Por: Artemis Martins, MAIS, Fortaleza-CE
Foi aberta, no dia 10 de dezembro de 2016, a exposição Infância Refugiada, da fotógrafa cearense Karine Garcêz*. Dentre os mais de dois mil registros que a fotógrafa possui, trata-se de uma mostra de vinte e cinco fotografias em preto e branco, bem como de quatro fotografias táteis (todas legendadas em braile), de crianças palestinas vítimas da guerra na região do Oriente Médio.
A data para abertura da exposição não foi despretensiosa: Há 68 anos era proclamada pela ONU a Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma tentativa de regular a relação entre o Estado e os indivíduos, bem como de apaziguar – notoriamente sem êxito – os conflitos inerentes às contradições da sociedade capitalista.
As tensões bélicas no Oriente Médio se iniciaram em 1948 com a criação, pela própria ONU, do estado de Israel. Desde então a região vive uma sequência de guerras – disputas de cunho político e econômico – protagonizadas por Israel e países árabes ou mesmo desses países entre si.
Conforme os dados da Organização das Nações Unidas, há mais de 50 milhões de refugiados no mundo, sendo que aproximadamente 5 milhões desses se encontram em retirância desde 1948. São homens, mulheres e crianças desenraizadas, pessoas que foram obrigadas a deixar familiares, seus lugares e suas culturas de origem.
Atualmente, cerca de um terço dos refugiados palestinos vive em campos na Jordânia, no Líbano e em Gaziantep (cidade da Turquia que faz fronteira com a Síria). Nesse último, se refugiam aproximadamente 80 mil crianças e adolescentes sírios. De acordo com os dados do ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – o conflito na Síria já resulta em 4,9 milhões de refugiados.
Não estão contabilizados nesses números os refugiados palestinos que vivem na Síria e, em virtude dos conflitos com seus países de origem, não possuem direito ao retorno. Dentre eles, 3,5 milhões de crianças que, segundo o relatório, estão fora da escola se localizam predominantemente em países como Chade, República Democrática do Congo, Etiópia, Quênia, Líbano, Paquistão e Turquia.
A arte, em destaque aqui para a fotografia, agrega à estética humana não apenas o momento da fruição, mas também, o desenvolvimento da consciência e a apreensão do mundo.
Por isso, a ética da imagem contida na exposição fotográfica de Karine Garcêz nos leva, entre poesia e drama, à reflexão e ao debate acerca da violência, da opressão e exploração aos quais estão submetidos os povos palestinos.
Para além de uma narrativa visual ou da mera captação do tempo, as imagens expostas falam da incontestável inclusão da pauta de refugiados como ponto programático para qualquer organização política revolucionária, e como causa dos ativistas humanitários
Infância Refugiada
Combina estética e política de maneira sensível e poética. Apresenta a crueldade do capital nos conflitos bélicos sem, no entanto, mostrar uma só gota de sangue. Retrata, com a sensibilidade do olhar de Karine Garcêz, imagens feitas entre os anos de 2014 e 2015 nos campos de refugiados da Síria, Líbano e Turquia. Fala da contradição entre a dramática e perversa condição em que vivem as crianças refugiadas palestinas e a esperança com a qual resiste a infância.
Através de expressões duras e envelhecidas, de rostos e corpos empoeirados, da perplexidade diante da miséria, das ruínas e da orfandade, é possível observar ensaios de sorrisos, ainda que tímidos, que falam sobre a beleza, a ingenuidade e a alegria, universais, das crianças.
Impossível é não se emocionar diante das diversas expressões fotografadas, dos olhares de meninas e meninos que, apesar de tolhidos da dignidade de sua infância, preservam um fio da esperança de que outro mundo ainda lhes seja possível.
INFÂNCIA REFUGIADA – Crianças palestinas na Turquia, Líbano e Síria
Em cartaz de 10 de dezembro de 2016 à 18 de fevereiro de 2017
Entrada franca.
MUSEU DA IMAGEM E DO SOM (MIS) – CE
Av. Barão de Studart, 410 – Meireles
Agendamento de visitas: 3101.1204
(*) Karine Garcêz é fotógrafa cearense convertida ao islã e teve seu primeiro contato com o Oriente Médio em visita à Arábia Saudita. Em 2012 esteve na Faixa de Gaza, onde teve suas primeiras aulas de fotografia. Viajou em 2014 e 2015 para Síria, Líbano e Turquia, momento em que realizou os registros dos quais resulta essa exposição.
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