Nesses últimos dias vimos um caso brutal de estupro e assassinato que chocou toda a Argentina e que comoveu e movimentou de maneira contundente o movimento feminista brasileiro.
Lucia Perez, de 16 anos, foi raptada por traficantes quando saia do colégio em que estudava, foi drogada, estuprada e não bastando toda a selvageria da situação, foi empalada por uma estaca de madeira que a matou por hemorragia. Com tamanha brutalidade, o feminicídio, assunto que nunca deixou de ser debatido no meio feminista, volta à tona com maior intensidade, causando ainda mais debates e manifestações no Brasil.
Alguns estudos apontam para a gravidade de crimes de gênero nos países latinos. A América Latina compreende 14 dos 25 países com maior taxa de feminicídio no mundo. Em uma pesquisa realizada pela organização SmallArmsSurvey para o período 2004-2009, El Salvador liderava a lista com uma taxa de 12 homicídios para cada 100 mil mulheres, seguido de Jamaica, Guatemala, Guiana, Honduras, Antilhas, Colômbia, Bolívia, Bahamas, Venezuela, Belize, Brasil, Equador e República Dominicana (ONU Mujeres, 2013:15).
Neste sentido, é importante nos atentarmos ao fato de que alguns países já possuem em seu código penal leis que penalizam e vigoram sobre a violência de gênero. Entretanto, a efetividade dessas leis tem caráter duvidoso tendo em vista a falta de suporte às mulheres vítimas de violência, seja por desencorajamento à denúncia feita pelos próprios órgãos que teoricamente existem para dar suporte às vítimas, seja pela falta de amparo social dado aos casos de violência contra a mulher.
No Brasil, país que mais mata pessoas transexuais no mundo, existe o problema do não reconhecimento de gênero da vítima. As autoridades acabam ligando ela diretamente ao seu sexo e dificultando ainda mais o processo de atendimento humanizado, culpabilizando a vítima pela sua colocação social do “ser mulher”. Além disso, é importante salientar que o maior número de vítimas de violência ainda são mulheres pobres e negras, deixando claro que as desigualdades sociais são um ambiente propicio e acolhedor para crimes de ódio contra mulheres.
O feminicídio não é “apenas” um crime contra a mulher, mas um ataque à dignidade humana que atinge meninas e mulheres de maneira institucional, tendo vista que o próprio feminicídio cria raízes advindas do patriarcado que por sua vez surge no capitalismo.
É importante humanizar o atendimento às mulheres vítimas de violência emocional, sexual e doméstica. Mas mais do que isso, é importante reconhecer as raízes edificadas do machismo, incorporando a igualdade de gênero na educação básica, evitando casos de violência ao redor do mundo e reconhecendo que a única maneira de acabar definitivamente com os assassinatos e ataques às mulheres é dar fim às desigualdades de gênero, raça e classe criadas pelo capitalismo.
Comentários