Por Pedro Silveira, de Rio de Janeiro, RJ
Um fenômeno esportivo toma conta da cidade do Rio de Janeiro. Apesar de não poder contar com o Maracanã, entregue ao Comitê Olímpico Internacional desde o início do ano, o Flamengo disputa a nove rodadas do fim o título do Campeonato Brasileiro com Palmeiras e Atlético Mineiro. Não há dúvidas que isso seria impossível sem a presença da torcida no Brasil inteiro, além da qualidade do atual elenco.
Já no Rio de Janeiro, o que mais chama a atenção é a presença massiva da torcida carioca para receber o time no Aeroporto Santos Dumont. Foi assim para receber Diego, principal contratação do ano, foi assim por inúmeros jogos, inclusive após a eliminação na Copa Sul-Americana. Uma cena que já acontecia em menor frequência e escala pelo Brasil já virou rotina na cidade. Milhares de torcedores, em sua maioria jovens negros, se reúnem no Aeroporto sob o pretexto de receber o time para entoar em grupo os cantos de arquibancada. Uma prova de como a paixão pelo futebol extrapola o que acontece dentro de campo. É esse sentimento de pertencimento a algo maior que move nós torcedores.
É, também, um reflexo da crescente elitização do futebol enquanto espetáculo. Muitos desses torcedores presentes no Santos Dumont já estavam afastados do Maracanã bem antes do começo do ano. Construído para a Copa do Mundo de 1950, dois acontecimentos da última década são cruciais para entender seu processo de elitização. De um lado, as seguidas reformas para o Pan-Americano de 2007 e a Copa do Mundo de 2014 que diminuem drasticamente sua capacidade de público e acabam com o setor popular, a famosa “geral”. Do outro, a privatização do estádio em 2013, entregue para a Odebrecht e o grupo de Eike Batista. A submissão dos preços do ingresso à famigerada “lei do mercado” leva inevitavelmente a um aumento exorbitante em momentos favoráveis ao time. Soma-se a isso igualmente o que o jornalista da ESPN Mauro Cézar Pereira chamou de “ditadura do sócio-torcedor”, onde há acesso preferencial aos ingressos o torcedor que se dispõe a contribuir mensalmente com o clube.
Nos aeroportos do Rio de Janeiro e do Brasil ganha força o grito dos excluídos das arquibancadas do “futebol moderno”. É preciso que esse grito se torne cada vez mais um grito consciente contra essa crescente elitização. O Maracanã, assim como todos estádios do país, precisam voltar a ser nossos.
Não ao futebol moderno!
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