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MOVIMENTO

Meus 30 anos e a extensão da juventude

Por: Vinícius Zaparoli, de São Paulo, SP

Hoje, 7 de outubro, completo trinta anos de vida. Já posso ouvir os gritos que vão me constranger no final do dia: “discurso, discurso, discurso”. Como nunca me saí bem no improviso, antecipo, aqui, algumas palavras.

O que é a juventude?
Segundo o Estatuto da Juventude, decretado em agosto de 2013, deixei de ser jovem, pessoa de 15 a 29 anos de idade, e ingressei na maturidade. Posso, agora, gozar da estabilidade de uma vida adulta plena. Só que não!

A juventude é uma fase transitória, na qual estamos não só em formação, como também em constante transformação. É o caminho da adolescência à vida adulta, quando estamos nos descobrindo.

Durante vários anos, essa passagem esteve vinculada a diversas emancipações individuais, como sair da casa dos pais, definir uma profissão, entrar no mercado de trabalho e alcançar independência econômica.

No entanto, tais mudanças estão cada vez mais distantes do horizonte da maioria dos jovens brasileiros. Está ocorrendo, arrisco afirmar, a extensão da juventude.

O presente de uma geração…
A expansão do ensino superior e do emprego formal, vivida nos treze anos de governos petistas, não foi seguida por um aumento dos salários, da qualidade dos serviços públicos e dos direitos sociais e trabalhistas.

Ao contrário, presenciamos, em nosso país, uma crescente precarização do trabalho da juventude, faixa social que ocupa os piores postos de trabalho, que são, muitas vezes, temporários. O período de crescimento econômico não melhorou, significativamente, as condições de vida dos jovens brasileiros.

Não se pode esquecer, igualmente, que nossa juventude, além de explorada, é oprimida. A diversidade é a marca dessa geração, que é LGBT, mulher e negra. E, por isso, luta diariamente pelo direito à vida, contra as agressões, o genocídio, o assédio, o estupro e tantas outras barbaridades.

Somos milhões de jovens que trabalham e estudam, ou melhor, trabalham para poder pagar os estudos e estudam para melhorar de emprego. Somos aqueles obrigados a aceitar empregos em funções não condizentes com a nossa formação profissional e acadêmica.

Para sair da casa da família, só compartilhando aluguéis caríssimos com amigos na mesma situação. Eu, por exemplo, moro com um amigo, uma amiga e o seu filhinho de sete anos. Aliás, é mais dura ainda a realidade das jovens mães, que precisam se multiplicar para estudar, trabalhar e criar os filhos, quase sempre sozinhas.

…que está com o futuro em risco
Porém, tudo pode piorar. Se a nossa vida já estava complicada nos últimos anos, a resposta dos governos à atual crise econômica está ameaçando diretamente o futuro da juventude brasileira.

Nunca é demais lembrar da Medida Provisória 665, aprovada em 2015 pela então presidenta Dilma, que restringiu o acesso ao seguro-desemprego dos jovens trabalhadores, com pouco tempo de carteira assinada.

Agora, o ilegítimo governo Temer quer aprovar a PEC 241, que visa congelar os investimentos nas áreas sociais pelos próximos vinte anos. Vem por aí, com certeza, mais uma rodada de sucateamento da educação pública, aprofundando a crise do FIES, do PROUNI, das escolas e universidades.

A juventude é, inquestionavelmente, uma das camadas da população mais vulneráveis ao ajuste fiscal e à crise econômica. Atualmente, existem mais de doze milhões de desempregados no Brasil, perto de 12% da mão-de-obra disponível. Entre os mais jovens, o índice é mais que o dobro da média geral, chegando a 25%.

Reconquistar os sonhos roubados
O prolongamento da juventude gera uma vertigem social e psicológica, pois é acompanhada de uma grande instabilidade pessoal, familiar e financeira. A transição à vida adulta é interrompida e muitos projetos são frustrados.

A sociedade capitalista contemporânea é muito cruel, pois cobra de nós, ao mesmo tempo, o vigor físico de um jovem saudável e a estabilidade material de um adulto bem-sucedido. Quem não se equilibra entre ambas as exigências, acaba desmoralizado e infeliz.

Dessa encruzilhada, não se pode sair, penso eu, por meio de uma perspectiva individual. É preciso compreender que os problemas enfrentados não são resultado das nossas escolhas, muito menos do destino, são produto de determinações políticas e econômicas.

Portanto, o simples esforço pessoal pode ajudar, porém não vai resolver. Ele acentua, na verdade, a concorrência entre nós. A solução deve estar no engajamento coletivo. O futuro de cada um está intimamente ligado ao de toda geração.

Vamos ocupar as ruas e as redes sociais com as nossas reivindicações e reconquistar, juntos, os sonhos que nos foram roubados.

Marcado como:
juventude / PEC 241 / temer