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CULTURA

Cultura Geek e a Sociedade  - Primeira Parte

Por: Mariana Rio, do Rio de Janeiro, RJ

Estava esperado numa fila, quando me virei e dei de cara com Capitão América que estava do lado da Arlequina. Quando entrei no auditório, assisti um bate papo com Aaron de “The walking dead”, saindo do painel, dei uma passada na lanchonete para comer pipoca na cabeça de um Stormtroopers. E assim foram os quatro dias que estive no CCXP — Comic Con Experience 2016, maior evento de cultura geek do país. Esse foi o segundo ano que estive no evento, primeiro que fui nos quatro dias. Em amplo crescimento, a CCXP contou com 196 mil visitantes que consumiram centenas de conteúdos relacionados à cultura pop mundial.

Mas, para muitas pessoas essa ideia de cultura pop é obscura. De certa maneira, todos nós moradores de áreas urbanizadas com acesso à televisão consumimos cultura pop. O conceito se diferencia da cultura popular pela sua comercialização e origem, que em sua maioria vem dos países de capitalismo avançado como EUA e Japão, que possuem uma industrial cultural desenvolvida e organizada.

Como um exemplo da geração millenium, literalmente nasci vendo televisão, gosto de pensar que a televisão foi minha segunda mãe, não menosprezado a educação dos meus pais, mas na televisão, nos desenhos como Cavaleiros dos Zodíacos aprendi os valores que levo até hoje para a vida.

De certa maneira, podemos considerar a geração millenium como uma geração geek em sua essência, alguns mais, outros menos, mas todos esses jovens foram expostos ao turbilhão de conteúdo desde criança. Faça o teste. Duvido que tenham mais do que cinco pessoas da faixa dos 25 e 30 anos, que possuía televisão quando criança, e não tenha assistido Cavaleiro do Zodíaco na extinta TV Manchete e Dragon Ball Z na TV Globinho.

Todo esse boom promovido pela inclusão de famosas editoras estadunidense de comics no mundo cinematográfico, transformou um mercado antigo de nicho, numa verdadeira máquina de fazer dinheiro. Hoje, não saber que Luke Skywalker é filho do Darth Vader não prejudica em nada as pessoas em consumirem bilhões em mercadorias de Rogue One. Das dez maiores bilheterias do cinema de todos os tempos, nove são de filmes do gênero fantasia e super-heróis.

Nunca imaginação esteve tão na moda, mas, ao mesmo tempo, nunca a imaginação foi tão controlada e fabricada. Não sou daquelas pessoas que querem manter a cultura geek como cultura undergraund para satisfazer sua necessidade de exclusividade. Para mim, quanto mais popular, melhor. Mas, é necessário debatermos o estado de alienação e falta de qualidade que a chamada cultura geek vem passado.

Primeiro, quando me refiro a cultura geek estou colocando tudo no mesmo bolo. Otakus, tecnerd, viciados em música pop e geek. Não consigo tratar das múltiplas especificações desse mundo pop. Na minha opinião, os geek estão mais na moda do que outros setores por causa do cinema.

A chamada cultura geek é uma cultura de classe média, não vamos nos enganar. Ir ao cinema, comprar quadrinhos, PS4 e ir a eventos especializados custa dinheiro, devido a isso esse conceito é difícil de ser pensado além das operações de marketing. Como o Globo Repórter diria: Quem são essas pessoas? Como comem? Onde vivem? Segundo uma recente pesquisa promovida pelo grupo omelete, que aponta os hábitos e perfil dos consumidores de cultura pop nos Brasil, estamos falando de um tipo de consumidor que está longe der ser um ávido lutador contra a alienação.

Segundo a pesquisa, os fãs de cultura geek em sua ampla maioria são homens e mulheres brancas entre 18 e 34 anos (68%), moram no Sudeste (60%), possuem Ensino Superior completo, ou estão cursando (65%), contam com uma renda familiar entre dois e dez salários-mínimos (64%) e gostam de fazer compras online (91%).

Esse perfil já coloca os fãs de cultura geek em um setor específico na sociedade. Nesse sentido, podemos diferenciar o consumidor direto e indireto desse mundo pop. Como disse em cima, de uma forma ou de outra todos moradores urbanos que possuem televisão são consumidores da chamada cultura pop. Mas, exite um setor da sociedade que vai além disso, eles gasta rios de dinheiro pelas suas paixões. Alguns desses indivíduos, vivem a partir dessas paixões. Cansei de ler notícias de jovens Otakus que se submeteram às cirurgias para parecer com algum personagem de anime.

Um mundo que parece piada para algumas pessoas, principalmente do campo de esquerda, vem ganhado os corações e mentes de milhões de jovens pelo mundo. Harry Potter é mais uma inspiração de vida do que Che Guevara, para essa juventude millenium. E o pior de tudo isso é que pouco debate vem sendo feito sobre isso. Vejo todo esse boom da cultura pop relacionada com o tempo em que vivemos. O que diabos afinal é cultura pop além do boca a boca da atualidade? Um meme, um brinquedo podem ter o mesmo valor que um filme, a rapidez, a superconectividade vem produzindo uma massa de pessoas que consomem imaginação, mas não conseguem imaginar. O problema de mercantilizar uma paixão é a alienação que isso provoca nos apaixonados.

Comic Con Experience, por exemplo, é uma propaganda pura. As pessoas pagam para consumir e gastam dinheiro. Mesmo assim, eu ainda prefiro um evento desse, que tem espaço para variedade, do que nenhum evento. Mesmo com esse panorama, existe residência. Já fui colecionadora de muitas coisas na vida. De todas as minhas coleções, os quadrinhos são os mais valiosos e queridos. Eu tenho visto, nos últimos dez anos, um mercado que era dominado por homens velhos, e com pouca reimpressão, explodir. Os quadrinhos brasileiros, mesmo com pouco incetivo, vêm sendo organizado como há muito tempo não conseguia. As mulheres, que historicamente eram deixadas de lado, além de consumidoras estão produzindo muita coisa boa por aqui.

Nesse sentido, esse fenômeno chamando cultura geek é possuir caraterística tridimensionais. Foi o sistema capitalista que criou a cultura pop, tem total domínio sobre sua criação. Mas, mesmo assim, como no cinema, a arte inventada pelo capitalismo, exite diferentes formas de apropriação cultural. No próximo texto, vou discutir a influência dos videogames na massificação da cultura pop.