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BRASIL

A eleição em Suzano e a Frente de Esquerda

Por: Fabio Torres, de Suzano, SP

Como aconteceu por todo o país, a eleição municipal de Suzano, em São Paulo, foi pautada pela abstenção, fortalecimento da direita tradicional e desmoralização eleitoral do PT. Neste cenário, também chama a atenção a importante votação da Frente de Esquerda, que foi representada pelo candidato do PSOL, Professor Rodrigo.

Há décadas Suzano é governada por uma direita extremamente conservadora. Velhas figuras, como o deputado Estevam Galvão de Oliveira (DEM), são presenças sentidas neste pleito. Em 2000, no processo em que o PT se fortalecia nacionalmente, Estevam vence as eleições para prefeito, mas sofre a maior derrota política de sua vida. A eleição foi decidida voto a voto, uma derrota para o velho coronel que escolhia seus sucessores.

Em 2004, o então Deputado Estadual Marcelo Cândido (PT) consuma o processo que se iniciou em 2000 e vence as eleições, pela primeira vez o PT governaria a cidade. Mas os oito anos de governos do PT em Suzano tampouco significaram uma ruptura com os métodos e a política dos velhos caciques da cidade. A lógica de “governar para todos” se mostrou inviável e, na prática, significou um governo a serviço dos interesses dos ricos e da oligarquia proprietária da cidade, levando, inclusive, aos enfrentamentos com as greves do funcionalismo municipal.

Em 2012, numa eleição acirrada. O PT, na figura de Valdicir Stuani (PT), hoje coordenador da campanha de Israel Lacerda (PTB), perde a eleição para o atual prefeito Paulo Tokuzumi (PSDB), que contava com o apoio de Estevam e tinha como candidata a vice-prefeita Viviane Galvão de Oliveira (DEM).

O prefeito Tokuzumi (PSDB), o agora deputado estadual Estevam Galvão (DEM) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) garantiram, em uma visita do governador, que Suzano teria um hospital público construído com dinheiro do estado. Estamos em 2016, com uma população de quase 300 mil habitantes, com uma importante arrecadação e não temos hospital público. Tanto Lula no Governo Federal e seus apadrinhados, quanto Alckmin no Governo Estadual e seus asseclas não foram capazes de cumprir as promessas, mentiram à população Suzanense, que ainda espera por um hospital público.

Tokuzumi atualmente tem a maior rejeição da história em Suzano. A cidade está abandonada. Não há investimento em nenhuma área e há cortes de investimento em saúde, educação, cultura, entre outras áreas. Em todos os bairros, inclusive no centro da cidade, há enormes buracos nas ruas. E este quadro tende a se agravar com os ataques que Temer e cia. apresentaram, como a PL 257 e a PEC 241, que congelam investimentos nos serviços públicos.

Israel Lacerda (PTB) e Ashiuchi (PR), que disputam o segundo turno na cidade, possuem apoio de antigos aliados de Marcelo e de Estevam. Os dois possuem o mesmo programa de governo, em suma, podemos dizer que a campanha dos dois poderia ter o mesmo nome “Suzano para os ricos”.

A soma da votação dos dois candidatos é inferior ao número de abstenções (72.167), nulos (19.717) e brancos (12.779), que totalizam 37,6% de eleitores que optaram em não participar do processo. Ashiuchi (PR) recebeu 43.983 votos (31,49%) dos votos válidos. Lacerda 38.936 votos (27,87%).

O candidato a prefeito do PT, professor Luizinho, vereador há 16 anos, teve 10.484 (7,51%) dos votos válidos. Votação que fez o PT perder  vereadores e não eleger nenhum para os próximos quatro anos. Essa votação está ligada ao processo de ruptura com o PT em nível nacional, devido ao estelionato eleitoral de Dilma e os ataques aos nossos direitos, e também à campanha que a mídia faz através da operação político-jurídica Lava Jato. O PT não perde apenas os mandatos, mas sai desmoralizado das eleições municipais.

Neste cenário, a Frente de Esquerda (PSOL, MAIS, Conspiração Socialista e movimentos sociais) saiu vitoriosa. O candidato do PSOL, Professor Rodrigo Assis, obteve 1.267 votos. Para o contexto de Suzano, esta votação é muito significativa. A campanha foi feita nos bairros, nas portas das fábricas e se diferenciou das demais candidaturas.

Lacerda tentou tirar o PSOL dos debates nas rádios, mas não teve êxito. Já no debate da TV Diário, filiada da Rede Globo, lançou mão da lei antidemocrática aprovada pelo corrupto Cunha e não cederam espaço para o Professor Rodrigo. Contudo, mesmo com um pequeno espaço, a campanha da Frente aglutinou jovens, mulheres, negros e negras e lutadores e lutadoras que apostavam em uma campanha independente, coerente com as pautas populares e comprometida com a classe trabalhadora.

É preciso que a Frente de Esquerda prossiga nas lutas sociais. O primeiro desafio é se posicionar pelo voto nulo no segundo turno, pois, nem Ashiuchi e nem Lacerda tem condições ou interesse em defender o povo pobre e os setores oprimidos. O voto nulo neste contexto serve para fortalecer a luta e enfraquecer qualquer um dos vencedores nesta disputa. A única certeza em Suzano é que um partido da base de Temer governará a cidade e, consequentemente, atacará nossos direitos. O PSOL Suzano, que se posicionou de maneira bastante coerente durante toda a campanha, também deve se posicionar pela defesa do voto nulo. Há uma pressão em setores da esquerda para a defesa de Rodrigo Ashiuchi, já que o mesmo possui apoio do ex-prefeito Marcelo Cândido (PDT) e tem como candidato a vice-prefeito Walmir Pinto (PDT), ex-secretário de Cultura do PT e atualmente vereador. Marcelo e Walmir fizeram parte dos que saíram do PT nos últimos meses, não cabe qualquer confiança nestas figuras, ou mesmo ceder à lógica do “mal-menor”.

Cabe ao PSOL encabeçar esse novo momento das lutas em Suzano. Para isso precisam ser os primeiros na trincheira em defesa de nossa classe. A Frente de Esquerda deve continuar tanto para a defesa de uma política independente, dos trabalhadores e da juventude no segundo turno, mas também servindo como uma alternativa para enfrentar os ataques de temer que avançam no Congresso Nacional. O MAIS estará comprometido em construir a unidade necessária para fortalecer uma alternativa socialista à direita, seja Israel Lacerda ou Ashiuchi, e também ao projeto de conciliação de classes do PT.

*Fabio Torres é militante do Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista ( MAIS) de Suzano

Foto: Reprodução Facebook