da Revolução Russa; Bola-de-Neve, com a morte de Major, pode ser comparado a Trotsky, que foi líder do exército vermelho, que seguia os passos de Lênin. E Napoleão, de caráter bem mais agressivo e egoísta, não era tão inteligente ou bom orador como Bola-de-Neve e, por isso, arma um golpe com ajuda de nove cachorros ferozes. Obriga Bola-de-Neve a se exilar e, à custa de muita propaganda, transforma-o em inimigo da Granja dos Bichos. Napoleão pode ser visto como uma representação de Stálin.

Só que Walters usa o livro de pano de fundo para uma crítica ao capitalismo. São alvos, homens de negócios, políticos corruptos e moralistas. Na produção da capa do álbum, temos o porco inflável que a banda usou junto com a Agência Hipgnosis, o porco inflável, que tinha cerca de 10 metros e se chamava Algie. Ele foi posto sobrevoando entre duas chaminés da Usina Termelétrica de Battersea para a fotografia da capa, a Usina, que olhando de cabeça pra baixo, lembrava um porco. O disco é totalmente anticomercial, possuindo três das cinco faixas com mais de dez minutos, e com bastante nuances musicais.

A abertura do álbum é feita com Pigs On The Wing Part 1, uma espécie de epílogo, com voz e violão, que foge da temática principal do álbum. Na verdade, ela é basicamente uma canção de amor. Curiosamente, o disco se encerra com a segunda parte de Pigs On The Wing, a propósito, bem parecida com a primeira. Ambas as canções diferem do restante do álbum funcionando, assim, como uma forma de esperança baseada no amor.

A segunda faixa, Dogs, de dezessete minutos, critica homens de alto escalão, executivos de empresas, o cinismo pequeno-burguês, e seu individualismo. Homens que fazem tudo para subir na vida, apunhando e traindo pessoas se for preciso, fingindo sorrisos, que são na maioria falsos, mas vivendo sabendo que podem estar sendo usados e a qualquer momento poderão cair em desgraça e quando mais velhos, morrem solitários e amargurados, de câncer ao telefone.

Em Pigs, Three Different Ones, Walters faz crítica ao três porcos que ele considera os de pior tipo, Winston Churchill, que Walters considerava um dos responsáveis pela morte de seu pai, numa batalha da segunda guerra; a Margareth Thatcher, líder na época do partido conservador, que depois viria a ser tornar primeira ministra com seus planos neoliberais e aplicar duros golpes na classe trabalhadora e a Mary Whitehouse, uma ativista conservadora, que dizia que o Pink Floyd era um mal exemplo para a Inglaterra.

Em Sheep, é feita uma crítica às pessoas comuns, às massas passivas, sem opinião, conformadas frente aos fatos. Durante a música, ainda há a citação do Salmo 23, o que mostra claramente a vontade de Waters em criticar as instituições religiosas que alienam as pessoas e as transformam, gradativamente, em ovelhas. Só que diferente da obra de Orwell, no decorrer da música as ovelhas se rebelam, tentando assumir o controle, marchando contra os cães e porcos.

Animals é um álbum atemporal. Infelizmente, diante de toda a grande discografia do Pink Floyd pode passar batido. Também marca o começo do agravamento das tensões entre os membros da banda, que culminaria na saída de Walters no início da década de 1980.