Por: Lucas Brito, de São Paulo, SP
No último domingo enquanto o PT perdia 60% de suas prefeituras (644 para 256), o PSDB avançava 13% (de 701 para 793) e o PMDB conquistava 1.015 municípios, se mantendo na liderança, sendo o partido que administra mais prefeituras pelo país. O bloco da direita tradicional e golpista alcançou o primeiro lugar em 23 das 26 capitais que tiveram eleição, e nas 18 disputas que seguiram para o 2º turno, 14 se darão entre candidatos do mesmo bloco. A vitória política desse setor é inegável.
E nessas eleições 26,99% do eleitorado tem até 29 anos. Ou seja, do total de 144.088.912 eleitores, 36.435.531 são jovens entre 16 e 29 anos. Desses, 2,3 milhões têm entre 16 e 17 anos, o que representa 1,60% do total de eleitores. Em 2014 esse número era de 1,14%. Contudo, apesar do crescimento do número de jovens com 16 e 17 aptos a votar em relação ao pleito de 2014, o índice, se comparado a 2012, encolheu 17%. Em 2016, 78% dos adolescentes dessa faixa etária abdicaram do título de eleitor. Já em relação às candidaturas, 99.789 têm até 35 anos, representando cerca de 20% do total de candidaturas. Em 2014 esse número era ainda menor, cerca de 15%.
No Brasil 27% da população é formada por jovens entre 18 e 35 anos, isso representa aproximadamente 35% da população que poderia concorrer às eleições. Portanto, apesar do aumento de candidaturas de jovens comparado aos últimos dois anos, a verdade é que na política institucional a nossa participação segue sendo sub-representada, enquanto que na política das ruas e praças é a protagonista.
Diante da ofensiva da direita, reforçar a unidade da esquerda
No último domingo parte importante do eleitorado que escolheu quem irá compor as câmaras de vereadores e vereadoras e as prefeituras, além dos que irão decidir destino das disputas no segundo turno, é jovem. Provavelmente muitos jovens escolheram entre candidaturas da direita tradicional e, em alguns casos, até mesmo da extrema direita.
Em meio à disputa eleitoral, o Brasil vive um dramático cenário econômico. O desemprego, o aumento das mensalidades nas universidades e escolas, a reforma do ensino médio e os cortes de gastos (como a PEC 241), os postos de trabalho cada vez mais precários e a inflação que pressiona o aumento dos preços dos transportes coletivos, dentre outros elementos, questionam o futuro de toda uma geração. A juventude é o setor da sociedade mais afetado, entre 14 a 18 anos (faixa em que a taxa de desemprego é de 38%) e de 19 a 24 anos (faixa em que a taxa de desemprego é de 23%).
As consequências dessa realidade são gravíssimas. Sem emprego hoje, amanhã estaremos com formação defasada, sem experiência e “velhos demais” para ingressar no mercado formal ou iniciar uma carreira profissional de acordo com a nossa formação. Isso nos coloca a tarefa de lutar não só pelo nosso presente, mas pelo nosso futuro e as eleições têm mostrado o tamanho dos desafios.
De olho nessa realidade de crise econômica e política no Brasil a direita se arvora como alternativa política à decadência do PT e do Lulismo e para isso buscam disputar a juventude para o seu projeto conservador e de ataques. O PMDB lançou 3.873 candidatos jovens nas eleições desse ano, sendo 148 para prefeito, 87 para vice-prefeito e 3.638 para vereador. Do total, 1.083 são mulheres jovens. Somado a isso, o MBL, um dos principais agrupamentos políticos que convocaram as manifestações pelo golpe em 2015, elegeu 8 dentre seus 45 candidatos, sendo um deles o 13º mais bem votado vereador em SP, Fernando Holiday (DEM).
Ou seja, por um lado o bloco político da direita tradicional avança para acabar de vez com nossos direitos e vontade de mudar o Brasil, querem sepultar as jornadas de Junho, a primavera feminista, as milhares de ocupações de escolas secundaristas, os 100 mil que saíram as ruas pelo Fora Temer em SP na semana seguinte ao golpe parlamentar. Querem acabar com nossa disposição de luta e nossa capacidade de acreditar que outro mundo é possível.
Para isso, eles iludem e mentem. Dizem que não são políticos, como fez Dória em SP, para fingir que não estão roubando do povo trabalhador há séculos com suas famílias que de herança em herança vai se perpetuando no andar de cima.
Mas por outro lado, há importantes demonstrações de resistência que precisamos reforçar. A juventude nesse exato momento deve abraçar com tudo a campanha do Freixo no Rio. Precisamos fazer dessa uma trincheira de luta da esquerda não só para a disputa no Estado contra Crivella e tudo o que ele representa, mas em todo o Brasil.
A juventude pode superar o petismo à esquerda
A expressão de candidaturas jovens, sobretudo oprimidas, mostra que a juventude que tomou gosto pelas ruas desde junho de 2013, que tem ocupado praças e escolas também se expressou nessas eleições.
Em Porto Alegre, Fernanda Melchiona (PSOL) foi a mais bem votada vereadora, eleita para o 3º mandado consecutivo. Em Belo Horizonte Áurea Carolina (PSOL), mulher negra, foi a mais votada vereadora dos últimos 12 anos. Em São Paulo a esquerda elegeu Sâmia Bonfim para a Câmara dos Vereadores e garantiu uma grande votação para Isa Penna, ambas jovens, feministas e do PSOL. No Rio de Janeiro David Miranda (PSOL) também foi eleito vereador. Isso sem falar das muitas candidaturas de jovens que tiveram pelo país e que refletiram as bandeiras das mobilizações populares, de jovens trabalhadores e estudantes, em especial oprimidas e periféricas, dentre elas a candidatura da Lu (MAIS) em Maceió que disputou pela legenda do PSTU.
Essas candidaturas e vitórias eleitorais mostram que os ares que fizeram milhões de jovens trabalhadores e estudantes saírem às ruas em 2013 e fazer muitas lutas de lá pra cá ainda estão em campo, em batalha.
Ao mesmo tempo, a esquerda deve refletir e se apoiar na política das ruas para superar suas velhas práticas e se reconstruir. Essas eleições mostraram que a direita tradicional joga sujo e se utiliza de muitas artimanhas. A Lava Jato e suas operações midiáticas são exemplos disso. Entretanto, é preciso que se diga que a decadência do PT e o fortalecimento dessa direita é de responsabilidade da política do próprio petismo. O PT quis governar para os de cima e os de baixo, cedendo aos interesses dos mais fortes. Hoje a mansidão do PT e PCdoB e das entidades e movimentos dirigidos por esses, como a CUT, UNE, MST diante do impeachment e a consolidação do governo golpista de Temer é um prova que estão dispostos a irem para a cova ainda bradando o discurso da conciliação. A culpa do crescimento da direita tradicional é do próprio jeito petista de governar.
Como disse Guilherme Boulos, liderança do MTST, “o PT não tem mais autoridade para ser hegemonia de esquerda”. Precisamos superar o petismo e o Lulismo e construir uma nova esquerda no Brasil. Lideranças petistas afirmam que erraram e muitos culpam a pouca capacidade de alianças que tem a esquerda pelos resultados eleitorais. Com isso, buscam englobar todos os movimentos sociais, lideranças, partidos e demais organizações de esquerda em uma grande Frente Ampla que teria a tarefa de eleger Lula em 2018.
Essa não é a tarefa da juventude brasileira. Precisamos construir novos métodos e ferramentas. A unidade da esquerda em torno da campanha do Frente é o grande exemplo do tipo de participação nas eleições que combina com as lutas da juventude, nossos anseios e práticas. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que nossas lutas e sonhos não cabem nas urnas, câmaras de vereadores e prefeituras, é nas ruas que fazemos política.
Portanto, cabe à juventude trabalhadora e estudantil, periférica e oprimida, por meio de suas lutas, reconstruir a esquerda nas lutas e nas eleições.
Foto: Reprodução Facebook
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