Por Clara Saraiva, do Rio de Janeiro, RJ
Passei o dia, como muita gente que vive aqui no Rio e tá bem envolvido com a campanha do Freixo e da Luciana, refletindo sobre esses temas. Queria apresentar uma primeira opinião, pra gente ir pensando junto.
Sobre a matéria da Veja, é importante a ressalva de que simplesmente a foto do Crivella preso não diz muita coisa, e alimenta a lógica punitivista onde quem se fode mesmo são os negros, os pobres. O problema pra mim é a parte que a própria matéria da Veja diz que é secundária, para o candidato que se propõe a “cuidar das pessoas”. O crime que Crivella é acusado foi organizar um grupo de capangas com revólver na mão pra expulsar à força uma família que vivia há 4 anos num terreno da Igreja Universal. Combinado com todo o jogo sujo de nesses 26 anos depois de ocorrido o fato, ter escondido o inquérito, feito acordo com o delegado… muito bizarro. Para o Crivella, vale tudo pra defender suas propriedades e seu projeto de poder. Dá pra lembrar também do projeto Cimento Social, que a pedido do Crivella ao presidente Lula, em 2008, colocou o exército no Morro da Providência e estes, por sua vez, entregaram à facção de tráfico rival 3 jovens negros, que foram brutalmente assassinados. Crivella tem as mãos sujas de sangue, e ódio contra pobre e os setores oprimidos.
Mas o que de mais profundo a capa da Veja trouxe é explicitar a divisão dos representantes do grande capital no Rio de Janeiro. A verdade é que a burguesia mais poderosa do Rio, o esquema fechado entre PMDB-Globo/Abril-Milícias/PM, não tem um representante diretamente seu no segundo turno. A vinculação de Crivella a outro campo do grande capital, da Record, da Folha Universal, faz com que ele não consiga unificar a burguesia, e represente uma disputa no jogo de interesses. É evidente que, em última instância, representam uma mesma classe e estão juntos na defesa de seu patrimônio e contra os trabalhadores, mas está claro que há um conflito no andar de cima.
Se abriu um debate profundo, diante disso, se a Veja estaria “apoiando” veladamente o Freixo. Um sentimento de angústia pairou entre nós, apoiadores do Freixo, nesse sábado chuvoso. Na minha opinião, essa fração da burguesia representada pela Veja está dando um soco no Crivella pra na hora de voltar com o braço dar uma cotovelada bem pesada no Freixo. Esse é o objetivo. O cálculo deles é destruir o Crivella agora, que contraria interesses de uma fração bem poderosa do capital, pra atacar o Freixo em seguida. É de uma impressionante flexibilidade tática, porque é mais do que óbvio que o discurso de Freixo de defesa dos pobres e das favelas dá alergia em todos eles.
Por fim, diante disso tudo, resta a reflexão mais importante de todas: como nós enfrentamos essa situação? Minha opinião é que nos exige o máximo de unidade em torno a campanha de Freixo e aos princípios da esquerda socialista, em especial da independência de classe. Diante de um giro de parcela da burguesia, é preciso afirmar ainda mais alto o que o Freixo já disse em muitas ocasiões: quando se diz governar para todos, se mente pra alguém. E por isso cantamos em coro no jingle que “o nosso lado é do trabalhador”. E é com muita preocupação que eu escutei o finalzinho do último programa de TV do Freixo, em que ele diz que o povo não precisa ter medo dele, que “a gente quer governar pra todo mundo.” E, logo em seguida, termina assim:
“a gente quer reduzir a desigualdade, a gente quer que o rio não tenha o problema de segurança pública que tem, a gente quer que a escola pública seja melhor… eu não tenho dúvida que o empresário também quer isso, que o trabalhador quer isso, que o filho do trabalhador quer isso, então a nossa proposta representa muito mais gente do que o outro lado. Por quem ele é, e pelo que nós somos, vamos ganhar essa eleição.”
A campanha do Freixo é, hoje, um patrimônio pra esquerda no país, um pólo de resistência a toda ofensiva reacionária que vemos crescer. Não pertence só ao Freixo. Espero sinceramente que essa frase que utilizou não se repita nos próximos 7 dias finais de campanha. Não é e nunca será de interesse dos grandes empresários resolver a segurança pública ou ter uma escola pública de qualidade a serviço dos trabalhadores. Nossos interesses são inconciliáveis, e a experiência com Lula e PT são a prova disso. Esse erro não temos o direito de cometer. Vamos sim ganhar pelo que nós somos, sem vacilar no programa e nos princípios que defendemos sempre, não só nas eleições, mas na luta de todo dia.
Por isso faço esse post compartilhando o evento que pra mim, é dos mais importantes dessa semana. E olha que a competição é grande! Segunda tem ato contra a PEC 241, terça tem ato das mulheres, quarta tem o último comício, e quinta tem esse encontro que deve servir pra fortalecer o pólo da classe trabalhadora organizada dentro da campanha do Freixo. Vamos que agora falta muito pouco! Mais que nunca, podemos vencer não só ganhando a eleição, mas fortalecendo um projeto político independente que não dê nenhum passo atrás pra velha política, e aponte um novo caminho pra esquerda socialista no Brasil.
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