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Sérgio Moro: o grande político da nova direita

Especial Lava Jato

Por: Euclides de Agrela, de Fortaleza, Ceará

Enganam-se aqueles que pensam que Jair Bolsonaro, o possível candidato do Partido Social Cristão (PSC) à presidência da República em 2018, é atualmente a maior figura política da reação burguesa no país. Esse papel cabe, na verdade,ao juiz Sérgio Moro. Ele é o maior exemplo do sujeito político que não é um político profissional, mas um homem da lei, caçador de corruptos e pai de família exemplar.

Não nos enganemos, esta é uma das máscaras mais eficazes das figuras públicas da“nova direita” brasileira: políticos que não são políticos, mas homens de negócios – como João Dória (PSDB), eleito prefeito de São Paulo e Alexandre Kalil (PHS), eleito prefeito de Belo Horizonte – ou policiais –  como Capitão Wagner (PR), que chegou ao segundo turno para a prefeitura de Fortaleza. Não podemos nos esquecer que mesmo políticos tradicionais envolvidos com as igrejas neopentecostais buscam também se apoiar na fachada de líderes religiosos, como Marcelo Crivella (PRB), eleito prefeito do Rio de Janeiro.

Ainda que não seja um político tradicional, Sérgio Moro vem sendo citado em várias pesquisas para as eleições presidenciais de 2018. A última delas, publicada no dia 12 de dezembro, coloca o juiz de Curitiba empatado em um dos cenários com Marina Silva (Rede), ambos com 11%, atrás apenas do ex-presidente Lula (PT), que aparece isolado com 24%. Na mesma pesquisa, Bolsonaro, oscila entre 5% e 9%.[i] Mesmo que não seja formalmente um provável candidato à presidência da República, Moro ganhou uma notoriedade de dar inveja a qualquer pop star.

Em 2016, ele foi o principal personagem nos protestos convocados pela nova direita favorável ao impeachment da presidente Dilma. Além de gigantescos bonecos infláveis do “Super-Moro”, faixas e camisetas com seu nome e rosto estampados eram e são comuns nas manifestações da nova direita, como vimos no dia 04 de dezembro.

Existem no mercado editorial pelo menos duas biografias que fazem apologia do juiz de primeira instância. A primeira, “Sérgio Moro: O homem, o Juiz e o Brasil”, da Editora Novo Conceito, foi escrita por Luiz Scarpino Júnior, sócio fundador da Scarpino Sociedade de Advogados de Ribeirão Preto (SP).[ii] A segunda e mais destacada chama-se: “Sérgio Moro: a história do homem por trás da operação que mudou o Brasil”. Publicada pela Universidade dos Livros, tem como autora a jornalista Joice Hasselmann, demitida da Veja em 2015, porque foi denunciada pelo Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Sindijor-PR)[iii] por 65 plágios de veículos como Gazeta do Povo, Bem Paraná e G1.

Em março de 2016, Sérgio Moro foi considerado pela revista Fortune[iv] o 13º maior líder mundial. A lista citou cinquenta nomes e Moro foi o único brasileiro a entrar nela. Em abril, foi considerado pela revista Time[v] como uma das cem personalidades mais influentes do mundo, sendo novamente o único brasileiro a entrar na lista. Em setembro de 2016, foi considerado o 10º líder mundial mais influente pela Bloomberg [vi].

Relações perigosas com o imperialismo

As relações de Sérgio Moro com o Departamento de Estado dos Estados Unidos vêm de longa data. Ele cursou o programa de instrução de advogados da Harvard Law School, em 1998, e participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro promovidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Recentemente, o Wikileaks trouxe a público um documento secreto em que Embaixada dos Estados Unidos no Brasil informa ao Departamento de Estado norte-americano sobre o sucesso do seminário denominado Projeto Pontes, realizado em outubro de 2009, no Rio de Janeiro. Nele estiveram presentes o próprio Sérgio Moro e membros selecionados da Polícia Federal, do Judiciário, do Ministério Público além de autoridades norte-americanas.

Segundo o relatório do Departamento de Estado norte-americano, o objetivo do seminário seria a otimização de: “investigação e punição nos casos de lavagem de dinheiro, incluindo a cooperação formal e informal entre os países, confisco de bens, métodos para extrair provas, negociação de delações, uso de exame como ferramenta, e sugestões de como lidar com Organizações Não Governamentais (ONGs) suspeitas de serem usadas para financiamento ilícito”.[vii] (A tradução livre do inglês é nossa).

A conclusão desse mesmo relatório chega a ser ainda mais escandalosa e deixa explícita a subserviência do Judiciário brasileiro às diretrizes do imperialismo norte-americano: “o setor judiciário brasileiro claramente está muito interessado na luta contra o terrorismo, mas precisa de ferramentas e treinamento para empenhar forças eficazmente. […] Promotores e juízes especializados conduziram no Brasil os casos mais significativos envolvendo corrupção de indivíduos de alto escalão” [viii] (A tradução livre do inglês é nossa).

Por outro lado, há informações [ix] de que a esposa de Sérgio Moro, Rosângela Wolf de Quadros Moro, foi assessora jurídica de Flávio José Arns, vice do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). Ela também faz parte do escritório Advocacia Zucolotto Associados, em Maringá, que defende várias empresas petrolíferas, como é o caso da Royal Dutch Shell, uma multinacional de origem anglo-holandesa, que está entre as maiores do mundo. Nos Estados Unidos, essa gigante petrolífera tem sua sede em Houston, Texas,e emprega mais de 22 mil pessoas. A Shell foi a segunda empresa com maior participação no consórcio para a exploração da Bacia de Libra, ficando com 20%, atrás apenas da Petrobrás, que contou com 40%[x].

Concluindo, Sérgio Moro não se trata de um juiz desinteressado disposto a combater a corrupção por motivações éticas. Sem meias palavras: trata-se de um juiz com estreitas relações com o imperialismo norte-americano. Esse é único termo razoável para explicar porque um juiz de primeira instância de Curitiba acumulou em tão pouco tempo tanto poder para prender empresários nacionais (não internacionais) de peso, peitar a presidência da República, o Congresso Nacional, às vezes o próprio Supremo Tribunal Federal e, ainda, ser alçado como possível candidato a presidente da República em 2018.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

 

[i]http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/12/1840540-marina-silva-lidera-disputa-de-2-turno-para-2018.shtml

[ii]http://www.scarpino.adv.br/advogados.php

[iii]http://www.revistaforum.com.br/2015/06/23/jornalista-da-veja-e-punida-por-plagio-em-mais-de-60-reportagens/

[iv]http://fortune.com/worlds-greatest-leaders/sergio-moro-13/

[v]http://time.com/4302096/sergio-moro-2016-time-100/

[vi]https://www.bloomberg.com/features/2016-most-influential/

[vii]https://wikileaks.org/plusd/cables/09BRASILIA1282_a.html

[viii]https://wikileaks.org/plusd/cables/09BRASILIA1282_a.html

[ix]http://jornalggn.com.br/blog/iv-avatar/esposa-de-juiz-da-lava-jato-e-advogada-em-escritorio-de-advocacia-de-multinacionais-do-petroleo-como-a-shell-e-ou

[x]http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/10/tire-duvidas-sobre-o-leilao-de-libra.html