Pular para o conteúdo

Standing Rock Sioux: a batalha foi ganha, mas, com Trump, a guerra continua

Por: Tomi Mori, de Yokohama, Japão

standing8fotos: redes sociais

Após meses lutando, os Sioux de Standing Rock conquistaram uma vitória histórica bloqueando, neste momento, a construção do oleoduto de Dakota, que passaria perto de suas terras.

No domingo, 4 dezembro, o Corpo de Engenheiros das Forças Armadas, órgão ligado ao Departamento de Defesa dos EUA, decidiu negar a autorização para que a Energy Transfer Partners, a proprietária, possa concluir o oleoduto, finalizando este trecho que passa perto da atual reserva Sioux.

A secretária assistente do Corpo de Engenheiros, Jo-Ellen Darcy, explicou que essa decisão baseou-se na necessidade de se explorar rotas alternativas para o oleoduto de Dakota do Norte. Essa resolução adia a construção do trecho, mostrando que todas as reinvindicações feitas pela Nação Sioux de Standing Rock baseavam-se em fatos muito concretos.

A vitória de uma batalha histórica que durou meses
Esse anúncio foi recebido com lágrimas e festa pelos Sioux e também por todos os apoiadores do movimento. Desde abril, com a instalação de um acampamento de protesto, a luta foi tomando corpo. Por outro lado, as autoridades americanas responderam com ataques abusivos, como a prisão do chefe dessa nação, Dave Archambault II, em agosto; e repressivos ataques com spray pimenta, cassetetes, cães políciais, balas de borracha e jatos de água gelada, em pleno inverno, contra os ativistas.

A vitória, neste momento, foi o resultado de uma persistente combatividade liderada pelos Sioux, que conseguiram unir um grande número de nações dos povos originários dos EUA, que participaram do acampamento e dos protestos, com suas bandeiras tremulando nas terras desse povo. Mas que contou com o apoio de artistas, como o cantor Neil Young que, inclusive, escreveu uma canção em solidariedade. Foi resultado, também, da solidariedade de parentes e ativistas de vários países distantes, como Mongolia, Filipinas, Nova Zelândia, Equador, Brasil, entre outros.

Um momento impressionante nessa luta foi a chegada de cerca de 4 mil veteranos do exército americano, que dirigiram-se para Standing Rock, provenientes de vários estados, para defender o acampamento, ameaçado de despejo antes de decisão do Corpo de Engenheiros.

Mas é preciso dizer que, nesta luta, lamentávelmente, com raríssimas exceções, a esquerda mundial esteve ausente. E muito mais grave, a maioria da esquerda latina, que não esticou nem mesmo um dedo em solidariedade, nesta que foi uma das principais lutas ocorridas em solo americano nos últimos anos.

Vitória teve apoio de guerreiros brasileiros
Mostrando que a solidariedade entre os povos não tem fronteiras, guerreiros brasileiros, demonstraram todo seu apoio como foi o caso dos Tupinambás de Olivença, do sul da Bahia, que enviaram a representante, Lucienne Sheila, para o acampamento, onde foi recebida com grande honra pela nação Sioux; os Krenak, de Minas Gerais; jovens e ativistas de várias regiões que estiveram envolvidos na solidariedade e divulgação da campanha.

A Energy Transfer Partners, por seu lado, já declarou que a decisão do Corpo de Engenheiros não muda em nada sua determinação de concluír o oleoduto passando pelas terras do Sioux. E, certamente, conta com apoio do novo presidente americano, que será empossado em alguns dias. Donald Trump tinha um investimento no projeto, mas, seus assessores afirmam que essa participação já foi vendida. O que, concretamente, mesmo que seja verdade, não muda em nada a situação. O oleoduto é um grande negócio, que envolve 3.8 bilhões de dólares, e seria ridículo acreditar que os investidores aceitariam perder o capital investido por causa de um bando de “índios” e ativistas radicais que apenas fazem barulho.

Neste momento, é preciso lembrar que, mesmo que a Energy Transfer Partners, aceitasse mudar a rota do oleoduto, qual as cidades que aceitariam aceitar a sua passagem? Realmente, vale a pena investir mais capital em estabelecer uma nova rota que irá encontrar resistência que pode ser, inclusive, maior do que a desses “indios”? A resposta parece ser óbvia.

Tudo indica que este pode ser o primeiro enfrentamento, concreto, entre os interesses defendidos por Trump e os dos povos originários americanos, trabalhadores e juventude. Assim, vencida a batalha é preciso continuar a luta até vencer a guerra, cuja continuidade já é inevitável, seja qual for a forma que assuma.