Por Gabriel Santos de Maceió, AL
“Desde cedo a mãe da gente fala assim, filho por você ser preto tem que ser duas vezes melhor. Mas passado alguns anos eu pensei, como fazer duas vezes melhor se você está pelo menos 100 vezes atrasados. Atrasados pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pela psicose, com tudo que aconteceu. Vamos ser o melhor como? (..)”. A Vida é Um Desafio, Racionais Mc´s
Ter um futuro, conseguir sair da casa dos pais, estabilidade no emprego, se formar, estes são sonhos de muitos jovens, porém, estão cada vez mais difíceis de serem alcançados. Hoje o índice de desemprego na juventude é de 25%, um número alarmante, e não temos expectativas para que as coisas melhorem.
A PEC 241, ou PEC do Fim do Mundo, coloca o futuro de uma geração em jogo. Como funcionarão as universidades e as escolas? Como permanecer no ensino superior sem assistência estudantil? Qual a esperança de conseguir um emprego? E como funcionará o SUS? São muitas perguntas que nossa geração se faz diante de mais um ataque. O congelamento dos gastos com o serviço público é uma demonstração de força do governo golpista, um duro ataque aos trabalhadores e vai gerar um verdadeiro caos.
Temer, a burguesia e a mídia, dizem que é preciso apertar os cintos, mas até agora os únicos que tem os cintos apertados são os trabalhadores. A PEC 241 é a PEC dos banqueiros. A comida que faltará na mesa dos trabalhadores estará nos bolsos e nos banquetes dos ricos e poderosos. O governo Temer junto deste Congresso de corruptos e reacionários tentam retirar o nosso direito futuro. Precisamos dar uma resposta.
Para a juventude pobre e negra a situação ficará ainda pior. Somos aqueles que ao entrar no mercado de trabalho mais sofremos com os empregos precarizados, a maior rotatividade, os ataques aos direitos trabalhistas e com as terceirizações; somos aqueles que mais precisamos de assistência estudantil; Nós negros somos a maioria que utiliza o SUS; somos aqueles que mais sofremos com o desmonte da educação pública e com a reforma do ensino médio.
Ser jovem, pobre e negro, é sinônimo de luta e resistência. Estas ações fazem parte do nosso cotidiano, temos que matar um leão por dia. As mulheres negras, por exemplo, lidam com dupla e, às vezes, tripla jornada de trabalho, com ônibus lotados, com o machismo naturalizado, e com a superexploração em seus empregos. Apesar de nossa resistência diária a burguesia tenta apagar nosso passado. Por mais que não contem nossa história, nossos Quilombos resistem. Nós somos Dandara, Zumbi, Luiza Mahin, João Cândido, somos Malês e tantos outros.
Nós, jovens negros e da periferia, lutamos para conseguir entrar na universidade, e quando entramos lutamos para conseguir permanecer e se formar; lutamos para conseguir chegar cedo à fila do posto de saúde e conseguir atendimento para nossa família; lutamos para conseguir emprego e ajudar em casa; lutamos para nos mantermos vivo diante do genocídio do povo negro e da violência policial.
O direito a vida é nossa pauta mais imediata, quantos de nós não perdemos amigos que cresceram conosco ou até mesmos familiares? Queremos viver sem o medo de andarmos na rua e sermos abordado pela polícia. Sem que nossa cultura seja criminalizada. Queremos ter o direito a sonhar com um futuro, afinal nossas vidas importam.
As novas medidas da burguesia e do governo buscam nocautear de vez com nossos sonhos e exigirá ainda mais resistência. Diante desses ataques devemos nos organizar. As ocupações de escolas por todo o país são um importante passo e exemplo de nossa força. Temos a chance de que a luta contra Temer e suas medidas ganhem fôlego novamente. Essas lutas devem se nacionalizar. Não podemos perder esta oportunidade, apesar da apatia da CUT ser nesse momento um obstáculo para a construção de uma Greve Geral.
Somente conseguindo organizar a indignação e a luta da juventude negra e precarizada, é que conseguiremos derrotar Temer e os planos da burguesia, pois afinal, a revolução será negra ou não será.
Foto: Reprodução Facebook
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