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OPRESSÕES

#NemUmaAMenos em Natal (RN)

Por: Luana Paola, de Natal, RN.

Foi uma tarde de dor, de choro, de falas entrecortadas pelo nó na garganta. Foi uma tarde de luto e luta! Nos reunimos em algumas dezenas num gesto de solidariedade, misto de revolta e dor, para dizer basta! Basta de machismo na nossa sociedade! Chega de tantas mulheres mortas pelo simples fato de ser mulher!

Estávamos ontem, naquela tarde que irá marcar nossas memórias, em luto por mais uma jovem vítima de feminicídio da Grande Natal. Anna Lívia Salles tinha apenas 19 anos e foi assassinada à facadas pelo seu ex-companheiro e pai de seu filho, Felipe Cunha Pinto (19), em uma cena bárbara, daquelas que a gente não gostaria de relatar. Anna Lívia amamentava seu filho pela última vez. Em um ato covarde, teve sua vida ceifada, sem chance de defesa, apenas por que “ousou” dar um fim em uma relação abusiva, cheia de agressões e conflitos. Em meio a uma sociedade onde o machismo está tão impregnado, Anna foi ousada em tentar dar um ponto final nessa história povoada de traumas e dores. Ousou e pagou com a vida. Anna Lívia tinha apenas 19 anos e amamentava seu filho…

Relatos como o de Anna Lívia, infelizmente, não são raros. No Rio Grande do Norte, o feminicídio aumentou 32,14%. A Lei Maria da Penha não conseguiu frear essa estatística. Esse ano já foram 103 mulheres assassinadas no RN, destas, 37 vítimas de feminicídio, contra 28, ano passado. Além da naturalização do machismo, onde senso comum esbraveja que mulher não pode uma infinidade de coisas apenas por ser mulher, a lei que protege às mulheres não intimidou os homens, haja vista que os números só crescem. As falhas são diversas, como a pouca oferta de Delegacias Especializadas em Atendimento à mulher (DEAM), são apenas cinco em Natal, a falta de Casa Abrigo à mulher em situação de risco (apenas uma para atender todo o estado), o fato de as DEAM’s não funcionarem à noite nem nos finais de semana, a falta de estrutura e preparo por parte da Polícia em casos de violência contra mulher, são exemplos que figuram na nossa sofrível realidade.

Precisamos exigir do poder público mais investimento nesse setor e trabalhar massivamente para que essa cultura machista possa, enfim, acabar de vez. Não aguentamos mais tanto luto e tantas perdas, não suportamos mais ouvir tantos e tantos relatos relacionados a essa questão. Queremos dizer BASTA de violência contra mulher!

Na tarde de ontem, onde nos reunimos em ato contra toda essa barbárie, gritávamos por Anna, mas também por todas nós. Familiares, amigos, jovens e crianças saíram às ruas de Natal para mostrar sua indignação e revolta frente a essa terrível realidade. A força que se apreende diante da dor e da revolta é o combustível da luta. As lágrimas nos rostos de todos não serão em vão. Não queremos mais ter que nos manifestar por que nossa sociedade aceita essa prática. Não queremos, mas devemos. Em meio a tanta dor e sofrimento, estaremos bradando aos quatro ventos que não aceitamos mais viver assim, acuadas e amedrontadas.

Exigimos igualdade de direitos, exigimos o fim do machismo que mata e dilacera famílias, que corta sonhos e traz dor e luto a todas nós. O nosso luto se transforma em luta, e lutaremos até que todas sejamos livres. Por Anna Lívia e por todas nós! Anna Lívia Salles, PRESENTE!

Foto: Luana Paola.