Por: Bernardo Lima, de Belo Horizonte, MG
As polêmicas envolvendo o presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump têm levado o mundo todo a acompanhar a formação de sua equipe de transição e, principalmente, as nomeações para os cargos chaves do novo governo. Suas escolhas são os primeiros indícios dos rumos que a maior potência econômica e militar do mundo tomará nos próximos anos. Qual será o tamanho da guinada à direita? Fará um governo de “outsiders”? Será enquadrado pela cúpula do Partido Republicano e pelos políticos tradicionais? São todas respostas que estão em aberto e que as primeiras nomeações visam responder. Em um artigo anterior, analisamos o indicado ao cargo de estrategista-chefe da Casa Branca, Steve Bannon. Agora, faremos uma breve análise do homem que capitaneará a CIA no governo Donald Trump.
Um defensor da tortura, da prisão de Guantanamo e da islamofobia
Mike Pompeo, 52 anos, foi o homem escolhido por Trump para coordenar a mais poderosa agência de espionagem do mundo. Político do Kansas, deputado pelo Partido Republicano desde 2010 com apoio do Tea Party e veterano das Forças Armadas, também é empresário da indústria aeronáutica (civil e militar) e da área de equipamentos petrolíferos.
Um dos mais direitistas parlamentares republicanos. Esteve entre os que criticaram duramente Obama e Hillary Clinton depois dos ataques terroristas em Benghazi em 2012, que culminaram na morte do embaixador americano. Ele relacionou o ocorrido à falta de dureza nos interrogatórios de suspeitos de terrorismo capturados pela CIA fora do país.¹ Também foi opositor daqueles que defendem o fechamento do presídio de Guantanamo, onde são levados acusados de terrorismo sem supervisão internacional e causou polêmica ao defender o uso de tortura por afogamento por parte das forças de segurança dos EUA. Foi acusado de islamofobia pelo Council on American-Islamic Relations devido a discursos que associam o terrorismo no mundo à religião muçulmana.
Um homem da Koch Industries
A principal financiadora das campanhas eleitorais de Pompeo é a mega-corporação Koch Industries, com o qual também mantém negócios de longa data. A empresa familiar, controlada pelos irmãos Charles e David, atua no ramo do petróleo e outras áreas e é a segunda maior empresa de capital fechado dos EUA. É conhecida por financiar grupos e mídias de extrema-direita e políticos ligados ao Partido Republicano que concordam com sua agenda política. Além de defender os negócios da empresa, os políticos ligados a ela costumam ser a favor de reduzir as legislações ambientais, defender a legalização do porte de armas e promover o livre mercado reduzindo impostos e diminuindo a presença do estado na economia. Ganhou o apelido de “Kochtopus” devido aos seus inúmeros tentáculos no mundo da política.
A nomeação de Mike Pompeo para o comando da CIA indica que Trump pretende endurecer as leis antiterroristas que permitem violações de direitos humanos dentro e fora dos EUA. Os discursos que condenam o Campo de Prisioneiros de Guantanamo e a prática de tortura contra acusados de terrorismo serão abandonados. A CIA deve se sentir mais autorizada a violar a privacidade de cidadãos americanos em nome da “defesa dos interesses nacionais” . E os irmãos Koch, financiadores da extrema direita em todo o mundo, agora estendem seus tentáculos à sinistra central de espionagem.
*Outsider = forasteiro. Termo usado para dizer que Trump seria um homem “de fora da política”.
1 Da última vez que capturamos um cara do mal, veterano e líder por 20 anos da Al-Qaeda na Libia, que tinha um monte de informação sobre terroristas ao redor do mundo, em questão de dias ele foi retornado aos Estados Unidos, e teve um monte de advogados, e eu sou testemunha, foi lido para ele a advertência de Miranda (Obrigação de quem detém de avisar para quem está sob custódia que ele tem o direito de permanecer em silêncio e de pedir a presença de um advogado)” – Tradução Livre – No original: “The last time we brought a bad guy out, a 20-year al-Qaeda senior leader out of Libya, who had lots of information about terrorists all around the world, in a matter of days, he was returned to the United States, and had a set of lawyers, and I am confident, was read his Miranda rights,” Pompeo asked Brennan. “Do you think we lost the opportunity to gain intelligence that we could have, had we handled this enemy combatant in a different way?” – Fonte.
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