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MOVIMENTO

O movimento das ocupações e a hipocrisia de Beto Richa

Por: André Foca*, de Piracicaba, SP

Na tarde desta segunda-feira (24), o movimento de ocupações das escolas públicas contra a Reforma do Ensino Médio e a PEC 241 finalmente virou notícia em grandes veículos de comunicação. Mas, o motivo não é as mais de mil ocupações de escolas públicas, ou as dezenas de universidades e Institutos Federais que também foram ocupados, ou as reivindicações destes estudantes. O destaque da grande mídia foi a morte de um jovem de 16 anos que, segundo aponta a polícia, ocorreu dentro da escola ocupada Santa Felicidade, em Curitiba. Antes de mais nada, registramos aqui nossa solidariedade aos familiares e amigos do adolescente, assim como nos solidarizamos com os estudantes que ocupam este colégio e testemunharam este triste episódio.

Mas, enquanto as investigações seguem e aos poucos as circunstâncias deste caso são reveladas, é nítida a movimentação do governo estadual, da grande mídia e de setores da direita, como o MBL, para utilizar este caso para atacar as ocupações e os estudantes, culpabilizando-os pelo ocorrido e alegando que se a ocupação não estivesse ocorrendo isso não teria acontecido. No auge da hipocrisia, Richa chega a pedir aos estudantes que encerrem o movimento, pois as ocupações “ultrapassaram os limites do bom senso”. A falácia desta argumentação é escandalosa, e o objetivo desta nota é debater justamente os casos de violência que ocorrem no interior de qualquer escola pública no Brasil e que, aparentemente, são ignorados pelos poderosos que tentam reprimir os secundaristas em luta.

Sabemos que o cotidiano das escolas públicas é marcado por diversas formas de violência, dentro delas, ou no seu entorno. Uma rápida busca pela internet ou uma conversa com estudantes e professores podem comprovar isso. Pesquisa do sindicato dos professores de São Paulo (APEOESP) mostra que 84% dos professores presenciaram algum caso de violência nas escolas, 44% já foram vítimas de algum tipo de agressão e para 83% deles o aluno é a maior vítima, seja de agressões físicas, ou verbais. Esta realidade, tão conhecida para qualquer um que esteja envolvido com a educação, não foi citada por nenhum veículo de comunicação hoje. Ou seja, fica a impressão de que os casos de violência se restringem aos colégios ocupados. Ignora-se o fato de que nas mais de mil ocupações, sem contar as centenas que ocorreram em 2015, os estudantes apresentam métodos de organização invejáveis, com democracia direta, controle dos estudantes, atividades pedagógicas e lúdicas e que mostram para esta nova geração que outra educação é possível.

Os casos de violência que ocorrem diariamente nas escolas são fruto de um sistema educacional altamente sucateado, onde professores e alunos são trancafiados em prédios antigos, com péssima ventilação, poucos funcionários para auxiliar na entrada e saída dos estudantes, sem qualquer plano, ou medida de prevenção à violência. É por conta desta realidade que os estudantes estão em luta, porque os governos estaduais de Alckmin, Richa e companhia se mostraram incapazes de alterar este quadro. Portanto, estes últimos não têm qualquer legitimidade para responsabilizar os estudantes pelo que infelizmente ocorreu em Curitiba. É preciso cercar todos os envolvidos neste episódio com nossa solidariedade e entender que somente com a luta destes jovens, somada às iniciativas de trabalhadores e trabalhadoras da educação é que conseguiremos reverter este quadro de abandono das escolas públicas.

*Professor em São Paulo

Foto: Assembleia de estudantes lotada antes das ocupações iniciarem | Reprodução Facebook