Não devemos nos iludir com as recentes publicações das famílias que concentram 70% do que a gente vê, ouve e lê
Por: Rodrigo Noel, do Rio de Janeiro, RJ
A noite de sexta-feira (21) começou agitada nas redes sociais. Para além das saídas para curtir a noite, afinal todo trabalhador tem direito a seu descanso, a imagem com a capa da revista Veja estampada com a foto de Marcelo Crivella identificado como um presidiário foi, e continua sendo, um dos assuntos mais comentados nos grupos de aplicativos de mensagens instantâneas. A sedução é grande. As especulações são maiores ainda.
É importante observarmos o que está em jogo para o Grupo Abril/Folha/Veja, as Organizações Globo, entre outras empresas que negociam nossa liberdade de expressão. A família que controla a Igreja Universal do Reino de Deus detêm dois canais de TV aberta, um de TV fechada (Record e CNT), diversas emissoras de rádio, editoras que publicam dezenas de livros em alta tiragem, jornais de grande circulação, ao menos um grande portal de conteúdo noticioso na internet (R7), entre outros meios. O que está em jogo são negócios, nada além disso.
Paras os Frias e os Marinhos, que controlam respectivamente o Grupo Abril e as Organizações Globo, seria um baque enorme assistir passivamente a ascensão da família Macedo e, assim, ver as enormes verbas publicitárias institucionais sendo priorizadas para outros veículos que não os deles. Isso para não tocarmos nos contratos milionários que as Organizações Globo possuem com a Prefeitura do Rio, como denunciado pelos profissionais de educação em 2014 nos contratos mantidos pela Fundação Roberto Marinho e a Secretaria Municipal de Educação do Rio.
O orçamento da Prefeitura do Rio é enorme. Mora na casa do bilhão. A estrutura administrativa da segunda maior cidade do país é gigante. Que interesse a TV Globo e a revista Veja teriam por trás dessa movimentação? Será mesmo que a TV que apoiou a ditadura, acobertou assassinatos e torturas, foi a maior fiadora da manipulação e construção de uma falsa consciência para a massa para a consolidação da manobra parlamentar que levou Temer à Presidência da República, quer mesmo nos trazer verdades?
Será mesmo que a revista que abriga em seus quadros caluniadoras, sexistas, misóginos e mentirosos de toda ordem, estaria interessada em devassar a vida do sobrinho intolerante do bispo neopentecostal? A que classe estes veículos servem? Qual a diferença de fundo que possuem entre si Record/Cnt, Abril/Veja/Folha e Globo? Tendo a acreditar que nenhuma e estou disposto a ser convencido do contrário, ainda que minha arrogância nada peculiar me faça apostar em minhas convicções. É claro que podem existir nuances, não nego isso. Afinal, atendem a interesses de frações distintas da burguesia.
Não devemos nos iludir, nem depositar nenhuma confiança nesses órgãos. Enquanto não formos capazes de contarmos a nossa própria história, de construirmos nossas próprias narrativas, de produzir conteúdo independente e ter acesso às mais variadas ferramentas de produção e interação com a massa, não devemos depositar nenhuma confiança nas sete famílias que controlam cerca de 80% de tudo que vemos, ouvimos e lemos. Ou seja, nossa luta pela descentralização dos meios de comunicação precisa ganhar uma prioridade maior em nossas lutas democráticas.
O inimigo do nosso inimigo, nem sempre é nosso amigo.
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