Uma nova direita desponta no mundo. Apresenta propostas radicais: protecionismo na economia dos Estados Unidos e Grã-Bretanha, conservadorismo extremo nos costumes. Crescem todas as ideologias que dividem a classe: xenofobia, racismo, machismo, LGBTfobia. Uns contra os outros: que vençam os melhores. No Brasil o governo golpista de Temer quer congelar o orçamento por 20 anos. São sem dúvida propostas radicais.
Não é estranho que cresçam ideias radicais quando os salários despencam, a expectativa de viver melhor no futuro desmorona, o endividamento corrói a renda das famílias, a aposentadoria é um futuro distante, a saúde e a educação públicas são fortemente atacadas.
É hora de coragem. Enfrentar o avanço do conservadorismo com a defesa de ideias radicais de esquerda. A Revista Jacobin divulgou num artigo sobre a vitória de Trump um dado interessante: 70% dos norte-americanos que votaram essa semana acreditavam que “a economia é orientada para a vantagem dos ricos e poderosos”; 68% concordaram que “os partidos tradicionais e políticos não ligam para pessoas como eu”.
Mais de 30 anos depois o slogan de Thatcher parece voltar a ganhar terreno: “não há alternativa.” Que a direita apresente a austeridade como única saída é normal. O que é inaceitável é que a esquerda no poder corrobore com esta ideologia. Este foi o caminho do PT no Brasil, dos PS`s na Europa, e até mesmo do radical Syriza na Grécia, que terminou cedendo às pressões da Troika.
Sim, há alternativa. Que os 1% mais ricos paguem a conta da crise econômica. Neste editorial apresentamos três propostas anticapitalistas para combater a crise econômica:
Impostos, taxas e cobranças para 1%
1% da população possui tanto dinheiro líquido e investido quanto 99% da população mundial. Não é um exagero, são estatísticas do Banco Credit Suisse.
Para termos uma idéia de quem estamos falando basta cruzar os dados do mesmo estudo sobre o Brasil. O Brasil tem 1900 ultrarricos, 200 a mais somente entre 2013 e 2014, todos com mais de US$ 50 milhões. Ou seja não estamos falando de professores e bancários bem remunerados, estamos falando de grandes empresários, banqueiros e poderosos investidores. Quem pensa que a crise é ruim para todos se engana. O mesmo estudo mostra que passados 8 anos de crise o mundo é mais desigual. Os ricos são mais ricos e os pobres são mais pobres. De acordo com o estudo da Oxfam, uma organização humanitária o número de bilionários no mundo duplicou desde a crise de 2008.
Os países em crise deveriam estar debatendo uma reforma tributária. Menos impostos sobre o trabalho. Mais impostos sobre o capital. Taxar os grandes lucros, em especial do capital especulativo. Instituir impostos sobre as grandes fortunas onde eles ainda não existem, ampliar as alíquotas desses impostos nos países onde ele já existe, taxar as grandes heranças, estabelecer uma escala progressiva nos impostos.
Essas medidas não teriam nenhum impacto social coletivo, apenas atingiria uma restrita parcela da população que até agora está intacta depois de oito anos de crise.
Parar as privatizações e fazer nacionalizações com controle dos trabalhadores e do povo pobre
Não faltam exemplos desastrosos das consequências das privatizações. Citaremos 3 exemplos. A privatização do fornecimento de energia nos Estados Unidos gerou uma crise de abastecimento porque a empresa Enron faliu em 2002 por falsificar seus próprios balancetes, enxugar prejuízos e inflar os lucros.
Outro exemplo impactante foi a privarização das ferrovias britânicas, ocorrido na década de 90 este processo gerou um caos no transporte sob trilhos e provocou despesas muito maiores em subsídios governamentais do que os ocorridos antes da privatização. No Brasil temos o trágico exemplo da Vale do Rio Doce que depois de privatizada ampliou sem qualquer controle a exploração mineral, prejudicou comunidades e o meio ambiente e, recentemente, provocou o maior crime ambiental da história do Brasil na barragem da Samarco em Mariana junto com a empresa BHP Billiton.
Depois de duas décadas de fracasso das privatizações, essa política que começou no Chile de Pinochet, volta como proposta anti crise no mundo inteiro. A experiência já foi feita. As privatizações não trouxeram o que prometeram. É hora de fazer o oposto. Uma importante medida anticapitalista de combate a crise é a nacionalização das riquezas naturais e de serviços essenciais como água, energia, saneamento e transporte.
Suspender o pagamento das dívidas
A desigualdade não existe apenas entre indivíduos, ou mesmo entre classes sociais. Existe um sistema de Estados que perpetua a desigualdade. Existem países ricos e pobres. Eternos devedores e eternos credores.
A dívida se transformou num mecanismo de concentração de renda. É uma medida decisiva para o imperialismo. Através dela toda a riqueza produzida é desigualmente distribuída. Isso acontece porque existem países como o Brasil que gastam mais da metade do orçamento da União com pagamento da dívida pública e mantém os juros mais altos do mundo.
Qualquer pessoa comum entende que uma dívida é um dinheiro que você, neste caso o Estado, pegou emprestado. Então existe um ônus: ter que pagar juros depois, e também um bônus: ter o dinheiro agora. Mas, no caso dos países periféricos, não é assim que acontece. Os juros são tão altos que se paga várias vezes a mesma dívida. Os empréstimos são contraídos para pagar juros de empréstimos antigos.
Alguns dados ajudam a entender: em 1970 a América Latina devia 3,5 bilhões de dólares. Em 2002 o continente já tinha pagado 193 bilhões a mais do que recebeu de empréstimos. E o pior a dívida cresceu: neste mesmo ano atingiu o valor de 727 bilhões de dólares. Pagamos seis vezes o que recebemos, mesmo assim a dívida se multiplicou por 20. Esta é a matemática do imperialismo. É a lógica da agiotagem que leva a subordinação econômica de países e continentes inteiros.
Auditoria da dívida. Suspensão do pagamento. Uma bandeira a ser levantada por toda a esquerda anticapitalista nos quatro cantos do mundo. Eles querem globalizar a austeridade. Globalizemos a resistência.
Foto: Manifestação contra a eleição de Trump que reuniu 100.000 pessoas em Nova York na quarta feira, dia 9.
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