Por: Bernardo Lima, de Belo Horizonte, MG
O presidente eleito dos Estados Unidos causou controvérsia ao anunciar a nomeação de Steve Bannon como estrategista-chefe da Casa Branca. Essa escolha é um forte indício de que o novo presidente pretende colocar em prática o que teve de pior em sua campanha eleitoral: o ódio aos setores oprimidos e a aproximação com a extrema-direita. A trajetória de Bannon, que foi o chefe da campanha eleitoral de Trump, fala por si só.
Porta-voz da Alt-Right
Steve Bannon, 62 anos, serviu por sete anos na Marinha e foi assessor no Pentágono, trabalhou para o Goldman Sachs, saindo para fundar o próprio banco especializado em investimentos na área de mídia, também produziu filmes de cunho conservador em Hollywood. Mas, não é por sua trajetória profissional que ganhou notoriedade. Tornou-se conhecido nacionalmente por ser o direitor-executivo do portal de notícias Breitbart.
O portal considera-se um inimigo da grande mídia norte-americana e é um porta-voz assumido da chamada ‘Alt-Right’ (Direita Alternativa), termo que identifica todos aqueles que se alinham com a direita nacionalista branca, racista, misógina e LGBTfóbica. O portal também foi um dos principais veículos de mídia que defenderam a candidatura de Donald Trump desde o início, com ataques virulentos contra seus opositores nas prévias do Partido Republicano. O Breitbart também se destacou como inimigo do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), identificou os imigrantes que fugiam para a Europa como “gangues de estupradores” e classificou os jovens islâmicos que migraram para o Ocidente como uma “bomba-relógio”.
Portas Abertas para a extrema direita
O cargo de estrategista-chefe da Casa Branca não possui nenhuma atribuição específica, não nomeia funcionários e não toma decisões por conta própria. Seu poder reside na sua proximidade com o Presidente da República. Quem está nessa posição é um conselheiro para todas as decisões importantes do dia a dia e é escolhido por sua capacidade de pensar os impactos de longo prazo e buscar saídas estratégicas em todas as questões.
A escolha de Bannon indica que Donald Trump pretende manter a Casa Branca de portas abertas para a extrema direita, que quer seguir seus conselhos e que sua agenda incluirá um diálogo permanente com os diferentes grupos da Alt-Right. Steve Bannon estará numa posição chave para influir na política em relação aos imigrantes, nas relações internacionais, na polêmica relativa ao porte de armas e no combate ao ‘politicamente correto’. As expectativas de que o discurso de ódio fosse apenas uma manobra eleitoral de Trump para ganhar as eleições e que, uma vez no governo, elas seriam abandonadas, agora tornam-se mais difíceis de acreditar. A estratégia do governo parece ser torná-las realidade.
“Heil Trump”
Quem acha que a nomeação de Steve Bannon foi a pior notícia da semana nos Estados Unidos está enganado. Um vídeo divulgado pela The Atlantic mostra uma reunião com cerca de 200 pessoas em Washington fazendo a saudação nazista quando o orador grita “Hail Trump, hail our people, hail victory” (Salve Trump, salve nosso povo, salve a vitória).
O homem que agita a plateia no púlpito é Richard B. Spencer, popularizador do termo “Alt-Right”, que falava na conferência anual do National Policy Institute, uma organização racista legalizada. O evento ocorreu com a presença da imprensa até o jantar, com um discurso um pouco mais ameno, até que retornou as portas fechadas – momento em que o vídeo foi gravado sem autorização. Além da absurda manifestação nazista, Spencer regurgitou todo tipo de preconceito e ideias fascistas, defendendo a “limpeza étnica pacífica” do país e contando a história dos EUA como se fosse um país criado por brancos e para brancos. “Estamos sendo substituídos e forçados a nos transformar em minoria”, completou Spence em seu discurso. O encontro foi realizado em um prédio federal a poucas quadras da Casa Branca.
Donald Trump, quando interrogado pelo The New York Times sobre o vídeo, disse que desautoriza e condena o grupo extremista. Porém, afirmou que não irá reverter a nomeação de Bannon e que Breitbart é apenas uma publicação.
Como será o governo Trump?
Ainda não é possível afirmar com certeza o que fará Donald Trump à frente da Casa Branca. Haverá uma guinada nas relações internacionais? Aplicará realmente um protecionismo econômico? Como lidará com um Senado e um Congresso Nacional dominado pelo establishment? São todas questões que ainda não podem ser respondidas. Mas, sua vitória política com discursos racistas, LGBTfóbicos, sexistas e xenófobos, seguidos pela incorporação da Alt-Right ao governo, já indica que ele pretende realmente sufocar de vez os movimentos identitários e a pequena esquerda norte-americana.
Seu governo se dedicará a mobilizar os piores sentimentos nacionalistas brancos dos americanos e deixar as mãos livres para a extrema direita atuar nas ruas, nas redes e na imprensa. É preciso preparar-se para resistir nas ruas. Só o crescimento das lutas dos trabalhadores, dos negros e de todos os oprimidos, assim como a construção de uma alternativa de esquerda e socialista para o país pode impedir que o nacionalismo branco ganhe ainda mais espaço.
Foto: Reprodução CBS News
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