Por: Sônia Conti, do ABC paulista
O Governo Federal trata a previdência pública como um problema a ser enfrentado urgentemente. Aponta o risco de não existir forma de seguir pagando as aposentarias e benefícios ou garantir a aposentaria e benefícios futuros.
O argumento mais utilizado, e que causa efeito, é o de que em pouco tempo teremos maior número de idosos no país. Menos pessoas trabalhando e contribuindo, menos arrecadação.
Sabemos ser verdade que o país está envelhecendo. Mas, só este fato não justifica jogar as aposentarias para depois dos 70 anos.
O governo utiliza o ‘déficit da previdência’ para justificar suas reformas. Há os que concordam e os que negam a existência deste rombo.
Para se dar um exemplo, em cidades do ABC paulista alguns números apontam que a região conta com o maior rombo previdenciário. Santo André aparece no topo do déficit. Em segundo lugar vem São Bernardo do Campo.
Orlando Morando (PSDB), atual prefeito de SBC, tem dito que pretende abrir mão de um recurso importantíssimo que compõe a receita da seguridade social, que são os impostos das empresas, tendo por objetivo aliviar a carga das montadoras e de outros setores econômicos da região. Renúncia de dinheiro que deveria compor o orçamento da Seguridade Social.
O mais grave é que muitos dos gastos sociais, a exemplo do Bolsa Família, e gastos com saúde que deveriam ser financiados pela receita destes impostos, são tirados da seguridade.
Por outro lado, o Governo Federal tenta convencer a população da necessidade de tal reforma. Gastos com propagandas divulgadas pela Globo, Veja, e outros meios de comunicação. Investimento pesado para passar a ideia de que ser idoso é bom. Que vamos viver até os cem anos e, por isso, não há problema na aposentadoria tardia.
O Jornal Nacional e o Fantástico têm se empenhado bastante para nos mostrar idosos ‘sarados’, nas praias, saltando de paraquedas, fazendo academia, super saudáveis e felizes. Só não mostram a conta bancária destes felizes viventes da boa idade. E apesar de toda propaganda, o tratamento com os mais velhos está longe de ser o comercial de margarina.
Um fato que chama atenção é a expectativa de vida que se diferencia muito de estado para estado. Nas regiões Sul e Sudeste fica entre 77 e 79 anos. No Nordeste é de 73 anos. Na região Norte, em torno de 72. No geral, se a idade mínima passasse a ser de 65 anos, muitos trabalhadores de regiões mais pobres morreriam antes de se aposentar. Ou iriam usufruir da aposentadoria por um ou dois anos.
Além das divergências existentes em torno dos motivos que a conta da previdência não fecha, é preciso antes de tudo que o governo ouça a população, discuta com a sociedade, sindicatos e organizações de trabalhadores. Que se faça uma séria auditoria da dívida pública e da previdência.
Para ter credibilidade, com tantas opiniões em debates, é urgente que o governo mostre transparência sobre o ‘déficit’ da previdência. Ainda mais quando sabemos que alguns grupos de estudiosos da matéria apontam a previdência como superavitária.
Do contrário, a impressão que fica é que tudo que se fala só serve para gerar na população uma aceitação de que tudo vai muito mal. E de que só será possível salvar alguma aposentadoria se esta for privatizada.
Afinal, a quem interessa tanta dúvida?
Deficitária ou superavitária? Qual é a verdade?
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