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EDITORIAL

O mal maior de Donald Trump

Por Bernardo Lima, de Belo Horizonte, MG

Donald Trump foi eleito presidente dos EUA. O resultado, considerado quase impossível no início do processo eleitoral, fortalece o projeto de uma saída conservadora, preconceituosa e autoritária para o país e o mundo. É uma espécie de Brexit norte-americano e significa que os trabalhadores, principalmente os imigrantes, negros, mulheres, LGBTs e outras minorias devem se preparar para enfrentar o novo governo e seus seguidores.

Diferente do que estamos acostumados a ver em eleições nos EUA, o novo presidente não foi eleito por ter o apoio das grandes corporações e meios de comunicação ou por ter uma larga trajetória na política partidária. Ele arrebanhou os votos dos eleitores, nas prévias republicanas, contra os caciques de seu partido. E derrotou a favorita do establishment, Hillary Clinton, apesar dela ser a favorita dos banqueiros e das grandes empresas.

Um pequeno parêntese sobre Hillary se faz necessário. Apesar da candidata do Partido Democrata concentrar a maior parte do apoio dos sindicatos e dos movimentos identitários e possuir o apoio eleitoral de Bernie Sanders e Michael Moore, sua candidatura não possuía nada de progressista. Ela não incluiu em seu programa nenhum avanço significativo para as mulheres que dizia representar, sustentou um programa econômico neoliberal e anti-popular, defendeu as intervenções norte-americanas no Oriente Médio e postou-se com um discurso à direita inclusive de Barack Obama. A vitória de Hillary não seria nenhuma vitória para os trabalhadores e trabalhadoras do país e não reverteria a política de rapina do imperialismo americano no cenário internacional.

Se Hillary Clinton era apenas mais uma candidata dos grandes banqueiros, parte do establishment, comprometida com a política imperialista norte-americana e mulher de confiança do mercado internacional, por que os trabalhadores conscientes do mundo inteiro estão alarmados? Por que a esquerda lamenta a vitória do azarão republicano? Não é difícil de compreender. O perigo está na cabeça dos eleitores de Trump.

O magnata conseguiu mobilizar para sua campanha mais de 59 milhões de votos, venceu no cinturão industrial mais sacrificado pela crise, como Michigan, Ohio, Pennsylvania e Winsconsin e teve um apoio gigantesco dos trabalhadores brancos para suas ideias excludentes, elitistas, racistas, LGBTfóbicas e misóginas. Não é uma eleição qualquer, durante a qual um político fala palavras bonitas e apresenta propostas populares que nunca cumprirá após as eleições. É exatamente o oposto. Ele prometeu construir um muro na fronteira do México, simulou atos de violência contra imigrantes, ofendeu publicamente sua oponente por ser mulher, e foi amplamente apoiado.

O mal maior de Trump não está no fato de que fará um governo pior do que o de Hillary, mais belicoso, ou mais neoliberal. Está no fato de que suas ideias encontraram apoio de massas. Que os trabalhadores que foram prejudicados pela crise mundial estão acreditando que o retrocesso no seu estilo de vida é culpa dos mexicanos e dos árabes. Que não obtiveram sucesso porque os negros e as mulheres ‘furaram a fila’. Que a força bruta, a grosseria e a ignorância tornarão a ‘América Great Again’*.

Os eleitores de Hillary Clinton votaram no lobo em pele de cordeiro. Os eleitores de Trump votaram no lobo que se orgulha de ser lobo e promete voltar a morder.

*Referência à “Make America Great Again” (Fazer a América Grande de Novo) – Slogan de campanha de Donald Trump.

Foto: Michael Vadon/ (09/05/2015)