Por: Gustavo Linzmayer, de São Carlos, SP
Na madrugada do dia 2 para o dia 3 de setembro, centenas famílias ocuparam o Horto Florestal de Itirapina (SP), na região de São Carlos. Nas primeiras semanas, já eram mais de 900 famílias e o movimento ganhou grande repercussão local e nacional. Estabelecido, em plena época de eleições, em uma região de condomínios de luxo, o acampamento rapidamente despertou a ira dos poderosos da região.
Foi iniciada uma grande campanha de calúnias contra os sem terras, que incluía acusações de incêndios na floresta e de destruição da natureza. São mentiras que podem ser rebatidas facilmente, pois os menos interessados em se indispor com a população e a colocar em risco a própria integridade do acampamento eram as famílias lá instaladas. Além disso, na área se encontra uma enorme monocultura de pinhos, que prejudicam o solo e produzem uma resina altamente inflamável, colocando a região em risco. Esses pinhos são utilizados para a extração, por empresas. Para completar, de acordo com a lei estadual 249 de 2013, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), coloca o terreno a venda. Todos os fatos demonstram que é uma área em que a produção é desejável.
As pressões contrárias aos sem terras levou o governo estadual (PSDB), com apoio do prefeito de Itirapina e de São Carlos, a entrar com pedido de liminar, concedida pelo poder judiciário, para reintegração de posse. Na terça-feira (4), um efetivo de 170 policiais da região, incluindo a tropa de choque, foi mobilizado para executar a ordem. Não houve resistência e as famílias foram levadas para outra área, em Itirapina, onde aguardam a liberação para se instalarem em um local onde possam produzir.
Diante da sinalização do governo estadual da intenção de privatização do Horto, o movimento trouxe a tona o estatuto da terra (lei 4504 de 30 de novembro de 1964), que estabelece o dever do estado de garantir terras para quem nela vive e produz, em detrimento do latifúndio e da concentração.
A campanha para que a área não seja utilizada pela produção familiar, no entanto, aglutina interesses de diversos setores que mantém a histórica dominação de uma minoria no país: a especulação imobiliária local não quer um assentamento sem terra em sua vizinhança, a empresa que extrai madeira não irá abrir mão da matéria que utiliza, os grupos interessados na compra da terra querem manter a oportunidade de negócio, os prefeitos locais buscam apoio das classes ricas enfrentando o movimento e, por fim, os latifundiários repudiam a ideia do florescimento de um movimento que mostre que a luta pela reforma agrária é possível e segue.
Para apoiar as famílias de Itirapina é importante construir uma contra narrativa à versão difundida pelos empresários e políticos contrários à justa distribuição da terra. O foco do movimento é, mesmo depois da reintegração, o Horto de Itirapina. É de grande importância que a forma como essa área vem sendo negociada seja questionada e seu espaço seja destinado á reforma agrária. Isso abriria boas perspectivas para o movimento pela reforma agrária. É preciso ampliar as forças e os argumentos que coloquem na ordem do dia do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA – a compra desse terreno pela União, para a produção familiar dos que lá lutam.
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Campanha de calúnias atinge Sem Terras no Interior de São Paulo
Foto: VC no G1
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