Por: Gleide Davis, colunista do Esquerda Online
No dia 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares é pego numa emboscada e morto. Teve a sua cabeça cortada e exposta em praça pública como lição para que nenhum outro escravo se rebelasse contra a ordem.
Aliado à sua companheira Dandara, Zumbi construiu uma enorme movimentação para libertar e acolher escravizados que fugiam de ‘seus’ senhores de engenho. O quilombo dos Palmares era, então, um ponto de resistência negra no período colonial, um local para o qual os negros poderiam se refugiar em busca da então revolução racial daquele regime que iria libertar todas as pessoas negras escravizadas.
Zumbi não tinha conhecimento teórico algum, apenas a sua força e ódio pelos desmandos da coroa contra o seu povo. Buscava através da coletividade soltar as amarras que prendiam os seus. Qualquer negro sabia que sozinhos não conseguiriam se livrar da violência animalesca à qual eram submetidos. Que a única forma de acabar com a escravidão seria através da união entre os mesmos, sem esperar que esta liberdade lhes fossem dada por algum burguês condescendente. A luta racial já reconhecia que somente os oprimidos poderiam se libertar das suas amarras e que estas eram as únicas coisas que estavam em jogo. Sem nada a perder, o povo negro seguia em busca do que era seu por direito e foi roubado, a sua liberdade e o seu reconhecimento enquanto ser humano.
Até hoje o povo negro tem resistido com o que tem. Tem sobrevivido mesmo com uma saúde e educação sucateadas, com constantes ameaças da burguesia que insiste em restringir o acesso a serviços públicos. Mesmo com o genocídio crescendo ao longo das décadas e matando cada vez mais os jovens negros, deixando as famílias devastadas pelos efeitos deste genocídio. Mesmo com pouco ou nenhum aparato jurídico e comoção midiática ou social com as chacinas periódicas nas comunidades mais pobres. Temos sobrevivido através das nossas forças, da nossa coletividade, da nossa fé.
“Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário.” – Carolina Maria de Jesus
Nossa resistência às constantes tentativas de nos matar e nos apagar da história, atacar a nossa religião, demonizar nossa cor, tentar nos embranquecer através da ideologia presente na mídia e sexualizar nossos corpos é o legado de Zumbi. Por enquanto, somos raízes que se apegam às dores, ao luto e transforma-os em luta. Como toda a classe trabalhadora, nossa existência têm-se resumido em lutar pela nossa libertação frente ao capitalismo cada vez mais racista, machista e LGBTfóbico.
Entre raízes, renasceremos flores em meio às ervas daninhas do capital. Podem tentar nos aniquilar e nos matar, mas nos reproduziremos ainda mais fortes. Vão nos cercar por desobediência à ordem racista e capitalista, até cortarão nossas cabeças porque jamais iremos abaixá-las.
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