Por Gibran Jordão, Rio de Janeiro, RJ
Após a morte do Ministro do STF Teori Zavaski em queda de avião no mar do litoral paulista, uma polêmica se abriu em todos os espaços que se discute política no país: o questionamento no qual uns opinam que a queda do bimotor foi um acidente, e outros apontam que se trata de uma sabotagem encomendada.
O ex-presidente do STF Joaquim Barbosa e o próprio filho de Teori manifestaram publicamente insinuações de que não se pode descartar que tenha sido um crime. Seja como for, cautela e prudência em afirmar qualquer hipótese com convicção nesse momento nos parece ser o caminho mais correto a seguir.
Mas isso não significa que não devemos discutir a possibilidade de uma possível conspiração para assassinar o Ministro do STF.
Pela situação de crise política que se encontra o país hoje, pelo acúmulo de poder nas mãos de Teori que poderia destruir figuras, esquemas e reputações de vários partidos da base aliada de Temer (e também da oposição). Pelas circunstancias as quais se deu a queda do avião, não podemos ignorar e muito menos podemos desqualificar tal hipótese.
Não é menos importante saber se foi ou não um acidente, pois caso se confirme sabotagem para assassinar um ministro do STF, relator dos processos e das delações da operação Lava Jato, fica absolutamente evidente que o país está sendo comandado por criminosos que são capazes das atitudes mais macabras para defender seus interesses.
Essa é a disputa entre as distintas frações da burguesia que lutam para ver quem controla as estruturas do regime e do estado brasileiro nos marcos de uma grave crise econômica.
Se na moral burguesa assassinar um ministro de umas das estruturas de poder constituintes da republica é o modus operantis, imagine o que não serão capazes de fazer com o povo trabalhador brasileiro.
Vale também destacar que comprovando ou não a hipótese de crime/sabotagem, não podemos santificar o ministro Teori Zavaski, como tem sido a tendência das rodas de conversa e das especulações que surgem na grande mídia.
Em vários temas polêmicos que exigiram o posicionamento do STF, o ministro Teori votou manifestando uma postura reacionária, conservadora e autoritária, senão, vejamos: 1. Teori Zavaski votou a favor da prisão pós condenação em segunda instância a favor da possibilidade de órgãos públicos cortarem o salário de servidores em greve desde o início da paralisação;
- Foi contra o recálculo do valor da aposentadoria por meio da chamada desaposentação;
- Participou do acordão que manteve Renan Calheiros no cargo;
- Votou a favor do reconhecimento e contratação das organizações sociais
- Votou contra o reconhecimento da inconstitucionalidade da lei cearense que regulamenta a vaquejada como manifestação cultural.
Ainda que haja um grande acordo entre os três poderes como também com as distintas frações da burguesia em torno da aplicação do ajuste fiscal envolvendo a PEC 55, e agora a aprovação da reformada previdência/trabalhista é inegável que existe uma luta política no qual setores da burguesia operam entre os três poderes.
A disputa pela grande mídia e também através da agitação e mobilização da classe média para disputar o poder, esquemas, defender reputações ameaçadas e recursos do tesouro que estão mais escassos por conta da recessão e crise econômica que vive o país.
Quanto maior for a queda do PIB maior será a luta entre as frações da burguesia… Como localizou bem Guilherme Boulos em seu artigo intitulado “As Guerras Paralelas” na Folha de São Paulo desse sábado:
“De um lado, a chamada República dos procuradores, com ramificações no STF (Supremo Tribunal Federal), que pretende levar adiante a Lava Jato valendo-se dos recursos que forem necessários, incluindo medidas de exceção. De outro, Temer e a maior parte dos partidos políticos, unidos na proposta de “estancar a sangria”.
O primeiro grupo conta até aqui com o apoio da maior parte da mídia e com o clamor público de combate à corrupção. O outro passou a ser respaldado pelo ministro Gilmar Mendes, líder do PSDB no Judiciário, que após a consumação do golpe contra Dilma Rousseff, passou a denunciar excessos na Lava Jato. Excessos que, pouco antes, contaram com os aplausos entusiasmados do mesmo Gilmar.
Não há heróis nesta história. São dois grupos disputando seus projetos de poder, um deles bastante conhecido, o outro nem tanto.
Na mesma semana em que caiu o avião de Teori, o Procurador Geral da República estava sendo aplaudido em Davos pelas grandes corporações internacionais que demonstravam total apoio e curiosidade em relação a operação Lava Jato.
Janot é membro da direção da Associação Internacional de Procuradores que seguem as regras da convenção de Mérida (Convenção Internacional de combate a corrupção), cujo o objetivo é padronizar a ação dos procuradores em todo mundo, ou pelo menos, nos países onde o imperialismo tem grandes investimentos.
Assim vai se convencionando num formato “legal” e “virtuoso” um padrão das ações dos ministérios públicos e das procuradorias no sentido de garantir um fluxo de investimentos mais seguros para o imperialismo sem que grupos e máfias locais desviem para projetos particulares, eleitorais e de enriquecimento particular.
Ao mesmo tempo permite que de forma direta ou indireta as grandes corporações e setores do imperialismo principalmente o norte americano possa intervir e operar a seu favor por dentro dos regimes de países semicoloniais.
Não é à toa os inúmeros prêmios e homenagens que Moro, Dallagnol e o próprio Janot têm recebido de várias revistas e eventos internacionais bancados pelas grandes corporações.
O governo de Temer e toda sua base aliada formada por máfias partidárias antes aliados de Dilma, operaram uma manobra no parlamento golpeando o PT para se localizarem em melhores condições para se defender da operação Lava Jato (ou para estancar a sangria como diria Jucá) que é influenciada direta ou indiretamente por interesses da burguesia internacional.
Seria um absurdo imaginar que os grupos e frações mafiosas da burguesia e do próprio parlamento burguês (como o próprio ministro Joaquim Barbosa alerta, estão governando o país) tenham operado uma sabotagem no avião de Teori para gerar confusão, atrasar e atacar o desenvolvimento da operação Lava Jato as vésperas da homologação de centenas de delações premiadas da Odebrecth?
A lógica dos fatos como também outros exemplos da história não nos permitem descartar a hipótese de sabotagem.
Independente de todas as especulações do momento, é preciso acompanhar quem Temer vai indicar para a vaga que se abriu no STF.
É preciso observar a postura da ministra presidente do STF Carmem Lúcia e é absolutamente necessário não bater palmas nem para Teori e a Lava Jato, menos ainda para o governo Temer e suas medidas contra o povo trabalhador brasileiro.
Desvendar se foi crime ou não a morte de Teori só nos serve para caracterizar do que é capaz nossos inimigos e nos dar ainda mais certeza de que mais do que nunca precisamos ampliar a unidade contra o recrudescimento da democracia aos movimentos sociais, contra o ajuste fiscal e as reformas que visam destruir as pequenas conquistas que ainda existem na constituição de 88.
Constituição essa que está sendo nesse momento reescrita para atender aos interesses do capital em crise.
Foto: EBC Brasil
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