Por Alexandre Zambelli, de Belo Horizonte, MG
Nesta quarta-feira (26), foi mais um dia triste dentro de um estádio de futebol. Durante o jogo Cruzeiro X Grêmio, válido pela semifinal da Copa do Brasil, Eros Dátilo, dirigente da torcida Pavilhão Independente, morreu pelas mãos da segurança privada do Mineirão.
Inicialmente, a versão sobre a morte foi que se tratava de um infarto, mas logo a versão caiu por terra. Amigos e torcedores próximos relataram a agressão por parte da segurança do estádio, e o boletim do hospital que o atendeu disse que Eros havia sofrido múltiplos traumas. Houve grande repercussão pela ampla manifestação de torcedores, a despeito da tentativa da Minas Arena, concessionária que administra o estádio de Belo Horizonte, de tentar abafar o caso. Na mesma madrugada, o protesto dos torcedores pela morte do dirigente da torcida, no Mineirão, foi reprimido com violência pela PM.
Legado dos megaeventos
Os megaeventos realizados recentemente no Brasil trouxeram várias consequências. Um dos legados que, sem dúvida, atinge os amantes dos esportes, sobretudo o futebol, é o modelo higienista das novas arenas. Vários casos de violência têm assombrado ainda mais aqueles que deveriam ser locais de torcida e alegria.
No último domingo, tivemos a cena de vários torcedores do Corinthians que, após partida contra o Flamengo no Maracanã, ficaram retidos para identificação pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Não faltaram relatos de abusos e violências policiais. No mesmo fim de semana, em São Paulo, a polícia local fechou as ruas no entorno do estádio do Palmeiras, com a desculpa de melhorar a segurança. Sabemos que isso só impede de fato a festa que a torcida costuma fazer antes dos jogos. Esta tática de fechar as ruas dos entornos das arenas tem se tornado cada vez mais recorrentes, sobretudo na época da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Espaços eram fechados para o comércio local a fim de favorecer as grandes corporações que patrocinaram estes eventos.
Estádios de futebol e a violência do Estado
A violência sempre esteve associada às torcidas organizadas, porém sabemos hoje quem é o responsável pela violência: o estado e seus braços armados. Boa parte das cessões de uso das arenas envolve terceirização de serviços, sobretudo de segurança. O trabalho precário mostra seus efeitos da pior maneira, sobretudo no despreparo dos agentes de segurança privados, que tem atitudes ainda piores que das polícias militares. Ainda há grande responsabilidade por parte das diretorias dos clubes que, cada vez mais, dificultam o acesso dos torcedores aos estádios, cobrando ingressos caros e sendo coniventes com toda forma de repressão às torcidas.
As manifestações de solidariedade e homenagem a Eros Dátilo demonstram que o silêncio covarde daqueles que mandam no futebol não irá perdurar. Tampouco uma responsabilização individual será suficiente. É necessário superar cada vez mais os efeitos da arenização e acabar com a violência do Estado. Um importante passo é dado pelas próprias organizadas que cada vez mais se organizam e debatem pra enfrentar a elitização do futebol. É o povo tomando pra si aquilo que sempre foi dele.
Foto: Cruzeiro Imagem
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