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BRASIL

Cinco motivos para os soldados, cabos, sargentos e subtenentes não se iludirem com a família Bolsonaro

Por Evandro Castagna, Curitiba, PR

1. A família Bolsonaro é defensora intransigente da atual estrutura hierárquica, autoritária e militarizada das forças repressivas. Portanto, são contrários a PEC 51[1] que caminha no sentido de ampliar as liberdades democráticas aos praças. Defendem inclusive o absurdo retorno da ditadura militar no país que, diga-se de passagem, ainda reina absoluta atualmente nos quartéis. Como disse em artigo anterior, o/a soldado é considerado/a “um corpo sem cabeça” pelos oficiais (tenentes, capitães, majores e coronéis) e governadores de estado. As regras são autoritárias, as punições severas e as humilhações cotidianas. Aos praças é negado o direito de greve, de sindicalização, de lutarem pelos seus direitos e elegerem seus superiores. A situação é dramática e quando a crise aumenta são suas mulheres e mães que vão para a rua protestar. Aos soldados não é dado nem mesmo o direito de optar por não reprimir os trabalhadores e a juventude que lutam por direitos e salários. Qualquer insubordinação é punida com processos administrativos, prisões e ameaças de demissão.

2. A família Bolsonaro participou diretamente do golpe institucional que derrubou Dilma Roussef da Presidência da República. É base de apoio de Temer e são amigos do mafioso Eduardo Cunha. O golpe, como já sabemos, teve como objetivo acelerar as “medidas anti-crise” – que vinham sendo aplicadas em velocidade menor por Dilma – e significam ataques, sem precedentes na história recente, aos trabalhadores e a juventude, através da PEC 241/55, Reforma da Previdência e Trabalhista e a MP do Ensino Médio. Essas medidas, apoiadas pelos Bolsonaros, atingem toda classe trabalhadora, inclusive os praças e seus familiares. Os parlamentares da família Bolsonaro (PSC) mudaram seu voto logo após o escandaloso jantar/banquete dado por Temer à sua base aliada.

3. A família Bolsonaro não questiona a falsa democracia existente em nosso país, os altos salários dos políticos e  suas regalias, a existência de um senado federal que só serve para acomodar ex-presidentes e ex-governadores, o financiamento de bancos, empreiteiras e fábricas nas campanhas eleitorais. As poucas vantagens que os trabalhadores tem na Constituição de 1988 são destruídas todos os dias aos olhos vistos e com apoio dos Bolsonaros.

4. A família Bolsonaro defende o método da repressão e violência, de uma “guerra suja” contra as drogas. São contrários ao entendimento racional de que o abuso de drogas precisa ser encarado como um problema de saúde pública e o tráfico combatido com descriminalização e controle social da produção, distribuição e consumo, inclusive gerando impostos. A política dos Bolsonaros “contra as drogas” só serve para dar audiência a programas sensacionalistas de rádio e TV, estimular o ódio da população da periferia contra os policiais e levar milhares de policiais militares e jovens pobres (em sua maioria negros/as) à morte numa guerra sem fim, sem vencidos nem vencedores. A população carcerária só aumenta e o problema cada vez mais se agrava.

5. Por fim, a família Bolsonaro representa o que se tem de pior na política. São elitistas, individualistas, machistas, homofóbicos e militaristas, aproximam-se, neste sentido, do modelo de organização do fascismo do século XX. A resposta pra todos os problemas sociais se reduz à ampliação da repressão estatal, mesmo que seja sobre crianças e adolescentes, através da redução da maioridade penal. O futuro, se depender do projeto social apresentado pelos Bolsonaro, levará nossa espécie para um processo de embrutecimento, animalização e barbárie.

A extrema direita só tem a oferecer mais violência e miséria para o conjunto da sociedade, inclusive aos praças e seus familiares. Todos eles estão ao lado de grandes burgueses que representam menos de 1% da população e detém mais da metade de toda a riqueza do planeta. São contra a democratização nos quartéis que só pode acontecer com a desmilitarização e ampliação das liberdades democráticas. Apoiam as medidas contra a juventude e os trabalhadores de Michel Temer. Enfim, não merecem nossa confiança.

O governo do PT poderia ter avançado em muito na ampliação das liberdades democráticas nas forças armadas. Isso não aconteceu justamente por causa da política de conciliação com os partidos da direita golpista que este partido defendeu durante todo período que esteve no governo. A justificativa foi sempre a mesma: é necessária para “manter a governabilidade”. Em nome dessa “governabilidade” a direção do PT jogou na lata do lixo da história seu programa democrático. Nesse sentido, é justa a crítica feita pelos praças de esquerda à direção do PT.

Tomemos o corajoso exemplo dos policiais do Rio de Janeiro que se recusaram reprimir os trabalhadores. O lugar dos policiais é do lado de cá da trincheira, ao lado daquelas/es que lutam nas ruas e greves por nenhum direito a menos, pelo Fora Temer, por liberdades democráticas. Essa bandeira somente as organizações da esquerda, socialista e classista, serão consequentes em empunhar.

[1] Projeto apresentado pelo Senador Lindberg Farias (PT/RJ) logo depois da brutal repressão policial durante as chamadas “jornadas de junho” de 2013.