O resultado eleitoral do PT nas eleições municipais de 2016 aprofundou a enorme crise do partido. A possibilidade de divisão do partido de Lula não é pequena.
A derrota eleitoral histórica sofrida pelo PT, com a diminuição do número de prefeitos eleitos, de 638 em 2012 para 256 em 2016, aumentou as tensões internas que podem se transformar em uma divisão do partido. O risco de explosão aumenta com o cerco da Lava Jato a Lula e à cúpula do PT.
Presenciamos nas últimas semanas importantes dirigentes petistas como Raul Pont, Valter Pomar e Tarso Genro com artigos públicos pedindo mudanças no partido.
Foi conformado também um bloco, chamado Muda PT, entre algumas correntes internas do PT como a Articulação de Esquerda, a Democracia Socialista, Avante e Mensagem ao partido. O Muda PT já reúne a maior parte dos deputados federais do PT e cerca de 30% do partido.
A plataforma do Muda PT pede um congresso do Partido com plenos poderes para discutir uma nova direção e uma refundação programática por meio do balanço do processo do golpe parlamentar e o debate sobre novos rumos que o PT deve percorrer. A direção majoritária do partido tem como proposta um congresso em 2017 e a manutenção do atual núcleo dirigente até o final do mandato. Já a esquerda do PT pede um congresso ainda esse ano com Plenos poderes, inclusive para eleger uma nova direção.
Raul Pont, importante dirigente da DS, chegou a afirmar que ou a direção majoritária do PT convocava o congresso ou a esquerda do PT deveria chamar um encontro dos que querem mudanças no PT, no qual se deveria avaliar a permanência ou não no partido. O impasse está colocado, a saída da crise ainda está longe de acontecer.
Dois debates com a esquerda petista
Existem dois debates centrais que devemos fazer sobre o PT com os ativistas do movimento social e a ala esquerda desse partido.
O mais importante deles é o balanço dos governos de colaboração de classes do PT ao longo de treze anos. A política da Carta aos Brasileiros de 2002 e sua consequências, como a aliança com José Alencar no governo Lula e Temer no governo de Dilma, favoreceram os trabalhadores ou abriram as portas para o golpe parlamentar dirigido pelo PMDB?
Não restam dúvidas: a política de colaboração de classes favoreceu a burguesia e abriu portas para a ofensiva da direita e a retirada de direitos. Uma nova esquerda no Brasil deve tirar as lições da política de conciliação de classes e seu desastre para os trabalhadores. O futuro da esquerda socialista no Brasil depende de termos a certeza que não podemos fazer Nenhuma aliança com nossos inimigos de classe.
O segundo debate é a possibilidade de construir uma refundação do PT. Parece-nos que essa hipótese é impossível, uma ilusão que produzirá novas frustrações. O principal motivo é o caráter reformista e burocrático da direção majoritária que dirige o partido desde a sua fundação, uma direção completamente adaptada ao sistema. A política de alianças do PT nestas eleições comprova que o Lulismo mantém a sua política de alianças amplas com setores da burguesia, inclusive o PMDB. O curso da direção majoritária do PT é irreversível.
Um convite
Valter Pomar, dirigente da articulação de esquerda, afirma em artigo que não vê caminho para a esquerda brasileira por fora do PT. Não concordamos com essa afirmação. Na verdade, o resultado das eleições municipais, embora tenha demonstrado que a direita capitaliza majoritariamente o desgaste do PT, também evidenciou, pelo bom resultado eleitoral do PSOL, que chegou ao segundo turno no Rio de Janeiro , Belém e Sorocaba, que existe um espaço pela esquerda do PT.
Por outro lado, os principais processos de mobilização social nos últimos anos passaram por fora do petismo: as jornadas de Junho; as greves operárias radicalizadas; as ocupações de escola; as marchas de mulheres; as lutas dos LGTBs e dos negros, enfim, as lutas do povo trabalhador e oprimido se dão cada vez mais sem a direção PT e seus braços nos movimentos sociais, e muitas vezes se enfrentam com ela. Quer dizer, é possível iniciar a construção de alternativa à esquerda também nas ruas.
Os momentos de crise exigem coragem para a mudança. São milhares de ativistas que durante muitos anos apostaram no projeto petista. Muitos jovens se radicalizaram politicamente na resistência ao golpe parlamentar, quando a direção majoritária do PT mais uma vez fracassou. A crise desse projeto exige mudança. O lugar daqueles que lutam pelo socialismo, que não querem mais alianças pragmáticas para governar, que defendem a independência financeira e política de um novo projeto político da classe trabalhadora no Brasil, sem dúvida, é fora do PT, construindo o novo.
Comentários