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EDITORIAL

Eleições francesas: as primárias da esquerda

 

Por Bruna Sartori, ABC Paulista

A Europa em 2017 promete um cenário político, social e econômico nada entediante. O continente tem protagonizado grandes disputas recentes: crise econômica e seus desdobramentos sociais, a resistência dos trabalhadores frente aos pacotes de austeridade – o Brexit-, crescimento da direita e da extrema direita, crescente fluxo migratório e xenofobia.

Na França, palco de grandes tensões, a primeira disputa do ano será a eleição presidencial nos dias 23/04 e 07/05, primeiro e segundo turno (11 e 18/06 eleições parlamentares). O país é um dos mais importantes do continente, com uma crescente xenofobia, enfraquecimento da esquerda, pacotes de austeridade, reforma laboral e uma grande resistência dos trabalhadores. É nesse contexto em que se darão as eleições numa das principais potências europeias.

Quem são os candidatos e o que defendem?

Acontecerá no dia 22/01 o primeiro turno das primárias da esquerda francesa para escolherem seus candidatos (o segundo turno será no dia 29/01). Os dirigentes do Partido Socialista (PS) esperam mobilizar entre 1,5 a 2 milhões de pessoas às urnas, mesmo com o partido em crise aberta. Será um grande desafio para a esquerda francesa, para tentar se recuperar de um desgastado governo François Hollande (apenas 4% dos 17 mil entrevistados aprovam seu governo, como publicou o Le Monde em 25/10/2016 e depois das primárias da direita que levaram quase 4,5 milhões de pessoas às urnas. O Partido Socialista está fraco na disputa, ficando em 5º lugar nas pesquisas contra a direita, não passando dos 10% de intenção de votos. A probabilidade é que o segundo turno seja disputado entre a direita e a extrema direita.

De modo geral, todos os candidatos da esquerda têm acordo que o programa de François Fillon (Les Républicains, partido de direita) para a Seguridade Social e outras políticas de precarização dos serviços públicos são um perigo ao país por discriminar mais ainda os pobres. Existe uma pressão do PS para que saia apenas um candidato na esquerda como forma de barrar a direita nas eleições, ou seja, barrar o candidato com maior índice de intenção de votos, Fillon.  Valls, Montebourg, Peillon e Hamon são todos ex-ministros de François Hollande, portanto a campanha da esquerda terá, provavelmente, um tom de “eu lutei contra as políticas aplicadas por Hollande, por dentro do governo”. Veja abaixo as principais propostas dos candidatos:

Manuel Valls é o candidato mais cotado nas primárias e pertence a ala direita do PS. Defende o fim da jornada de 35 horas e o imposto sobre fortunas. No primeiro debate televisivo entre os candidatos da esquerda, ele afirmou que tem orgulho de ter servido ao governo em um momento tão difícil do país (referindo-se à luta contra o terrorismo, defendendo inclusive a continuidade da guerra contra os terroristas). Defende também a diminuição de impostos para a classe média, isenção fiscal de horas suplementares e a desburocratização do sistema de seguro desemprego.  Propõe também uma reforma política com a limitação do número de deputados e senadores. Entre todos os candidatos, é o que mais representa a continuidade.

Arnaud Montebourg (PS) é o grande adversário de Valls nas primárias, com chances de vitória. Defende forçar os empregadores à contratação de mais funcionários e a aumentar o salário dos trabalhadores assim que aumente o lucro dos patrões. Propõe investir 20 bilhões de euros em infraestrutura e a revogar a Lei do Trabalho, de Hollande. Ainda defende o direito de voto aos estrangeiros nas eleições locais. O candidato propõe a entrada de cidadãos no Senado por sorteio.

Benoît Hamon (PS) defende uma renda mensal fixa para todos os franceses em um valor de 750 euros, rejeitada por todos os outros candidatos (à exceção de Jean-Luc Bennahmias) e inclusive valorizar o salário mínimo em 10%. Assim como Montebourg, defende revogar a Lei do Trabalho. Uma de suas políticas para a saúde é a de legalizar a cannabis.

 

Vincent Peillon (PS) afirma que pode fazer melhor do que Hollande fez em seu mandato. Assim como Valls, defende a continuidade da guerra contra o terrorismo. Em política social, defende um benefício fiscal para os mais necessitados em relação ao imposto residencial. Peillon defende a criação de Comitê de Cidadãos para aplicação do plano de governo.  Jean-Luc Bennahmias (Frente Democrática) defende também a legalização da cannabis e a construção de clínicas para administrar emergências não graves. François de Rugy (Partido Ecologista) defende aumentar o salário líquido dos trabalhadores, retirando diversas contribuições corporativas. Propõe a obrigação de critérios de proteção ao meio ambiente para contratos públicos e criar um pacto de responsabilidade econômica, ecológica e social em supermercados. Defende a legalização da eutanásia. Uma de suas propostas é o voto obrigatório.  Sylvia Pinel (Partido Radical de Esquerda) defende a isenção de impostos para a empresa que contratar por tempo indeterminado. Em política social defende facilitar a adoção de filhos por casais ou solteiros homossexuais. Assim como Benoît, defende a legalização da cannabis para tratamentos de saúde.