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EDITORIAL

Naufrágio econômico e mal estar social

EDITORIAL 21 DE NOVEMBRO – Os apologistas do golpe parlamentar profetizaram a retomada da economia no segundo semestre do ano. Nos meses que se seguiram ao impeachment, embalados pela promessa do choque de ‘austeridade’, os empresários se mostravam mais otimistas, a Bolsa exibia notáveis altas e as agências internacionais asseguravam o “rumo certo” adotado pelo novo governo. O sopro de esperança, baseado mais no desejo do que em fatos reais, parecia indicar que o pior havia ficado para trás.

Porém, mais uma vez, o auto-engano prevaleceu – ou melhor, a propaganda enganosa se revelou. De acordo com os indicadores do Banco Central, a economia teve novo encolhimento no terceiro trimestre do ano, próximo de 1%. A previsão de retração do PIB de 2016, que estava em 3,1% em setembro, agora subiu para 3,4%. O desemprego, em crescimento contínuo, já atinge mais de 11,6 milhões de pessoas.

O cenário se torna ainda mais sombrio quando observamos os números da indústria de transformação. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a indústria nacional passa pelo seu pior momento em pelo menos 16 anos. O uso da capacidade instaladas das fábricas caiu para 73,9% nesse ano, o nível mais baixo desde 2001. A indústria de aço, por exemplo, opera com apenas 60% da capacidade. E as más notícias não param aí. Os investimentos em máquinas, equipamentos e materiais de construção (medida importante para avaliar a dinâmica da economia) levaram um tombo de 5,02% entre julho e agosto, de acordo com FGV.

Economia e política
Demonstra-se, desse modo, que os agressivos cortes de gastos públicos, o chamado ‘ajuste fiscal’, iniciado por Dilma (PT) e aprofundado agora por Michel Temer (PMDB), ao invés de reanimar a economia, está agravando a crise econômica e social. Há uma combinação explosiva de desemprego em alta, salários em baixa, endividamento crescente e serviços públicos em ruína. O mal estar social cresce no ritmo da piora de vida das camadas populares. Os planos do governo Pezão (PMDB) de sequestro de salários e direitos, que está provocando a revolta dos servidores públicos no Rio, indica o grau de violência das medidas pretendidas pela classe dominante, e também as possibilidades de resistência.

Os fatores políticos tampouco contribuem para a melhora de expectativas. Na esfera internacional, a vitória de Donald Trump nos EUA abriu uma era de incertezas e pessimismo. É inevitável que as nuvens carregadas que começam a se formar na arena internacional impactem negativamente o desempenho da economia brasileira. No âmbito doméstico, as sucessivas incursões da Operação Lava Jato, que agora ameaça atingir o núcleo dirigente do PMDB, constituem um elemento de instabilidade e insegurança que muito preocupa pesos pesados do empresariado nacional.

As evidências sugerem que a retomada econômica não está no horizonte próximo. Ainda que a economia venha a parar de cair em 2017, saindo tecnicamente do estado de recessão, os efeitos negativos sobre as condições de vida e de trabalho se acentuarão. Afinal, a burguesia, comandada pelo capital financeiro, está determinada na aplicação de um ajuste estrutural por meio de contrarreformas que visam destruir direitos (previdenciários e trabalhistas) e enxugar o Estado (via privatizações e enxugamento de gastos públicos – PEC 55).

Organizar e fortalecer a resistência operária e popular, para barrar ofensiva da direita e derrotar o governo Temer, é a tarefa imediata da esquerda brasileira.

Foto: Gilson Abreu/FIEP/ ANPr