Divulgamos, na íntegra, artigo do colunista do Esquerda Online Carlos Zacarias, publicado nesta sexta-feira (9) no jornal A Tarde, de Salvador. O doutor em História e professor da UFBA escreve para o jornal a cada 15 dias, intercalados com a coluna deste portal, também quinzenal.
Por: Carlos Zacarias de Sena Júnior*
Nesta semana lancei o meu livro De tédio não morreremos: escritos pela esquerda (Quarteto, 2016), uma coleção de 72 artigos publicados em A Tarde nos últimos dez anos, além de nove textos inéditos. Os escritos cobrem uma conjuntura conturbada, cuja atmosfera hiper-politizada, que culminou no impeachment de Dilma Rousseff, ofereceu a matéria-prima para a maioria dos escritos. Surgidos à guisa de promover uma reflexão de um historiador do político, os artigos são um exercício de história imediata, cobrindo os anos de ascensão e queda do lulismo em um período em que se poderia morrer de tudo, menos de tédio.
Passados alguns meses desde que enviei os originais para o editor, a temperatura política do país só fez aumentar. Na semana em que os grupos da nova direita saíram às ruas para pedir as cabeças dos presidentes da Câmara e do Senado, e ao mesmo tempo dar vivas a Sérgio Moro e a Lava-Jato, uma decisão do STF, proferida pelo ministro Marco Aurélio Mello, que determinava o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado, foi solenemente descumprida por deliberação unânime da mesa diretora da casa, cujo vice-presidente é o petista Jorge Viana.
Na suma divulgada pela mesa do Senado, alegava-se o caráter “monocrático” da atitude do ministro do Supremo, ao que os eminentes senadores resolveram “Aguardar a deliberação final do Pleno do Supremo Tribunal Federal”, além de “Conceder prazo regimental ao Presidente do Senado Federal para apresentação de defesa”. Renan e os membros da mesa optaram não apenas desafiar o STF, mas também os manifestantes de direita que até pouco tempo deram sustentação ao golpe e agora gritam “Fora Renan”.
O Brasil não é para principiantes! Os grupos da nova direita, como MBL, Vem pra Rua e consortes, que nada disseram contra Temer e nem muito menos contra a PEC-55 e a anunciada reforma da previdência, talvez acreditem que todo o problema do Brasil se concentra no Congresso. Os líderes direitistas, contudo, não são bobos. Como lídimos representantes das classes dominantes, forjaram uma ideia de país para arregimentar os milhares de incautos que lhes acompanham nas ruas, alguns dos quais vão sofrer as consequências do golpe na forma de ataque aos direitos. Ou seja, se o problema para fazer o ajuste e preservar os lucros são os trâmites da combalida democracia, então às favas com os “escrúpulos de consciência”, e se instaure de uma vez a tirania. Não à toa, os manifestantes do último domingo desfraldaram bandeiras pela volta Monarquia, pela intervenção Militar ou por uma ditadura salvacionista do judiciário, de preferência com Moro. Nesse raciocínio, dispensando-se o Congresso, o Brasil avança para o futuro, não importando se o regime é a expressão de um passado que pensamos ter deixado para trás.
* Doutor em História. Professor da UFBA.
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