Por: Gleice Barros*, do ABC, SP
Nós, mulheres, sabemos o quanto o machismo nos afeta todos os dias, como estamos sujeitas à violência de todos os tipos e até risco de vida. E os homens? Eles são beneficiados diretamente pela cultura machista ao colocar as mulheres como seres de segunda categoria, certo? Sim. Mas, dividir a sociedade e uma espécie em categorias deve ter algum malefício para os homens também. Será? Responder a esta pergunta é o que o novo documentário da Netflix tenta fazer ao abrir um diálogo muito importante sobre como a cultura machista afeta diretamente as mulheres e, em grau menor, os homens.
The Mask You Live In (2015) retrata, em cerca de 90 minutos, como os homens são criados para se distanciarem de suas emoções e não falarem a respeito destas em sua vida. Como desde muito pequenos são ensinados que homem não chora, que tem que aguentar qualquer tipo de dor, tem que se comportar como “homem”, vão se isolando em seu próprio ser, sem conseguir praticar a natureza mais humana: socialização emocional.
Muitas vezes já ouvimos como a sociedade é divida entre coisas de meninos e coisas de meninas, azul versus rosa, bola versus boneca, masculinidade versus feminilidade. A reflexão que o documentário traz mergulha mais fundo na construção histórica e cultural do que é ser homem no nosso tempo. E, honestamente, é assustador!
Os garotos são ensinados a não demonstrarem emoção, afeto, a não se comunicarem, a não demonstrarem amor. Se distanciam tanto de seus próprios pensamentos e sentimentos que se tornam seres humanos distanciados de sua própria essência. E são colocados desde muito cedo em contradição com a outra parte da humanidade: as mulheres. Qualquer coisa que remeta ligeiramente a qualquer traço do que é considerado feminino é repudiado e odiado.
“Parece uma mulherzinha!”, “Quem é mais mulherzinha do time?” são frases que destroem a imagem que os meninos têm das meninas e o resultado mais concreto disso é o tratamento de objeto dado às mulheres, ou seres de segunda categoria.
A construção de um ambiente para os meninos e garotos em desenvolvimento completamente hostil, violento e solitário resulta em bullying durante toda a vida escolar, violência durante a vida adulta e a dificuldade de falar de si mesmo e suas angústias para qualquer pessoa. Não à toa, o índice de suicídio entre homens dispara em comparação às mulheres.
O documentário encabeçado pela diretora californiana Jennifer Siebel Newsom faz parte do projeto The Representation Project, que levanta diversos questionamentos a respeito da construção dos gêneros na sociedade americana. Em outro documentário, Miss Representation (2011), Newsom coloca em debate a invisibilidade e o tratamento dado às mulheres na mídia americana.
A grande sacada colocada em The Mask You Live In é demonstrar como o machismo é profundo na sociedade moderna. Como a construção do homem enquanto ser social e cultural avança, da infância para a maturidade, na construção de uma máscara de macho racional, insensível, ser de primeira categoria.
Para aqueles homens que querem combater o machismo este documentário mostra que não basta somente mudar seu tratamento frente às mulheres, é preciso também reconstruir a si mesmo e as relações que estão ao seu redor.
*com colaboração de Bruna Sartori.
Foto: Divulgação
Comentários