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EDITORIAL

França: Emmanuel Macron  e sua revolução (neoliberal) em marcha

Por Renato Fernandes, Campinas, SP

No último sábado, 10/12, o ex-ministro da Economia do governo do Partido Socialista (PS), Emmanuel Macron fez um ato político com seu movimento En Marche que reuniu entre 12 e 15 mil pessoas em Porte de Versailles, próximo a Paris. Foi uma demonstração de força, já que uma semana antes, a frente eleitoral que sustenta o governo Hollande, a Belle Alliance Populaire, tinha realizado um ato no mesmo local com apenas 2500 pessoas.

Com o ato, Macron se consolida como um dos principais candidatos na disputa presidencial francesa com uma grande diferença: En Marche é um movimento recente, fundado há 8 meses, logo após a demissão de Macron do Ministério. Até o momento, o movimento En Marche conta com 119 mil aderentes, 2600 comitês locais de campanha e mais de 11 mil doações. Sua campanha está empolgando um setor da juventude francesa – um dos setores mais afetados pela crise econômica.

En Marche é um movimento por fora dos principais partidos políticos como o PS, Les Républicans (LR – direita tradicional) e a extrema direita de Front National (FN). Em determinado sentido, apesar de já ter sido ministro, Macron combina características tão gerais que possibilitaram outros políticos alcançarem o poder, como o de ser reconhecido mais como um “gestor” do que um “político” e sua campanha também faz uma ampla utilização das redes sociais, um grande trunfo frente aos partidos mais tradicionais.

Numa última sondagem, no dia 7/12, Macron apareceu nas pesquisas presidenciais em terceiro lugar, empatado tecnicamente com Jean-Luc Mélenchon (Parti de Gauche) e o provável candidato do PS, Manuel Valls. A variação de votos para Macron é entre 14% e 19%. Ele fica atrás dos dois principais candidatos, François Fillon (LR) e Marine Le Pen (FN). Mas, numa eleição na qual o bipartidarismo tende a sumir já que o PS deve despencar nas eleições, será que Macron conseguirá emplacar como uma alternativa?

Quem é Emmanuel Macron?

Macron foi por muitos anos funcionário público, mas fez fortuna enquanto banqueiro. Trabalhou na Rothschild & Cie, um grande banco francês especialista em fusões e aquisição de empresas, financiamento para reestruturação de dívidas empresariais e para mercado de capitais. Em 2012, por exemplo, foi o principal banco francês no ramo de fusão e aquisições de empresas (realizou 62 ao total). No Banco Rothschild, Macron foi o “conselheiro”, em 2012, da Nestlé na compra de uma filial da Pfizer, numa negociação de mais de 9 bilhões €. Isso permitiu Macron tornar-se milionário com o rendimento recebido da negociação.

Em 2014, como forma de se aproximar do principal sindicato patronal, Mouvement des Entreprises de France (MEDEF), o governo do primeiro-ministro Manuel Valls (candidato das primárias presidenciais do PS), nomeou Macron para o Ministério da Economia. Sua principal medida foi a Loi Macron: um conjunto de medidas liberais para “aumentar a produtividade” do país. Entre elas, a privatização de alguns serviços como de transporte entre cidades por carros ou táxis, privatização de aeroportos, privatização do serviço de cartórios; a facilitação de demissões coletivas por razões econômicas e também a ampliação dos domingos trabalhados no ano (de 5 para 12), entre outras medidas. Sua passagem no ministério foi um conjunto de ataques neoliberais e também de “uberização” dos serviços e direitos, transformando tudo em mercadorias.

Uma revolução em marcha?

 Em seu livro-campanha, uma coisa comum na França para os presidenciáveis, Macron defende a necessidade de fazer uma “revolução democrática profunda” (p. 4). Mas o que significa essa “revolução”?  Como podemos entender a ideia de que um banqueiro, representante direto do capital financeiro, pode realizar uma “revolução” no decadente imperialismo francês?

A “revolução” de Macron significa, em suas palavras, uma campanha pela “justiça” e pelo “trabalho”. Justiça e trabalho que significam uma redução dos impostos patronais, com diminuição das taxas de contribuição, com o objetivo de aumentar a oferta de emprego. Nada mais, nada menos, do que diminuir a arrecadação do Estado com o objetivo de aumentar a lucratividade das empresas – com uma promessa não detalhada de que isso vai aumentar o emprego.

Por outro lado, para um Estado altamente centralizado como a França, o candidato Macron promete a “desconcentração” dos poderes públicos, como por exemplo, a “autonomia completa das universidades, dos estabelecimentos escolares e das comunidades pedagógicas”, dando, na sua visão, o poder de “decidir” para quem vive a realidade de cada local.

Esse discurso não é nada mais do que a repetição do clássico discurso neoliberal: maior autonomia para os locais, inclusive para conseguirem financiamento e sustentação. É dessa forma, que Macron defendeu que não vai alterar as 35 h de trabalho semanal na França, mas que os contratos coletivos negociados entre os sindicatos e as empresas terão “autonomia” para modificar essa jornada ….

Em relação a União Europeia, Macron é um dos poucos candidatos que não somente defende, mas que quer aprofundar a liberalização econômica em áreas como a política comercial, industrial e agrícola.

Poderíamos afirmar que a proposta política de Macron é terminar a destruição do Estado de bem-estar social, começada com a presidência de François Mitterrand nos anos 1980. A única coisa que sobraria do lado da “política social” seria o seguro-desemprego que, ao contrário de outros candidatos do establishment, Macron pretende universalizar, incluindo profissionais liberais com a condição que os desempregados aceitem uma proposta de emprego quando lhe for oferecida.

Ainda que reúna condições para ser um “outsider” na corrida eleitoral, a “revolução” de Macron não é nada mais do que um aprofundamento do neoliberalismo como forma de recuperar a lucratividade das empresas francesas. Em tempos de crise e de fortalecimento de saídas nacionalistas e conservadoras e com uma forte presença da extrema-direita na França, Macron parece mais como uma possibilidade de um último suspiro neoliberal, uma carta na manga da burguesia em um momento de crise, do que uma alternativa imediata