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BRASIL

Petroleiros respondem carta em que presidente da Petrobras ataca os Sindicatos e a Greve Natalina

RJ – MOVIMENTAÇÃO/PETROBRAS – GERAL – Movimentação em frente ao prédio da Petrobras localizado na Avenida Republica do Chile, n° 65, no centro do Rio de Janeiro, na manhã desta terça-feira (01). 01/04/2014 – Foto: ALE SILVA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Por Pedro Augusto, do ABC Paulista, SP

Os petroleiros realizaram greve durante a semana do natal, em meio à campanha salarial e à luta contra a privatização da empresa. A ampla adesão a essa greve , nessa época do ano, evidencia ao mesmo tempo a insatisfação dos petroleiros com os rumos da Petrobras e a disposição de encarar uma luta que já demonstrou que será difícil.

Como tem feito desde que assumiu a presidência da Petrobras, indicado pelo governo Temer em Maio de 2016, Pedro Parente enviou uma carta aos trabalhadores através do e-mail corporativo, assinada apenas como Pedro. Na carta, Pedro Parente atacou duramente os Sindicatos, questionou a legitimidade da greve e exaltou as equipes de contingência formada funcionários com cargo de confiança que, em algumas unidades, operaram as refinarias enquanto a maioria dos trabalhadores estava em greve na noite de natal.

A carta de Parente, que não pode ser reproduzida por ser corporativa, provocou intensa reação entre os petroleiros e foi respondida por trabalhadores em uma outra carta, que está circulando pelos grupos de whatsapp da categoria. Confira*:

Caríssimos Pedro e demais diretores,

Feliz 2017?

O ano virou, mas o desafio dos petroleiros continua sendo defender a Petrobras, os nossos direitos e empregos das metas nefastas do plano estratégico 2017-2021.

Por isso, os petroleiros não tremeram a mão e, dando sequência às mobilizações que ocorreram em diversas bases do país ao longo da campanha salarial, fizeram em diversas unidades greve durante o natal, sendo que muitos inclusive desejavam dar sequência numa greve por tempo indeterminado.

Em carta divulgada pelo e-mail corporativo aos petroleiros, em 02/01/2017, você, Pedro, faz menção aos grupos de contingência, “que deixaram de passar o natal com as suas famílias” para garantir a produção, como exemplos da “coragem de seguir em frente”.

Esse seu comentário deixa claro que do ramo de petróleo o senhor presidente só conhece os números. Os petroleiros que trabalham em turno ininterrupto de revezamento passam não só o Natal longe de suas famílias, mas também o Ano-Novo, o Carnaval, a Páscoa, os aniversários dos filhos e filhas, dos companheiros e companheiras, durante o dia, à noite ou de madrugada, em terra, alto-mar ou no meio da floresta. Essa é a rotina daqueles que garantem a nossa produção em todos os dias do ano há mais de 63 anos. Portanto, tua homenagem não é capaz de sensibilizar ninguém, nem mesmo os próprios homenageados. Aliás, muitos dos que furaram a greve para ser parte dos grupos de contingência o fizeram em base ao assédio moral e à evidente ameaça à manutenção de seus cargos comissionados, e não por suas “convicções”, como queres fazer crer em tua carta.

Enquanto isso, no mesmo dia em que aqueles que furaram a greve foram afagados de forma hipócrita por você, os petroleiros que produzem toda a riqueza da Petrobras e que, legitimamente, exerceram o seu direito constitucional de greve, começaram a ser informados de que o RH da empresa já providenciou o desconto, com reflexo, dos dias parados, antes mesmo do término da negociação da campanha salarial. Importante lembrar, Pedro, que muitos dos que ficaram trabalhando não eram do grupo de contingência e o fizeram seguindo orientação da assembleia, para garantir o cumprimento da lei de greve. Por sinal, seus gerentes constantemente se recusam a cumprir a mesma lei (7.783/89) que estabelece em seu artigo 9° a necessidade de haver negociação entre a patronal e os representantes dos trabalhadores no intuito de se estabelecer a contingência.

Pedro, tu demonstrou, com ambas atitudes, que pretende agraciar com palavras aqueles que cumprem as suas ordens para debilitar o movimento grevista, e punir arbitrariamente aqueles que lutam de forma legítima pelos seus direitos e defendem a Petrobras.

Você também questiona, em tua carta, o papel dos Sindicatos que, supostamente, teriam direcionado mensagens jocosas e desrespeitosas aos grupos de contingência, enquanto o papel destes, segundo você Pedro, seria o de “defender e respeitar TODOS os trabalhadores da companhia”. Caberia aqui uma pergunta: não seria o seu papel, como presidente da Petrobras, também o de defender e respeitar a TODOS os trabalhadores e as trabalhadoras da companhia? Ou isso só vale para os sindicatos? Caso também valha para você, o mínimo que você deveria fazer é garantir a manutenção de TODOS os direitos dos petroleiros, garantir que não ocorrerá qualquer perda salarial daqueles que cotidianamente dão a vida para a Petrobras, proibir que sejam descontados dos salários os dias da greve, e deveria suspender esse plano de negócios aprovado de forma arbitrária, sem qualquer consulta às partes interessadas, que são os petroleiros e as petroleiras, assim como o conjunto dos trabalhadores e da juventude do nosso país. Um plano tão absurdo que vende e doa áreas sem licitação, tanto que algumas vendas estão suspensas mediante ação judicial de um dos nossos sindicatos.

Você também diz em sua carta que a régua que você mede o compromisso da Petrobras com a sua força de trabalho não é a compensação financeira, e sim a recuperação da Petrobras. Aqui, novamente, demonstra que não tem noção com quem está lidando. A recuperação da Petrobras já está sendo feita todos os dias com a excelência do seu corpo técnico, que atingiu em Junho de 2016 a marca de produção de 1 milhão de barris por dia no Pré-sal, em menos de dez anos após a descoberta dessas jazidas, em um tempo recorde na indústria de petróleo. E isso tudo a um custo inferior a US$ 8 o barril, menor inclusive do que o custo médio de extração nas outras áreas de exploração da Petrobras, fruto das pesquisas e da expertise acumulada pelo nosso corpo técnico (http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/nossa-producao-de-petroleo-no-pre-sal-ultrapassa-1-milhao-de-barris-por-dia.htm).

Será que tu, Pedro, achas que também é responsável por essas conquistas, mesmo tendo chegado à Petrobras há pouco mais de seis meses? Imaginas que são o plano de negócios 2017-2021 e as vendas de ativos que estão recuperando a Petrobras, ou é a competência dos seus trabalhadores e trabalhadoras, concursados e terceirizados, que há décadas tem se dedicado a construir a maior empresa do Brasil?

Aliás, quando você diz que a correção no salário exigida pelos petroleiros estariam “acima das capacidades financeiras da empresa, surge uma pergunta que não quer calar: pagar antecipadamente uma dívida de R$ 16,7 Bi para o BNDES também estaria acima da capacidade da Petrobras ? Parece que o caso aqui é uma questão de prioridades. Para atender à política econômica do ilegítimo governo Temer, vale tudo. Já para negar as legítimas reivindicação dos petroleiros, vale até mentir.

Realmente, Pedro, usamos réguas diferentes. Se a sua intenção com essa política de cartas sensacionalistas de um lado e punições à grande maioria dos petroleiros de outro for quebrar a nossa resistência, saiba que você só está jogando gasolina na fogueira.

Há um ponto, no entanto, que precisamos concordar contigo, Pedro: 2017 será o ano da virada. Se até aqui os planos de desmonte da Petrobras e arrocho e demissões dos petroleiros tem avançado, nesse ano a luta nacional dos petroleiros pode virar esse jogo, derrotando o projeto entreguista da cúpula da Petrobras, a serviço do governo Temer e das multinacionais.

Até a próxima batalha, do lado oposto da trincheira.

Petroleiros lutando em defesa da Petrobras, 03/01/2017.

* Por tratar-se de carta corporativa,