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BRASIL

No Rio, todos contra Pezão

Por: Jorge Badaui, do Rio de Janeiro, RJ

As grades e o policiamento ostensivo permanente ao redor do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, dão-lhe um ar digno de uma zona de conflito. Não é para menos. Menos de 6 meses após os Jogos Olímpicos, o Rio oferece agora um dantesco espetáculo semanal de repressão e violência policial em pleno centro da cidade. Para impor aos servidores e à população a conta da bancarrota do Estado, Pezão não economizará em bombas e balas de borracha.

Esquerda Online vem acompanhando, desde o início, a luta contra o pacote de maldades do governo do Estado do Rio. Após o último ato, nesta semana, servidores montaram acampamento nas imediações da Alerj. Os sucessivos adiamentos das votações das medidas de austeridade indicam que o governo estadual não se vê confortável na busca por coesão de sua base parlamentar. Por outro lado, deixam em alerta o funcionalismo público. Se não tiver um novo adiamento, ao menos parte dos projetos de lei deve ir ao plenário nos próximos dias.

Se a queda de braço com os servidores não está fácil para Pezão, tampouco essa é a única fonte de preocupação no Palácio Guanabara. A divulgação da delação premiada do ex-diretor da Odebrecht, Leandro Azevedo, dá conta de que a empreiteira teria repassado cerca de R$ 24 mi ao caixa 2 da campanha eleitoral do governador, mais implicado que nunca na Operação Lava Jato.

Sob forte ataque e ameaçados por um pacote draconiano, o maior trunfo dos servidores estaduais e dos trabalhadores fluminenses é a ampla unidade de ação que se está a desenvolver em sua luta. A despeito de seus limites e contradições, o MUSPE – Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais – vai expressando o diversificado leque de entidades e categorias do funcionalismo estadual mobilizado, quer do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. A tal ponto que levou bombeiros e policiais civis e militares a engrossar as manifestações, o que suscitou forte debate nos movimentos e no Esquerda Online.

A mobilização dos agentes de segurança é, claro, um fator de crise a mais para Pezão – o que não implica que a esquerda socialista deva atuar abandonando uma firme caracterização do que é o aparato de repressão do Estado. Análogo ao erro sectário de querer dividir as manifestações é confiar que o próprio curso objetivo do processo de luta eliminará a contradição entre o movimento e as forças policiais.

É preciso, portanto, seguir somando forças com todos que queiram derrotar o pacote de Pezão e, ao mesmo tempo, travar uma disputa ideológica séria e decidida. Primeiramente, defender um programa democrático centrado no direito de sindicalização dos soldados e, partir dele, debater com coragem a necessidade de dar fim à guerra às drogas, em nome da qual está montada toda uma campanha repressiva e sanguinária sobre as comunidades e a juventude negra.

A unidade do movimento está pondo Pezão na defensiva e ameaçando a aprovação e a amplitude de seus ataques. Em âmbito nacional, faz falta semelhante movimento coordenado para enfrentar Temer, sua PEC 55 e Reforma da Previdência – medidas de ajuste que são parte da mesma agenda de austeridade em prol dos interesses das classes dominantes, no contexto da crise econômica.

Os próximos dias serão decisivos na luta em curso no Rio de Janeiro. Os resultados são ainda imprevisíveis. A única certeza é que neste fim de ano ainda haverá novas batalhas na rua Primeiro de Março.

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PEZÃO / rio de janeiro