Por: Cláudio Gabriel*, do Rio de Janeiro, RJ
Domingo, dia 31 de outubro de 2016, foi o dia que consolidou muito para a esquerda no Rio de Janeiro. Mais uma derrota no pleito eleitoral, dessa vez com Marcelo Freixo, que conseguiu 40% dos votos válidos, com um pouco mais de 1 milhão e 100 mil votos. Mesmo com o resultado final, deve-se haver pensamentos positivos e algumas críticas relacionadas a essa campanha e é nesses que podemos pensar daqui para frente.
Talvez os maiores lados positivos tenham sido o conhecimento do eleitor em relação ao candidato e uma força grande da atual esquerda, o PSOL, ter chegado ao segundo turno em uma das maiores cidades do país. No mapa de votação foi possível ver uma grande quantidade de eleitores vindos da Zona Sul, algo que demonstra um fator interessante, pois foi essa mesma zona que deu a maior quantia de votos válidos na última eleição para a Presidência da República a favor de Aécio Neves, do PSDB.
Outro fato a ser pensado é a questão de mais pessoas se aproximando com a esquerda. Claro que isso é um fator muito difícil de pensar, já que a maior parte da população brasileira é conservadora e de difícil diálogo, mas mesmo assim, o psolista conseguiu 40% de votações em algumas regiões da Zona Norte e Zona Oeste, a primeira onde sempre foi dominada pelo PMDB e a segunda pelas milícias. O grande ponto negativo disso tudo é observar pelo outro lado, já que o candidato do PRB, Marcelo Crivella, conseguiu 60% e até mais nessas regiões e é aí que a esquerda erra mais, ao pouco chegar nessas regiões, na qual Freixo pouco fez.
O momento político brasileiro não é fácil para o campo político de grupos mais radicais. A derrocada do PT, após o impeachment de Dilma, levou a uma grande força dos movimentos neoliberais e conservadores. E desse fator podemos tirar algumas situações passadas, começando com as manifestações de junho e julho de 2013. É importantíssimo lembrar que uma parcela do povo que ía às ruas gritava para que as bandeiras de partidos políticos fossem abaixadas. Esse movimento gera uma ascensão da esquerda sim, mas também do outro lado da direita. O trabalho de base faltou e, assim, aproveitando que esses grupos, que são de maioria da população, pudessem começar a falar, a direita comandada por PMDB e PSDB se renasceu e ganhou uma força tremenda. Muitos dizem que é a crise de representatividade que se instaura no Brasil, mas a verdade é que quase nunca no país existiram representatividades políticas. Existiram, sim, grandes nomes que fizeram uma grande crença populacional, sendo os maiores deles Lula e Vargas. O grande fator político atual é a questão da descrença na classe política, já que, por exemplo, na capital carioca, 47% das pessoas não escolheram nenhum dos dois candidatos. As manifestações de 2013 têm seus aspectos extremamente positivos, mas não podemos esquecer que esses lados negativos se sobressaíram.
Os maiores erros na eleição de 2016 no Rio passam pela questão do debate. Não apenas que o candidato que rivalizou com Freixo fugiu de grande parte deles, mas que faltou isso para a militância por esse. Faltaram mais conversas com a população de zonas mais pobres, nas quais esse discurso não chegava. Parou, no máximo, no Méier. E isso mostra o quanto é um engano achar que a maior parte da população seria “alienada” ou “burra”, como foi dito. Não, a massa dos trabalhadores e trabalhadoras só ouviram apenas alguns discursos desde o início da campanha. No primeiro turno, ouviram de Crivella e Pedro Paulo e no segundo turno, só do primeiro. É difícil sair da zona de conforto, mas é o que todos os partidos que se dizem de esquerda, precisam urgentemente fazer agora.
Dessa maneira, percebe-se os fatos positivos que isso tudo acarretou, mas também os lados negativos, que não são apenas de agora. PSOL, PCB e PSTU precisam saber realizar um maior diálogo. O primeiro partido citado sai extremamente fortalecido do Rio, com seis vereadores eleitos e um candidato tendo dois quintos dos votos validados. Mas, por quanto tempo isso irá continuar?
*Cláudio Gabriel é estudante da UFRJ
Foto: Mídia Ninja e Julia Kubrusly
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