Por: Renato Fernandes, de Campinas, SP
Após anos de neoliberalismo na década de 1990, a Argentina sofreu uma grande crise econômica: desvalorização da moeda argentina, desemprego em massa (chegando a mais de 20%), queda brutal do investimento e do Produto Interno Bruto (PIB) que despencou -4,4% em 2001 e chegou ao abismo com a queda de -10,9% em 2002.
Frente a essa situação catastrófica, a classe trabalhadora do país fez uma verdadeira insurreição: piquetes nas ruas e estradas; greves no serviço público e privado e manifestações massivas. O ponto auge da revolução democrática argentina foram as jornadas de 19 e 20 de dezembro de 2001, na qual milhares de trabalhadores e jovens saíram às ruas e derrubaram o então presidente Fernando De La Rúa e o Ministro da Economia Domingo Cavallo, responsável por aplicar uma das medidas mais impopulares: o “corralito”, medida que restringia o saque de dinheiro nas contas correntes. A repressão nesses dois dias causou a morte de 39 pessoas em todo o país.
A insurreição massiva contra o estado de sítio decretado por De La Rúa em 19 de dezembro de 2001 derrubou, ao todo, cinco presidentes. Além disso, após a insurreição, iniciou um processo de organização de poder dual, com assembleias populares nos bairros, das quais chegaram a participar milhares de trabalhadores e jovens.
Foi um processo muito importante que sacudiu a Argentina e que explica tanto a possibilidade dos governos de Nestor e de Cristina Kirchner, quanto do espaço que os partidos de esquerda conseguiram obter e que, atualmente, tem sua maior expressão na Frente de Izquierda y de los Trabajadores (FIT).
Grande ato do sindicalismo combativo e da esquerda radical
A partir de um chamado do Sindicato da Borracha (SUTNA), recentemente ganho pela esquerda radical na Argentina, algumas dezenas de organizações de bairro, sindicatos e partidos políticos organizaram uma grande marcha em Buenos Aires em comemoração aos 15 anos do Argentinazzo. Ocorreram marchas também em diversas cidades, como Córdoba, Mendonza, Jujuy, entre outras.
Na Capital Federal, a marcha reuniu milhares entre o Congresso Nacional e a Praça de Maio, onde fica o Casa Rosada (Palácio Presidencial). A organização unitária teve como objetivo denunciar o governo Mauricio Macri e também a trégua que a principal central sindical, a CGT, negociou com o governo. Ainda que a situação não seja igual à de 2001, o desemprego cresceu nos últimos anos na Argentina, assim como a desvalorização da moeda nacional. Além disso, pediam a punição dos culpados pela repressão do levante de 15 anos atrás.
Um dos pontos fortes da marcha foi a unificação entre a esquerda radical. Estavam presentes os principais sindicatos combativos, mas também os partidos da FIT (Partido Obrero, Partido de los Trabajadores Socialistas, Izquierda Socialista, PSTU Argentino, entre outras organizações) e também o Nuevo MAS e o Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST), que conformaram recentemente a “Izquierda al frente por el Socialismo”. Essa unidade foi uma clara demonstração de que a unidade de ação pode servir para a esquerda radical se postular como alternativa para os trabalhadores e para a juventude.
O vídeo do ato pode ser visto aqui (em espanhol)
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