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BRASIL

O que significa a política da Petrobras que levou ao aumento dos preços dos combustíveis em dezembro

1/08/2005-Plataforma fixa de Namorado 1 na Bacia de Campos

Por: João Gabriel Almeida, ABC, SP

Na primeira segunda-feira desse mês (5), o dia em que Renan Calheiros fora deposto provisoriamente da presidência do senado federal, a Petrobras anunciou, sem holofotes, o primeiro aumento no preço dos combustíveis desde a inauguração da nova política de precificação em outubro.

As variações na saída das refinarias, aplicadas no dia seguinte (6) ao anúncio da revisão de preços, foram de 8,1% no diesel e e 9,5% na gasolina. Caso os aumentos fossem integralmente repassados ao consumidor, eles representariam cerca de R$ 0,17 (5,5%) por litro no diesel e R$ 0,12 (3,4%) por litro na gasolina.

Segundo a Petrobras, as motivações para essa decisão vieram de um aumento nos preços do petróleo e derivados, seguido por uma desvalorização da taxa de câmbio no período recente e uma leve recuperação na fatia de mercado (market share) do Diesel.

Diferentemente das duas últimas reduções, que foram neutralizadas pelo aumento nos preços dos aditivos e absorção de uma fatia do desconto como lucro das distribuidoras, as consequências do aumento foram integralmente repassadas ao consumidor.

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diesel

Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP) o acréscimo no preço dos combustíveis foi, na média nacional, de 2,44% no diesel e 3,85% na gasolina, nas duas semanas subsequentes.

A partir disso se estabeleceram dois cenários: um que acusa uma variação de –5,75% no preço do diesel e + 2,71% na gasolina, considerando o praticado pela Petrobras; e +1,33% e +2,9% no diesel e na gasolina, respectivamente, considerando preço praticado pelos postos de combustíveis.

A disparidade entre os cenários e a tendência de subida dos preços

O preço dos combustíveis é fortemente afetado pelo preço do Petróleo, que tem se mantido em queda desde o segundo semestre de 2014.

A desaceleração da economia chinesa, os efeitos retardados da crise em alguns mercados emergentes, a exploração de outras fontes de energia e hidrocarbonetos no EUA (como gás e óleo de xisto) e a diminuição de demanda dos mercados europeus e asiáticos devido ao baixo crescimento de suas economias são fatores que explicam o preço baixo.

Apesar de especulações que sugerem questões geopolíticas para além do mercado petrolífero, o que se tornou oficial para explicar a não interferência da Organização dos Países Exploradores de Petróleo (OPEP) na derrocada do preço da commodity foi o início do boicote da Arábia Saudita aos Estados Unidos, sendo os dois o segundo e o primeiro maiores extratores de petróleo do mundo.

Aos Estados Unidos, que não pertence à organização, pelo uso de outras tecnologias de exploração do Petróleo e outras fontes de óleo, como a mineração de xisto, que fizeram a produção deste país subir 40% nos últimos sete anos.

A despeito do preço do petróleo em janeiro ter chegado a U$ 30 por barril, menor patamar desde 2003, os combustíveis no Brasil sofreram reajustes colocando o preço acima do mercado por uma mudança de política de preços que tentava recuperar o caixa da empresa devido aos anos anteriores em que o preço estava abaixo do valor no mercado interacional.

A inauguração da nova política de preços da Petrobras veio em um momento de expectativa de corte de produção por parte da OPEP. Esse corte foi ansiosamente esperado e anunciado pelo mercado do petróleo de todo o mundo, tendo sido tema de várias reuniões da organização em 2016.

O anúncio do corte de produção aconteceu no dia 30 do mês passado quando países da OPEP-Rússia disseram a agencia de notícia Reuters a decisão por limitar a produção em 32,5 milhões de barris de petróleo por dia ante a produção atual de 33,64 milhões de barris por dia. Um outro encontro da OPEP com 13 países de fora da organização garantiram um corte de outros 558 mil barris por dia, segundo a Reuters.

E foi esse anúncio um dos principais fatores que pressionaram o preço internacional dos combustíveis e levou a revisão de preços por parte da Petrobras. Com o cenário desse acordo, a expectativa é de um longo e firme crescimento do preço do Petróleo para os próximos anos segundo os analistas desse mercado.

A tendência é que o GEMP da Petrobras aumente o preço dos combustíveis nesse novo período, pressionando a meta de inflação do governo e diminuindo o poder aquisitivo para a classe trabalhadora.

Como funciona a nova política de preços e sua relação com o mercado financeiro

Algumas das mais contundentes mudanças da gestão do Pedro Parente na Petrobras são o Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 e a nova política de preços de combustíveis. O que foi muito pouco apreciado nas discussões sobre os impactos sociais das medidas do governo Temer.

A despeito das pautas relacionadas a Petrobras rondarem, nos grandes veículos de mídia, apenas as notícias sobre a operação lava-jato e seus desdobramentos, o mercado tem reagido fortemente a cada medida apresentada pela empresa.

As consequências para o futuro

A nova política de preços foi gestada pelo Grupo Executivo de Mercado e Preços (GEMP) criado em outubro e composto pelo presidente da empresa, Pedro Parente, o diretor do Refino e Gás Natural, Jorge Celestino Ramos e o diretor financeiro e de relações com os investidores, Ivan de Souza Monteiro.

O grupo avalia mensalmente os preços praticados internacionalmente, riscos associados a operação e nível de participação no mercado. De lá pra cá, foram duas reduções de preços de óleo diesel e gasolina na saída das refinarias em outubro e novembro.

Os descontos acumularam 13,9% no diesel e 5,9% na gasolina. Ambos reajustes foram motivados pela queda de preço de combustíveis no mercado internacional e pelo crescimento da importação de combustíveis de distribuidoras privadas que alcançaram, em novembro, 14% do mercado interno de diesel e 4% do mercado interno de gasolina.

As ações preferenciais da Petrobras, que são aquelas que têm preferência no recebimento de dividendos, subiram 3% quando do anúncio da criação do grupo executivo de mercado e preços e da primeira redução dos combustíveis em outubro.

Parte disso se devia, segundo analistas, como o BTG Pactual, consultado pelo jornal Valor Econômico naquela ocasião, à perspectiva de recuperação no cenário internacional da indústria petrolífera, a maior previsibilidade no lucro das refinarias e, consequentemente, uma valorização desses ativos para privatização.

Naquele momento de redução parecia estranho o movimento do mercado de reagir positivamente a essa variação, mas aquele comportamento já era, em partes, um reflexo da perspectiva de aumentos como esses que se tornarão mais comum nos próximos anos.

Essa política de preços também expõe o consumidor a uma maior volatilidade nos preços dos combustíveis.

Faltam aqui algumas análises sobre a resistência da Petrobras em atender a um pleito mínimo dos empregados da empresa com o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) de 2016, que se arrasta desde setembro, em contraste com a geração de caixa e perspectiva de crescimento no lucro do próximo período.

Além disso, também carece um levantamento mais aprofundado das outras questões que fizeram oscilar o valor das ações da empresa como, por exemplo, a maior fragilidade do governo Temer demonstrada nos últimos meses

Fonte: Dados da ANP

Fontes: G1, Isto é, Infomoney, Petrobras e ANP.