Por: Victor Wolfgang Kegel Amal, de Florianópolis, SC
Nesta segunda-feira (24), ocorreu o começo da desocupação do abrigo de refugiados e imigrantes da cidade de Calais, França. Esta ocupação, conhecida pejorativamente como ‘selva de Calais’ pela quantidade de refugiados e as péssimas condições de vida dos que lá estão, é a maior que existe na Europa, comportando cerca de oito mil refugiados, a maioria advindos do Afeganistão, Sudão e Eritreia.
A desocupação de Calais começou hoje, mas se estenderá ao longo da semana pela enorme quantidade de refugiados que se abrigam no local. O governo francês ira dividir a população refugiada em Calais em 300 abrigos diferentes espalhados pela França. Dentre os refugiados que habitam em Calais atualmente, existem cerca de 1.300 menores de idade desacompanhados que ainda têm um futuro incerto. Teoricamente, seu destino seria Londres e Paris, onde eles ganhariam tratamento especial. Contudo, ainda não está claro se mesmo esses menores serão acolhidos. Segundo o jornal do SWP britânico, Socialist Worker, sob pressão, o governo conservador do Reino Unido prometeu acolher alguns deles, mas sem dar detalhes precisos. Em um emotivo ato em Londres na semana passada, Leslie Brent, um professor aposentado que escapou dos nazistas declarou que “nos anos 1930, o governo de Neville Chamberlain foi pressionado pelos judeus e por outros grupos para nos deixar entrar. Isso salvou minha vida – minha família foi toda morta no Holocausto (…) O governo deve ser mais generoso. Podemos trazê-los, somos um país rico”.
Não satisfeita com este ato bárbaro de racismo estatal praticado pelo governo “socialista” de François Hollande, a extrema-direita se aproveita do sentimento xenofóbico da população de Calais para reivindicar a deportação de todos os refugiados da “selva”. Desde o começo da crise de refugiados, o partido de extrema direita francês “Front Nacional” (Frente Nacional) vem ganhando forte peso eleitoral e a candidata do partido Marine Le Pen figura entre os favoritos para as eleições presidenciais francesas que ocorrerão em 2017. Por outro lado, diversos ativistas pelos direitos dos refugiados e contra o racismo e a xenofobia estão fazendo protestos na cidade contra a arbitrariedade policial e o atentado contra os direitos humanos dos imigrantes cometidos por Hollande.
O Novo Partido Anti-capitalista da França declarou sua solidariedade com os imigrantes e exigiu a livre circulação para todos e informou que várias manifestações estavam planejadas para hoje em toda a Franca.
Apesar das condições terríveis a que os refugiados são submetidos na “Selva”, os habitantes do acampamento em Calais não desejam embarcar para novos abrigos em função da incerteza quanto ao seu destino, dado que a extrema-direita francesa não cessa de reivindicar seu retorno aos países de origem. Por outro lado, o abrigo de Calais já tem alguns anos e laços de amizade e companheirismo foram formados entre os refugiados que lá habitam, algo fundamental de um ponto de vista humanitário para pessoas que foram obrigadas a sair de suas terras natais por causa de guerras. Os novos destinos tornam sua situação ainda mais incerta. A crise migratória na Europa está longe de cessar, e pode ter consequências ainda mais terríveis do que os milhares que morreram no mar e as centenas de milhares que perambulam pelos campos de refugiados no centro da Europa e em sua periferia, como na Turquia.
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