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BRASIL

O exército nas cadeias não vai resolver a situação

EDITORIAL 18 DE JANEIRO | O presidente Michel Temer anunciou ontem que vai deixar as Forças Armadas à disposição dos governadores para atuar nos presídios.  A medida é apenas para ter o que falar na mídia. Temer sabe que o exército não vai solucionar o problema das cadeias, assim como não solucionou o problema do tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

Entre 2014 e 2015,  o exército  ocupou a favela da maré para conter o tráfico de drogas.  Saiu deixando um rastro de mortes de pessoas inocentes  e o tráfico ainda continua no morro. A ideia de que as forças armadas é uma instituição salvadora só existe nas fantasias dos lunáticos que pedem a volta da ditadura militar.

A atuação das Forças Armadas seria limitada inicialmente a varreduras nas prisões para procurar armas e drogas. Elas não vão fazer segurança nem conter rebeliões. Dessa forma, os soldados não entram em contato com os presos. Porque essa preocupação?  Provavelmente para não haver “contaminação”, ou seja, que militares entrem para facções criminosas. Isso já acontece com agentes carcerários e policiais que trabalham em cadeias.

Mas e se a medida sair do controle? O próprio exército pode se tornar o problema . É bom lembrar que a primeira facção do crime organizado do país, o Comando Vermelho, surgiu quando a ditadura militar teve a “brilhante ideia” de misturar presos comuns com guerrilheiros. Agora o risco é que os presos se misturem com o pessoal das Forças Armadas. No que isso pode terminar?

Governo fortalece o autoritarismo

Além de propor uma “solução mágica” para sair na mídia, o que Temer quer é fortalecer o setor mais autoritário do Estado, que é o exército. Isso em um momento em que o Congresso vota medidas contra o povo, como as reformas previdenciária e trabalhista.

A repressão aos movimentos sociais é cada vez maior. Ontem o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, foi preso por algumas horas pela acusação ridícula de “desobediência civil”. Ele estava tentando fazer uma negociação durante a desocupação de uma área ocupada por cerca de 700 famílias.

Será que quando a classe trabalhadora quiser ir às ruas contras as maldades do governo Temer ele também vai sacar da manga uma solução militar? O precedente está aberto, e isto é muito perigoso.

Existe saída?

Dos mais de 600 mil presos no Brasil, cerca de 250 mil são provisórios. Boa parte poderia estar solta segundo a lei. Além disso, até hoje a Constituição não é cumprida e os presos não são separados por grau de periculosidade. Tirar da cadeia quem não precisa estar nela e isolar os presos mais perigosos já ajuda muito.

Além disso, temos que repensar nossa política sobre drogas. O fato delas serem ilegais não impede que elas sejam usadas.  A “guerra às drogas” só causa mortes e aumenta a população carcerária. Já existem mais de 600 mil presos para pouco mais de 200 mil vagas.

Muita coisa pode ser discutida. Mas a história mostra que ideias mirabolantes não resolvem. Podem até piorar o problema.