Um crime chocou o Brasil:
Um homem matou sua ex esposa, seu filho de 8 anos e mais 10 pessoas na noite do réveillon. Em seguida, cometeu suicídio. As motivações que o levaram a agir foram a raiva da não aceitação do término do relacionamento e a reivindicação da guarda do filho (que fora perdida sob a acusação de que ele abusava sexualmente da criança).
“Morto também já estou, porque não posso ficar contigo, ver você crescer, desfrutar a vida contigo por causa de um sistema feminista e umas loucas… Filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres, tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!” escreveu.
Vivemos um momento conservador e uma onda de direita que toma o país. A crescente conservadora não é resultado da vontade popular, mas da imposição da burguesia para o fortalecimento do neoliberalismo. Para tanto, é preciso que o ideal familiar seja mantido, a submissão feminina, a criminalização negra, o ódio à existência LGBT.
Políticos e personalidades como Jair Bolsonaro, Feliciano e Silas Malafaia a todo momento fazem discursos contra as mulheres, LGBTs e os negros e negras. O resultado é o aumento considerável dos crimes envolvendo intolerância e opressão, como ocorreu na noite de natal, com o assassinato, em São Paulo, do ambulante Luiz Carlos Ruas, em um crime que expressa a LGBTfobia. Agora ainda temos o crime cometido em Campinas.
O sistema propicia um terreno fértil para a propagação desses discursos que não ficam apenas na fala, mas que tem matado milhares de mulheres todos os dias.
Com leis que dificultam e retiram os direitos conquistados por movimentos sociais, a situação é de que a marginalização da liberdade feminina seja cada vez mais sufocada pela moral conservadora e patriarcal, e de que esse tipo de comportamento odioso e criminoso seja justificado pela “honra da conservação familiar”, argumento muito utilizado para a diminuição da pena de agressores que cometiam crimes contra mulheres.
Com a negação da implantação de direitos às minorias que existem na constituição, mas que não são aplicados graças ao estado que protege as classes privilegiadas socialmente, há notoriamente uma propensão sistemática do ódio às minorias.
O que ocorreu em Campinas foi um crime machista e enquanto a sociedade não encarar que o machismo mata mulheres de forma epidêmica todos os dias, e enquanto não encarar que o combate ao machismo deveria ser uma obrigação do Estado e dos governos, as mulheres continuarão morrendo e seus filhos e familiares continuarão sendo destruídos. O machismo está arraigado na ideologia patriarcal e no capitalismo, e o sistema de exploração o perpetua para arrancar vantagens.
As escolas poderiam ter o combate ao machismo como uma obrigação no currículo, mas o que vimos em 2016 foi a educação de gênero ser arrancada dos planos educacionais. O Estado deveria ter propagandas diárias contra o machismo na televisão, mas o que vemos são propagandas, músicas, novelas e todo tipo de lixo midiático reproduzindo o machismo nos meios de comunicação. O Estado também poderia destinar muitos recursos para a proteção e para a aplicação de fato da Lei Maria da Penha, mas o que estamos vendo, é zerarem as verbas para o combate à violência contra a mulher. Precisamos começar a colocar a responsabilidade por estes crimes nas mãos do Estado e de todos os governantes que são negligentes, cúmplices ou até mesmo incentivadores do machismo.
É preciso lutarmos nas ruas, na Internet, nas nossas comunidades, realizar coletivamente um combate a um governo ilegítimo e fortalecedor do ódio às minorias e do discurso conservador que ataca mulheres, pessoas negras, LGBTs e pobres, exigir que as políticas públicas existentes sejam efetivadas e que novas políticas que previnam os crimes de ódio e intolerância sejam impostas e aplicadas.
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