Contrariando a opinião da maioria dos analistas e as pesquisas das vésperas que ainda apontavam a vitória de Hillary Clinton por uma pequena margem, Trump venceu as eleições nos EUA.
Até o fechamento deste editorial, Donald Trump tem 290 delegados no Colégio Eleitoral americano, e Hillary Clinton 228 delegados. Para se eleger ele precisava de 270 delegados. Ele já é o novo presidente dos EUA. O voto popular indica praticamente um empate entre os dois candidatos, nesse momento, Clinton está cerca de 100 mil votos na frente.
A reação à eleição do republicano já começou. As bolsas de todo o mundo estão fechando e abrindo em queda. Japão fechou em queda de 5,36%. Wall Street abrirá em queda de 5%. Xangai menos 1,3%. Hong Kong menos 3%. Sidney menos 2% e Mumbai menos 6%. O dólar está em queda. O preço do petróleo também. O preço do ouro está em alta. Como não se tem certeza do que será o governo de Trump, a tendência é de que o mercado reaja, nos primeiros momentos, de forma caótica.
Trump, mesmo sendo um candidato mega-empresário, não era o preferido dos mercados capitalistas, nem do establishment. Hillary seria mais confiável e estável.
Os medos do trabalhador americano médio foram canalizados pela direita
Donald Trump venceu porque encarnou, como candidato, as principais preocupações e medos do americano médio, com a perda de empregos para a globalização, a crescente imigração, a desigualdade de renda, a continuidade das guerras sem perspectivas de vitórias ou de estabilidade e o medo das ameaças terroristas.
O republicano venceu porque soube responder a estas preocupações com políticas populistas e conservadoras. Ele venceu principalmente porque apareceu para os eleitores como aquele candidato que não representa o político tradicional, por ser o anti-político.
Se repetiu nos EUA o mesmo fenômeno que vemos crescer em todo o mundo: a negação do político profissional. O que poderia ser um elemento progressivo, foi capitalizado por posições conservadoras e de direita. O discurso xenófobo, machista, racista venceu. Foi uma expressão, pela direita da crise do sistema político tradicional e seus partidos.
Hillary não é “menos pior”
Hillary não é “menos pior”, a candidata representa a escabrosa política externa americana. Os socialistas não tinham escolha nesta eleição. Hillary não é uma alternativa melhor do que Trump e nem representa qualquer mudança. Ela é a candidata das guerras, do intervencionismo americano, dos grandes grupos burgueses, incluindo a mídia tradicional.
Pouca gente sabe, inclusive nos Estados Unidos, mas é possível votar em outros candidatos. Vários outros candidatos concorriam. Muitos dos que apoiaram Bernie Sanderns contra Hillary Clinton nas primárias do Partido Democrata por exemplo, votaram em Gary Johnson , do Partido Libertário e em Jill Stein do Partido Verde.
Entender as contradições
Evidente que há profundas turbulências sociais que levaram à vitória de Trump. Elas tem que ser entendidas e estudadas. Interpretar que Trump é uma expressão distorcida de uma insatisfação progressiva do ponto de vista da esquerda seria um erro brutal.
Para os setores mais oprimidos entre os americanos como os negros, os latinos e as mulheres trata-se de um resultado que atinge diretamente o seu cotidiano. Evidente que os ataques virão. O racismo, o machismo e a xenofobia se fortalecem.
A grande contradição é que esses setores foram protagonistas das lutas sociais mais importantes nos Estados Unidos nos últimos anos como o “Black Lives Matter ou Vidas negras importam”. Não seria um exagero dizer que vão enfrentar Trump nas ruas. A juventude norte-americana que expressou durante as primárias com mais força o sentimento de mudança e não se engajou na campanha de Clinton nos dá esperança no futuro.
Os exageros não ajudam. Trump é um monstro, mas não é fascista. É inequivocadamente um candidato de extrema direita, representante do atraso e do retrocesso, especialmente nos direitos democráticos das mulheres, dos negros, das LGBT`s e dos imigrantes.
No entanto, é preciso abrir os olhos. Trump venceu. O voto nesta candidatura representa um grande atraso na consciência. Aumenta as incertezas sobre a política externa americana e seus impactos nos conflitos do oriente médio. Provavelmente ele não vai construir um muro na fronteira do México como prometeu. Em seu primeiro discurso já adotou um tom conciliador. Mas um candidato misógeno, racista, Islamofóbico e LGBTfóbico venceu. Tempos mais difíceis virão.
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